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RESENHA: A GEOGRAFIA ISTO SERVE EM PRIMEIRO LUGAR PARA FAZER A GUERRA

Por:   •  7/10/2018  •  6.649 Palavras (27 Páginas)  •  1.529 Visualizações

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Yves Lacoste diz em sua obra que a geografia existe a muito mais tempo do que os universitários e os professores acreditam. As grandes expansões coloniais, as grandes expansões marítimas da Europa no séc. XIV e XV, não seriam geografia? Indaga o autor. Eles não teriam se apropriado de ferramentas geográficas para realizarem essas expansões? Até mesmo na idade média, os grandes geógrafos árabes não utilizavam ferramentas geográficas? Desde que foi criado o Estado como detentor do poder, a geografia existe, segundo Lacoste “A geografia existe desde que existem os aparelhos de Estado, desde Heródoto (por exemplo para o mundo “ocidental”) (...)” (pág. 26). Porém, só a partir do séc. XIX que a geografia se transforma em disciplina, entra no currículo escolar e acadêmico/universitário. Mas mesmo assim, a parit do séc. XIX, a geografia do estado-maior e dos militares, continua existindo e existe até os dias atuais, pois o saber geográfico era e é ainda hoje o poder de poucos, segundo o autor.

A geografia dos oficiais era utilizada para as táticas de guerra. A geografia dos dirigentes dos aparelhos do Estado, utilizadas no espaço e a geografia dos exploradores, com as conquistas coloniais. A geografia do estado-maior é quase que imperceptível, segundo Lacoste, para aqueles que não a executam, por isso suas informações continuam não sendo divulgadas. Um exemplo de que a geografia serve para fazer a guerra foi a guerra do Vietnã, onde os Estados Unidos atacaram precisamente os dicks que protegiam as províncias vietnamitas densamente povoadas e para tal eles precisavam de cartas e do conhecimento ao interpreta-las. Outro exemplo foi a guerra da Indochina, onde pela primeira vez a deformação dos elementos geográficos estavam presentes no contexto dos acontecimentos.

O segundo capítulo, que tem como título “Da geografia dos professores aos écrans da geografia-espetáculo”, é introduzido pelo autor abordando as duas vertentes supracitadas: a geografia dos estados-maiores e dos militares (a mais antiga) e a geografia dos professores e da escola/universidade. A geografia dos professores aparece como uma ciência que enumera os elementos geográficos, onde só é exposto e não é explicado. De todas as disciplinas, segundo Lacoste, ensinadas na escola, a geografia é a única que não possui uma aplicação fundamentada, é a única que aparenta ser desnecessária no currículo escolar. Essa geografia, segundo o autor, oculta a sua função principal e verdadeira, que é a geografia dos militares e do estado-maior. Mas os professores não realizam essa ocultação consciente, eles passaram por um processo acadêmico e só reproduzem o que aprenderam e ainda existem países cujos quais a geografia não faz parte do currículo acadêmico, como exemplo os Estados Unidos e da Grã-Bretanha, ou seja, não é interesse do Estado que a grande massa entenda como o sistema funciona, como eles são divididos e como estão sob o poder do Estado. Yves Lacoste encerra o segundo capítulo abordando a questão do turismo. O turismo se apropria da geografia como uma forma de ganho em massa, sem ao menos saber que está utilizando a geografia. As pessoas se apropriam de mapas para desenvolverem o itinerário das férias e não sabem lê-los e interpreta-los corretamente, não sabem a real importância que aquela carta possui.

O terceiro capítulo da obra possui o título “Um saber estratégico em mãos de alguns”. Yves Lacoste começa o capítulo três falando dos mapas reservados à minoria dirigente e ele dá o exemplo dos Estados comunistas, como a União Soviética, onde os estudantes de geografia e os estudantes em geral não possuíam acesso a nenhuma carta e nenhum mapa do globo e principalmente da sua região e, enquanto isso, os Estados capitalistas faziam com que os estudantes tivessem acesso a esse tipo de informação e os militares também, sobretudo acesso ao mapa do território “inimigo” o que facilitava a largada na frente na Guerra Fria. Os países de terceiro mundo, por exemplo, na época das colônias, tinham vendas de cartas livres e hoje são interditadas essas vendas por causa das tensões sociais, segundo Lacoste. Hoje não é interessante para o Estado, para quem controla a sociedade, a disponibilidade de cartas em abundância, pois nos casos de guerra urbana, nos países em que existem esse tipo de confronto, a população não possuiria o plano da cidade e consequentemente não teria como desenvolver estratégias. Nos países onde existe democracia, as cartas circulam livremente, porém sem nenhum propósito já que uma minoria sabe realmente interpreta-las, segundo o autor, pois “Cartas, para quem não aprendeu a lê-las e utilizá-las, sem dúvida não têm qualquer sentido, como não tem uma página escrita para quem não aprender a ler” (pág. 38). As grandes firmas capitalistas, segundo Yves Lacoste, têm como poder o estudo do espaço em prol da obtenção do lucro. O desinteresse para com a geografia, não só na leitura de cartas, mas na geografia como um todo, faz com que a sociedade fique na mão dessas grandes firmas capitalistas e do sistema em si.

O quarto capítulo, que tem como título “Miopia e sonambulismo no seio de uma espacialidade tornada diferencial”, começa com “É preciso, pois, procurar quais podem ser as causas da miopia, dessa falta de interesse em relação aos fenômenos geográficos e, sobretudo, compreender por que o significado político escapa geralmente a toda gente (...)” (pág. 41). Ou seja, é feito um recorte histórico pelo autor, no cerne da questão, para que se possa tentar entender como começou o desinteresse pela ciência geográfica. No sistema feudal, os aldeões conheciam os espaços que viviam, afinal de contas eram terrenos relativamente pequenos. Porém a corte, juntamente com os militares, sentia a necessidade de se expandir e expandir o conhecimento acerca do território e foi nessa época onde começou a concentração do saber geográfico. Então, segundo Lacoste, a sociedade atual é mais ou menos consciente em relação à sociedade feudal, porém continua míope. Naquela época, percorria-se o seu próprio território a pé e encontravam-se os pontos de referência sem dificuldade. Hoje, no caso, trata-se de distâncias bem maiores que as pessoas percorrem, por exemplo quando alguém percorre a distância entre o trabalho e sua residência, porém provavelmente não conhece o território percorrido.

No capítulo quinto, que possui o título de “A geografia escolar que ignora toda a prática teve, de início, a tarefa de mostrar a prática”, Yves Lacoste começa explanando que a razão de existir da geografia deveria ser de instrumentalização para cada sujeito conseguir olhar e ler o espaço cujo qual está inserido e suas múltiplas

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