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O ESTUDO GEOGRÁFICO DO CLIMA NO PERÍODO ANTROPOCENO: Questões teóricas, tendências e contribuições atuais.

Por:   •  16/5/2018  •  3.511 Palavras (15 Páginas)  •  336 Visualizações

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Há, porém, aqueles que acreditam estarmos vivendo no período Antropoceno, entretanto, a discussão está em torno de uma data. Sobre tais datas, o Grupo de Trabalho do Antropoceno aponta uma que abrange desde as grandes extinções de mamíferos até o início da agricultura e a sua expansão; a revolução industrial, a partir do século XIX após o desenvolvimento das máquinas de vapor e que iniciou o aumento de dióxido de carbono na atmosfera; e o período após a Segunda Guerra Mundial a que se chama “a grande aceleração”, caracterizados pelo aumento exponencial de população, a agricultura intensiva com uso de adubos, as grandes emissões de dióxido de carbono, a produção de plásticos e emissão de isótopos radiativos devido aos testes de bombas nucleares.

Diante dessas três possíveis datas, a equipe defende que do período Antropoceno inicia-se em 16 de Julho e 1945 - período da “grande aceleração” – marcado pelos primeiro depósitos estratigráficos. Contribuindo com o debate, Steffen et al (2007) demarcam quatro períodos na história: um pré-Antropoceno, anterior à revolução industrial; uma primeira fase do Antropoceno, de1800 a 1945; uma segunda fase, de 1945 a cerca de 2015; e uma terceira, com início em 2015, com a adoção de resoluções políticas relativas ao aquecimento global.

Cunha (2015), baseados nos estudos de Adorno e Horkheimer (1985), aponta o conceito do Antropoceno contraditório, pois se a “época geológica dominada pelo homem” leva a uma situação na qual a existência do próprio homem pode estar em jogo, há algo de muito problemático com uma forma de dominação da Natureza que a reduz a um “substrato de dominação”, e que deve ser investigado. “A sua premissa básica, de que é ‘dominada pelo homem’, deve ser questionada, afinal, deve haver algo de inumano ou objetivado em um tipo de dominação cujo resultado pode ser a extinção humana.”

O autor menciona que o Antropoceno aparece, portanto, como a “perturbação globalizada” dos ciclos naturais globais e vale ressaltar que não é uma perturbação planejada, intencional ou controlada, mas como um efeito colateral não intencional do metabolismo social com a Natureza que parece cada vez mais fora de controle.

A esse respeito, Cunha (2015) explica o ciclo do carbono, a queima de combustíveis fósseis, que é levada a cabo como fonte de energia para sistemas industriais e de transporte. A extração em massa de carvão que começou na Inglaterra durante a Revolução Industrial, de maneira que, com essa nova fonte de energia móvel, as indústrias puderam se deslocar da proximidade das quedas d’água para as cidades onde se encontrava a força de trabalho (CUNHA, 2015). Destarte, o autor afirma que não houve intenção alguma de manipular o ciclo do carbono ou causar um aquecimento global. Porém a concentração de dióxido de carbono atmosférico já está além do limite de segurança para o desenvolvimento humano de longo prazo.

São os casos das áreas de florestas que estão diminuindo para atender a demanda de madeira e a demanda de espaço para a agricultura e a pecuária. Espécies invasoras substituem a vegetação original. O mal uso do solo provoca erosão, salinização e desertificação. A poluição dos rios diminui a disponibilidade de água doce e provoca a mortandade de peixes. Lagos, como o mar de Aral, estão diminuindo ou secando para atender aos interesses da irrigação. (UNEP, 2012).

A contaminação química e os agrotóxicos matam indiscriminadamente a vida terrestre e aquática. Aquíferos fósseis estão desaparecendo e os aquíferos renováveis não estão conseguindo manter os níveis de reposição dos estoques. A vida nos oceanos está ameaçada pelo processo de acidificação. Os mangues e corais estão sendo destruídos a uma taxa alarmante. Aumentam as taxas de perda da biodiversidade (medida da diversidade de organismos vivos presentes em diferentes ecossistemas), com a elevação da degradação dos ecossistemas e a extinção da vida selvagem. O aumento das emissões de gases de efeito estufa estão provocando o aquecimento global, tendo como consequência o derretimento das geleiras e das camadas de gelo, provocando escassez de água potável e o aumento do nível dos oceanos. As áreas produtivas da Terra diminuem, enquanto crescem os aterros para receber o crescente volume de lixo e resíduos sólidos. (UNEP, 2012).

No que concerne as tendências e contribuições climáticas para o Brasil, Marengo e Valverde (2007) fazem um estudo desenvolvido durante os últimos 50 anos, baseados em evidências observacionais a partir de modelos climáticos do Quarto Relatório de Avaliação das Mudanças Climáticas (IPCC-AR4).

Segundo os autores, para o Brasil, alguns cenários de alterações climáticas são destacados, como: eventos El Niño-Oscilação Sul (Enso) mais intensos; secas no Norte e Nordeste e enchentes no Sul e Sudeste; diminuição de chuvas no Nordeste; aumento de vazões de rios no Sul e alteração significativa de ecossistemas como o mangue, Pantanal e Hileia Amazônica.

De acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC, 2007), até o fim deste século, a temperatura média da Terra pode subir de 1,8ºC até 4ºC, e essa alta pode chegar a 6,4°C; o nível dos oceanos vai aumentar de 18 a 59 centímetros até 2100; as chuvas devem aumentar em cerca de 20%; o gelo do Pólo Norte poderá ser completamente derretido no verão, por volta de 2100; o aquecimento da Terra não será homogêneo e será mais sentido nos continentes que no oceano e o hemisfério norte será mais afetado que o sul.

Os autores fazem uma análise dos cenários de clima do futuro (até 2100) para o Brasil como um todo e para regiões como Nordeste, Amazônia e Bacia do Prata. Eles mencionam que, na bacia do Prata, mesmo com a tendência de aumento da chuva no futuro, as temperaturas elevadas do ar comprometeriam a disponibilidade de água para agricultura, bem como consumo ou geração de energia, por causa de um acréscimo previsto na evaporação ou evapotranspiração.

Em estudo mais recente, Marengo ratica dados de 2007 no que diz respeito às chuvas, os estudos mostram diferentes tendências para algumas regiões, apesar de, em outros, haver grande confiabilidade, como para a Região Sul do Brasil e a Bacia do Prata, onde as chuvas vão aumentar, e o leste da Amazônia e o Nordeste, onde haverá redução. As chuvas tendem a diminuir durante o século XXI, sendo as reduções mais intensas no Nordeste (2-2,5 mm/dia) e na Amazônia (1-1,5 mm/dia). Para todo o Brasil, as projeções indicam aumento da temperatura e de extremos de calor, bem como redução na frequência

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