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Departamento de Geografia: Geografia Urbana

Por:   •  20/1/2018  •  5.152 Palavras (21 Páginas)  •  408 Visualizações

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Segundo BEAJAU(1997),o homem transformou certos elementos do meio segundo as suas possibilidades,as suas necessidades,ou ainda a sua ideologia;inversamente,pode ter sido obrigado a adaptar-se a certos imperativos do meio.Essas transformações impostas pela comunidade refletem o poder que a mesma possuía,agora o homem era um agente da produção do espaço.

Entretanto a apropriação do espaço era apenas um dos critérios para que as cidades se concebessem. Somente a partir do momento em que as comunidades passam a produzir um excedente alimentar, é que há a possibilidade de uma desvinculação de parte dos membros desta das atividades ligadas à produção alimentar (SINGER, 1988, p.7). Na maioria dos casos, o excedente alimentar era resultado do avanço de técnicas de cultivo ou criação de animais as quais possibilitavam uma produção que excedia a demanda de alimentos da comunidade. O excedente também proporcionava o aumento da população, pois a possibilidade da escassez de alimentos, levando à fome e epidemias a ela ligadas diminuíam.

Ainda que o excedente alimentar tenha desligado algumas pessoas das atividades agrícolas, essa não era uma condição suficiente para o surgimento das cidades. Para que as cidades pudessem ser concebidas era necessária a criação de instituições sociais, assim como a relação de dominação e exploração exercida entre classes sociais (SINGER, 1988, p.9).

Com a necessidade de se manter os espaços uma vez apropriados, havia a necessidade de que houvesse alguém responsável pela segurança das aldeias, a qual ficou à cargo do caçador.No momento em que as comunidades passaram a se assentar e produzir elas próprias seus alimentos,a figura do caçador perdeu em parte sua importância,sendo reconquistada posteriormente com a crescente necessidade de proteção das aldeias contra possíveis ameaças externas (SPOSITO,1988,p.15).

A relação de dominação veio a ser dada a partir da diferenciação do trabalho. Os membros da comunidade que agora não faziam mais parte das atividades de produção alimentar ofereciam serviços aos produtores, como exemplo disso: a segurança oferecida em primeiro momento pela figura do caçador. Logo, o caçador passou a exercer seu poder apropriando-se do excedente alimentar em troca de seus serviços. Portanto, fica evidente a extinção da igualdade das atividades executadas na comunidade. Consequentemente através da força, a figura do caçador tomou para si o papel de chefe da aldeia, sendo este um inicio da sociedade de classes.

Com a transferência do excedente alimentar garantida pela imposição de um poder dominante exercido pelas classes livres das atividades produtivas,as condições que possibilitavam o surgimento da cidade estavam estabelecidas,como afirma Singer(1988) em seu texto:

“(...) a existência da cidade pressupõe uma participação diferenciada dos homens no processo de produção e de distribuição, ou seja, uma sociedade de classes. Pois de outro modo, a transferência de mais-produto não seria possível.”

3.As cidades

É importante ter em mente que a cidade sendo um ponto no espaço não era concebida de forma aleatória, mas sim derivada de certa escolha da apropriação do espaço (assim como já se vinha sendo feito nas aldeias). Isso quer dizer que o espaço tem grande influência na maneira que a cidade será produzida, portanto a escolha do mesmo para sua criação é de grande importância. Essa escolha do espaço deriva das necessidades e das funções esperadas da cidade: de defesa, de troca, de produção industrial, etc. (CORRÊA, 2004, p.317).A ocorrência das primeiras cidades se deu próxima à rios,tendo portanto suas localizações determinadas por estes.

A cidade em seu principio, desempenhou um papel de ponto seguro, no qual o comércio pode se ancorar, isto é, um local no espaço onde os produtores de mercadoria e alimentos de aldeias diferentes podiam trocar seus produtos. A cidade culminou em um ponto de encontro desses territórios, das diferentes culturas e de pessoas as quais passaram a ser agentes da produção do espaço urbano. Logo, a cidade não se trata de um produto resultante das atividades comerciais. Como SOUZA (2003) apresenta em seu livro; A cidade é, primordial e essencialmente, um local de mercado. Apesar de nem todo “local de mercado ser uma cidade”.

Em contrapartida, ao mesmo tempo em que as cidades são concebidas, o campo também o é. Tanto campo quanto a cidade, nada mais são do que a divisão materializada do trabalho sobre o território. Distinguindo-se da cidade por suas atividades econômicas que ali eram exercidas, o campo abrigava a agricultura, a pecuária e o extrativismo enquanto na cidade começava a surgir uma nova classe de produtores. Com o passar do tempo, o campo passa a produzir em função da cidade, buscando cada vez mais comerciar o seus excedentes pelos produtos urbanos.

Essas primeiras cidades eram organizadas de forma que as principais instituições administrativas, isto é, as instituições que detinham o poder se localizassem em seus centros, oferecendo maior proteção a estas assim como facilitando a dominação (SPOSITO,1988,p.20).Logo,a produção do espaço urbano era dado pelos interesses das classes dominantes,vinculados às necessidades de manutenção do espaço que as atividades urbanas requisitavam.

Utilizando o mesmo mapa apresentado pela professora Maria Encarnação Sposito em seu livro:Capitalismo e Urbanização,podemos visualizar a forma com que as cidades antigas se organizavam,no caso a cidade da Babilônia.Algumas características que chamam a nossa atenção nesse tipo de organização urbana,são os muros que rodeiam a cidade,assim como a grande presença de templos e instituições religiosas,construções essas que simbolizavam o poder das classes dominantes.Os canais que transferiam água do rio Eufrates para localidades mais afastadas deste também são de grande importância,mostrando o quanto a expansão da cidade era possível apenas quando dada a disponibilidade de água.As instituições administrativas tomavam para si as partes mais internas da cidade,por questões de segurança assim como de dominação do espaço, como já foi dito.

[pic 1]

Fonte: BENEVOLO, Leonardo: História da Cidade.

Enquanto as classes dominantes se abrigavam no interior dos muros, fora deles se alojava os trabalhadores e servos assim como os produtores de alimentos os quais viviam construções diferentes das que viviam as classes dominantes, mostrando já uma diferenciação econômica entre a população.

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