Pensamento político brasileiro na primeira república
Por: Hugo.bassi • 19/7/2018 • 1.846 Palavras (8 Páginas) • 373 Visualizações
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Ao se falar na instabilidade social que assolava o Brasil durante o período da primeira república, não podemos deixar de citar a obra de Euclides da Cunha “Os Sertões” que foi tido um marco na literatura pela profunda repercussão na vida cultural e intelectual na sociedade da época, onde visava retratar as perspectivas positivistas e cientificistas do fim do império e o início da República, buscando renovar as mentalidades até então encontradas no país. O autor discorre em sua obra sobre a guerra de Canudos, um importante acontecimento dentro da República brasileira que aconteceu interior do nordeste brasileiro, sendo conhecida como dos maiores conflitos sociais envolvendo a luta das populações pobres pela posse da terra. As principais causas deste conflito estão relacionadas às condições sociais e geográficas da região. As características geográficas e as condições sociais do Nordeste brasileiro formavam um conjunto de fatores geradores de um estado de permanente conflito e revolta social. Toda aquela região era composta de latifúndios improdutivos, que eram grandes extensões de terra pertencentes a poucos proprietários.
Dessa forma, o autor se beneficiou dessa onda renovadora para angariar sua obra e usar seus escritos para discorrer sobre a vida rural e sertaneja, mais que isso, Euclides buscou estruturar uma obra que falasse sobre a formação social brasileira e os desafios sociais que a estrutura republicana enfrentaria pelo caminho.
Como diz Walnice Nogueira Galvão, a repercussão do livro, na época do lançamento, alcançou as dimensões de um grande mea-culpa nacional. Transformou a guerra de Canudos em um emblema das desigualdades e injustiças sociais da nação, obrigando "a atenção do país a se voltar para aquela que é a sua realidade profunda". Em nome de uma luta da civilização contra a barbárie, o exército da República esmagou os pobres fanáticos do interior.Os acontecimentos da guerra sertaneja viriam a ecoar longamente na história brasileira, tornando mais frágeis e duvidosas as convicções liberais e modernizantes que as elites aprenderam nas preliminares da República.” (WEFFORT, 2006)
Em suma, a obra de Euclides da Cunha foca inicialmente na descrição do Sertão, o local onde será desenvolvido o enredo. Aponta para aspectos da paisagem desde o relevo, a fauna, a flora e o clima árido. Segundo ele, a paisagem do local distante do litoral, indica a exploração do homem durante anos.
Já na primeira parte da obra, o autor discorre sobre os habitantes do local, o sertanejo e o jagunço, os quais fazem parte dessa paisagem. Sendo assim, nesse primeiro momento, apresenta uma região separada geográfica e temporalmente do resto do país, alienada assim da realidade política e social que foi trazida pela estrutura republicana que estava sendo instaurada no país.
Na segunda parte da obra intitulada como“O Homem”, Euclides enfoca sobretudo, na descrição do sertanejo, do jagunço e do cangaceiro, bem como na resistência do povo em relação à terra, analisando, por conseguinte, a figura do líder do Arraial de Canudos, Antônio Conselheiro, sua genealogia e objetivos. Antônio Conselheiro era tido como uma espécie de mártir pelos seus seguidores dentro da comunidade de Canudos, e em meio a pobreza e o misticismo que rondava a vida sertaneja, o Conselheiro atraía seguidores pela mera aparência de penitente: magro, a barba e o cabelo compridos, vestido com um camisolão azul.
Nesse momento da obra, notamos o determinismo racial, já que Euclides abrange as questões raciais que englobam o índio, português, negro, também formadas por sub-raças, o mestiço. Sendo, portanto, o homem o fruto do meio em que vive.
Na Terceira parte da obra “A luta”, o autor descreve os embates que ocorreram entre o sertanejo (considerados os bandidos do sertão) e o exército nacional do Brasil. Aborda sobre as quatro expedições realizadas pelo exército nacional, enviados para destruir o Arraial de Canudos, que contava com cerca de 20 mil habitantes. A história termina com o trágico desfecho e a destruição de Canudos pela forte repressão causada pelos policiais para com aquele lugarejo.
Com isso, podemos perceber que Euclides da Cunha visa propor uma reflexão sobre a formação do povo brasileiro, trazendo para nós outro olhar sobre a república brasileira que começara a se formar. Como dito por Weffort:
“Os sertões podem ser lidos como uma metáfora de uma mudança das elites que formavam uma consciência nacional desde inícios do século XIX e que passaram, lentamente e com não poucas dificuldades e desvios, a se reconhecer como parte de um país mestiço, rústico e primitivo, extremamente desigual” (WEFFORT, 2006)
Com esta obra o Brasil ganhava uma das suas mais importantes reflexões sobre a identidade nacional. O escritor que no início da obra, tinha um viés positivista e acreditava na república, é o mesmo que denuncia a dor, a fome e a barbárie que encontramos no decorrer do livro causada pela própria república. “Os sertões” mais que construir uma história que acabaria se tornando uma espécie de matriz referencial para a interpretação de Canudos, foi um ponto importante para discussões intelectuais no final do século.
- Conclusão
Esse trabalho teve por intuído traçar uma reflexão sobre o pensamento político da República brasileira, os seus principais aspectos e como ele foi composto. Dessa forma, podemos traçar um paralelo sobre como todo esse processo histórico de desenvolvimento político da primeira república influenciou nossa atual conjuntura política. Além do mais, é de fundamental importância a conexão entre o primeiro período republicano e a obra de Euclides da Cunha “Os Sertões” que trazem à tona as características desse regime político instaurado no país nesse período: um regime autoritário, com resquícios de pensamentos monárquicos.
Referências Bibliográficas:
AMBROSINI, Diego Rafael; FERREIRA, Gabriela Nunes. Os juristas e o debate sobre “país legal” e “país real” na República Velha. In: Os juristas na formação do Estado-Nação brasileiro (1850-1930). São Paulo: Editora Saraiva, 2010, p. 271-80.
FREYRE, Gilberto. Euclides da Cunha. In: FREYRE, Gilberto.
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