O que é Antropologia?
Por: Sara • 29/4/2018 • 7.416 Palavras (30 Páginas) • 295 Visualizações
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Uma abordagem e não um objeto específico
Podemos dizer que o que essencialmente diferencia a Antropologia das outras Ciências Sociais é sua abordagem, sua prática metodológica e não objetos de estudo específicos, como se acreditava no século XIX (que o objeto de estudo seria as chamadas "sociedades primitivas").
Uma das características importantes da Antropologia é a prioridade dada à experiência de campo ou à observação direta dos comportamentos sociais. Na Observação Participante, ocorre a integração e certa identificação do pesquisador com o grupo estudado, sendo impossível que o antropólogo saia ileso desta experiência. A partir do contato com uma cultura diferente e do diálogo com ela, ele questionará sua própria identidade cultural.
A Antropologia se detém em fenômenos sociais não escritos, não formalizados, mas naquilo que é cotidiano no nosso comportamento e que nem ao menos nos damos conta. Por isso, considera o imprevisto e não se preocupa com um planejamento de pesquisa rígido, pois este imprevisto pode ser muito mais revelador do que a formalidade de um questionário. Por exemplo, se estou estudando a discriminação racial em uma sala de aula, é muito mais importante minha atenta observação do comportamento das pessoas envolvidas do que com perguntas objetivas do tipo: "Você se considera uma pessoa racista?". Vocês acham que eu conseguiria atingir respostas verdadeiras com esta minha suposta objetividade?
A Antropologia tem se detido no estudo das condutas habituais, dos resíduos, das minorias.
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Objetos de estudo e a abordagem antropológica
Não existem objetos de estudo proibidos, temos pesquisas ligadas às sociedades complexas e modernas. Por exemplo, a pesquisa Culturas Empresariais Brasileiras: estudo comparativo de empresas públicas, privadas e multinacionais realizada com a coordenação do antropólogo Guillermo R. Ruben da Unicamp, cujo objetivo era identificar aspectos brasileiros e sua influência na gestão e processo produtivo e as diferentes identidades entre empresas públicas, privadas e multinacionais. No caso das últimas, revelou, por exemplo, que não podem e não devem ser impermeáveis à brasilidade.
Um estudo de caso feito em um banco gerenciado por japoneses demonstrou que a administração sobrepunha as culturas japonesa e brasileira, tentando manter intocada a cultura nipônica num quadro de 60% de funcionários brasileiros. Isso acarretou problemas no relacionamento entre funcionários, para a administração e, inclusive, para os resultados de desempenho financeiro.
Este estudo demonstra que as organizações complexas, como empresas, podem ser objeto de estudo da Antropologia. Esta área de estudo tem sido denominada por Antropologia das Organizações e mostra a viabilidade de usar conceitos clássicos da Antropologia para o mundo moderno. Os pesquisadores envolvidos com o projeto demonstraram a convicção de que em quaisquer agrupamentos humanos as relações acontecem pautadas em referências culturais e que o antropólogo pode auxiliar com o estudo delas.
É importante dizer que devemos investigar a totalidade das características do grupo que estudamos. Tudo o que observamos é importante e não somente a temática estudada. Nas palavras de Marcel Mauss: "o homem é indivisível e o estudo do concreto é o estudo do completo", constitutivos da realidade social e que devem ser apreendidos pelo pesquisador. "Após ter forçosamente dividido um pouco exageradamente [...] é preciso que os sociólogos se esforcem em recompor o todo". (MAUSS apud LAPLANTINE, 1987, p. 90).
Uma das tarefas do antropólogo é, portanto, abordar a totalidade dos fenômenos sociais que apresentam significações complexas. Nesse sentido, a utilização da pesquisa menos diretiva possibilita aprofundar os aspectos inconscientes dos comportamentos sociais.
Um pouco mais sobre a abordagem antropológica
Como foi dito na aula anterior, existem algumas preocupações ou características inerentes à abordagem antropológica. Uma delas refere-se à necessidade de nos descentrarmos daquilo que nos é tão habitual em nossa cultura. É preciso que nos descentremos para comparar e comparar para que nos descentremos. Simples, não? Parece simples, mas nem tanto, pois desde que nascemos, carregamos uma série de valores e comportamentos tão arraigados que nos distorce a visão do outro. No entanto, relativizar esta postura é extremamente necessário para evitarmos uma visão simplista das outras sociedades ou, pior, uma análise etnocêntrica.
Para que possamos identificar o que é específico e o que é variável nas culturas e na cultura humana, devemos nos aproximar e nos impregnar lentamente do(a) grupo/temática estudado(a), compreender a lógica de funcionamento de cada cultura e, finalmente, a partir da comparação, percebermos a estrutura comum na espécie humana.
Outra especificidade da Antropologia é aceitar que toda sua produção está contextualizada na época e cultura do pesquisador, tanto na escolha do tema de pesquisa quanto na elaboração do seu trabalho. Isso não tira, em hipótese alguma, o caráter científico deste conhecimento. Pertencer à determinada cultura e época deve ser um instrumento de conhecimento e não obstáculo.
Para corroborar com o argumento mencionado, podemos citar o Evolucionismo, que no século XIX produziu uma teoria para explicar a diversidade cultural totalmente voltada para o contexto de conquista colonial. Podemos citar ainda o Funcionalismo, que tomou emprestado diversos conceitos das ciências naturais, pois estas eram consideradas mais avançadas. Por enquanto, vamos ficar nessas teorias apenas como exemplo, pois nos aprofundaremos nelas em aulas seguintes.
O importante é ressaltar que o discurso antropológico não está livre do seu contexto social ou do contexto social do pesquisador. Há interferência da época e da cultura específica às quais o pesquisador pertence tanto em relação ao tema escolhido quanto à produção do resultado do estudo, o que não tira o seu caráter científico.
Além disso, você pode distinguir, mas não dissociar o observador do seu objeto de estudo em nome de uma objetividade sempre relativa. Outra característica marcante da Antropologia é observar o outro e, consequentemente.
A Antropologia e suas interfaces
Uma
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