Resenha do texto "Por que a guerra"?
Por: eduardamaia17 • 23/9/2018 • 2.814 Palavras (12 Páginas) • 432 Visualizações
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O intenso desejo de poder que caracteriza a classe governante em cada nação é hostil a qualquer limitação de sua soberania nacional. Essa fome de poder político está acostumada a medrar nas atividades, de um outro grupo, cujas aspirações são de caráter econômico puramente mercenário [...] ( FREUD, Vol. XXII, pág. 194)
Ainda seguindo suas reflexões sobre a guerra e tudo o que a circunda, o Físico reconhece outro contraponto: Porque esta minoria consegue dobrar a vontade da maioria, a qual se conforma em sofrer ou até morrer numa situação em prol da ambição de poucos?
Parece que uma resposta óbvia a essa pergunta seria que a minoria, a classe dominante atual, possui as escolas, a imprensa, e, geralmente, também a Igreja, sob seu poderio. Isto possibilita organizar e dominar as emoções das massas e torná-las instrumento da mesma minoria. (FREUD, Vol. XXII, pág. 195).
Complementando, ainda, todo o ponto complexo e crucial, Einstein afirma que o desejo de ódio e destruição inerente ao homem é um enigma que só um profundo conhecedor da Ciência dos instintos humanos pode resolver. Uma vez que o condicionamento ao qual as massas são submetidas por parte das instituições, aparelhos religiosos ou de comunicação não pode se constituir numa explicação suficiente, é preciso, insiste Einstein, que haja no homem a presença de uma necessidade de odiar e de aniquilar. O que pensa a esse respeito "o conhecedor das pulsões humanas?" Este especialista conhece um meio de dirigir para outros objetivos estas pulsões negativas? Existe um meio de canalizá-las e de dar aos homens a possibilidade de resistir a elas?
Sei que nos escritos do senhor podemos encontrar respostas implícitas ou explícitas a todos os aspectos desse problema urgente e absorvente [...] ( FREUD, Vol. XXII, pág. 195).
Freud responde a carta baseado nas premissas do ensaio “O Mal-Estar na Civilização” (1930) no qual encontra-se presente a idéia fundamental da contradição existente entre os progressos trazidos pela Civilização em troca da coerção exercida sobre os transbordamentos pulsionais dos homens e as frustrações vividas pela mesma razão por cada um deles, assim privados de toda ou de parte das satisfações que teriam podido retirar da realização de seus objetivos pulsionais, fossem eles quais fossem. Ainda com base no ensaio, Freud fala da agressividade, da violência, da felicidade (que segundo ele, não existe) e da constante luta entre as pulsões humanas (vida e morte). Aproximadamente em setembro de 1932, Sigmund Freud responde ao “prezado professor Einstein”, declarando ter sido pego de surpresa acerca da indagação: “O que pode ser feito para proteger a Humanidade da maldição da guerra?” Em princípio, entendeu ser o assunto do domínio de estadistas, e pontuou que Einstein formulou a questão não como cientista, mas na qualidade de filantropo, solicitando, portanto, a ele, Freud, uma resposta-abordagem a partir da Psicanálise, enfatizando ser a guerra consequência das “pulsões”, do ódio e do desejo de destruição e que a sociedade vive em constante transformação da violência.
O pai da Psicanálise considera-se lisonjeado, no entanto, incapaz de responder a tais questionamentos de maneira efetiva. O seu ponto de partida para uma investigação detalhada é a relação entre direito e poder. Freud imagina uma “situação ideal” que para ele seria uma comunidade humana que tivesse subordinado sua vida de instintos ao domínio da razão. O pensamento Freudiano ensina que os seres humanos são incitados à guerra por diversos motivos, entre eles o desejo de agressão e destruição, e que a satisfação desses impulsos destrutivos seria facilitada por sua mistura com outros motivos de natureza emotiva e idealista. Freud enfatiza que, se o desejo de aderir à guerra é um efeito do instinto destrutivo, a solução será contrapor-lhe o “eu” antagonista mais poderoso: Eros, o instinto (pulsão) de vida. Nesse ponto, portanto, a Psicanálise fala de amor e Freud relembra o Novo Testamento: “Ama a teu próximo como a ti mesmo” e que nesse momento “os homens partilham seus interesses e produzem comunhão de sentimentos”. O autor de O Mal-estar na Civilização (1930) propunha que era necessário um cuidado com a educação dos homens de mentalidade independente, educação essa que não deveria ser baseada na coação ou na intimidação, embora para ele esse ideal educacional fosse uma utopia. Freud problematiza a questão do poder e nas primeiras páginas da carta-resposta sugere a substituição da palavra “poder” por “violência”, afirmando que uma se desenvolveu da outra.
Em relação ao poder, Freud também assemelha-se a Hobbes, assim como Einstein na questão do Governo soberano e absoluto. Na visão de Freud, o passo cultural decisivo, no âmbito das relações entre homens, foi justamente a substituição do poder do indivíduo (o mais forte submete-se ao mais fraco) pelo poder da comunidade (que institui regras ao indivíduo). Esta linha de raciocínio corrobora as teorias de Hobbes sobre a necessidade de homens se organizarem em governos e sociedades. No Leviatã, o filósofo inglês fala de um “estado natural” no qual cada homem tinha direito a tudo e satisfazia seus desejos de forma plena (o homem primitivo). Por isso havia um estado permanente de guerra de todos contra todos e vencia o mais forte. Com o passar do tempo, o homem com o intuito de garantir uma existência tranqüila e acabar com a insegurança de ataques a todo momento, concedeu parte de sua liberdade individual (o que, segundo Freud, seria a repressão de impulsos e desejos sexuais) a uma autoridade inquestionável, que iria garantir a paz e a defesa comum – o Governo. No homem primitivo a superioridade dos membros vinha da força muscular, sendo esta logo substituída pelo uso de instrumentos. Vencia quem tinha maior habilidade nos manejos ou quem possuía melhores armas. Já introduzida as armas, a força maior passou a ser a intelectual. Apesar de épocas e forças diferentes, o objetivo era o mesmo: poder. Ainda nesta seara, Freud aponta um caminho que se estendia da violência ao direito ou à lei. Que caminho era este?
Penso ter sido apenas um: o caminho que levava ao reconhecimento do fato de que à força superior de um indivíduo podia-se contrapor a união de diversos indivíduos fracos (L’union fait La force). A violência pode ser derrotada pela união e o poder daqueles que se uniam representava, agora, a lei em contraposição à violência de um indivíduo só. Vemos assim que a lei é a força de uma comunidade. (FREUD, Vol XXII, pág. 199).
A comunidade, então, deveria permanecer organizada instituindo autoridades para
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