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O camelódromo da uruguaiana: visão antropológica

Por:   •  20/4/2018  •  1.519 Palavras (7 Páginas)  •  265 Visualizações

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"Oi. Qual aparelho aí é barato e desbloqueia tudo?" Pergunto ao rapaz no estande.

Ele diz o nome de alguns aparelhos, falando preços que variavam de R$300 a R$600 "e mais a instalação", ele completa. Digo que já tenho a NET em casa e ele diz que para a net nem precisa instalar "é só colocar o aparelho e pronto. Já vai configurado". Agradeço e digo que vou dar mais uma olhada. E o que não falta são opção de barracas para dar olhada. Em todas as quatro quadras do camelódromo, as lojas com aparelhos piratas de TV são uma constante.

Na barraca logo em frente a primeira que eu fui, funciona um pequeno estande de conserto de telefones celulares. Um homem concentrado usava máquina de solda em um aparelho enquanto um rapaz por volta dos 20 anos aguarda aquele que possivelmente era o seu aparelho fica pronto desde suposto conserto.

Já no estande ao lado desses, bem maior, muitos e muitos jogos de videogame. Uma placa gigante anuncia "desbloqueio de Xbox 360". Algumas caixas de videogame e de seus assessórios também completam o ambiente. Sobre o balcão, uns três ou quatro clientes olham os produtos e conversam com os uns dois atendentes.

Prossigo pelo corredor vejo mais estandes de conserto de celular, um no estilo tabacaria, alguns com produtos eletrônicos como aparelhos de som em formatos pequenos e assessórios de celular e um curioso estande que vende exclusivamente chapéus.

Os corredores, mesmo a esse horário da manhã, são bastante cheios, mas nada impossível de andar. Não raro, o simples fato de passar em frente aos estandes é um sinônimo de ouvir as pessoas nos balcões te falarem algo tipo "está procurando algo? Posso ajudar?" Etc.. O atendimento é realmente amistoso e confortável.

Pego o celular para fazer alguns registros em vídeo e foto e então, saio do ambiente naquele dia. Na saída do camelódromo, ouço novamente todos aqueles gritos.

E resolvi prestar atenção no rapaz dizendo "Pramil cartela é 10. Pramil cartela é 10" aí eu pergunto ao rapaz do que se trata e ele "é igual viagra, pô. 10 a cartela. Vai fazer amor a noite inteira sem parar" diz ele rindo. Também rio e agradeço e sigo meu rumo. Reflito que deveria ter aprofundado mais as minha perguntas às pessoas naquele local e resolvo que no dia seguinte voltaria ao local, para tentar conseguir informações mais a fundo sobre a "cultura" do local com as próprias pessoas ali presentes.

No outro dia, retorno ao local e vou a um estande de conserto de celular onde havia um rapaz aparentando uns 25 anos sentado. Assim que passo em frente, ele me pergunta "posso ajudar em algo" e digo, rindo "sim. Estou fazendo um trabalho pra faculdade e queria fazer algumas perguntas. Juro que não sou polícia!". Ele também ri e logo responde "olha, se tem uma coisa que não falta aqui é policia". OK, vi que deu pra quebrar uma barreira e que ele toparia falar comigo sobre ali. Curiosamente, ele que pergunta primeiro: "e aí, o que você quer saber". E eu digo que quero saber o nome dele e a quanto tempo ele está ali.

Me responde apenas com um apelido e prossegue: "Sou o Gaúcho. Mas na verdade eu sou Carioca mesmo. Tô nessa tem uns anos já. e antes que você pergunte, sim, a gente usa coisa roubada mesmo"

Acredite que foi um golpe de sorte. Eu nem havia cogitado entrar nessa perspectiva foi foi um excelente ponto: o camelódromo é um lugar que gira em torno da ilegalidade em diversos aspectos.

Tanto não demonstrar susto com essa resposta dele, mas não tenho nenhuma reação. Apenas questiono "tudo roubado pra consertar? E a polícia fica sabendo?" e a resposta dele é rápido "aqui é quase tudo de polícia, cara", diz rindo. Chegam uns clientes no estande querendo saber preço pra consertar a tela de um iphone e ele responde. Aí ele me diz "pô, anota meu whatsapp e vamo conversando por lá, pra ficar melhor". Achei ótima a ideia de saí do meu segundo dia no camelódromo.

No mesmo dia, a noite, chamo o gaúcho no Whatsapp e peço pra, se possível, ele me falar novamente e áudio sobre ele. Aí, ele dá uma resposta mais completa. Diz que estava no negócio há uns 5 anos. Entrou porque cansou de trabalhar com Telemarketing e um vizinho dele tinha uns estande no local. Por volta de uns 3 meses lá, já tinha aprendido tudo sobre o conserto de aparelhos. Então, o dono do local resolveu abrir uma outra loja em Madureira e aquele ali acabou ficando pra ele.

Também novamente que sim, eles utilizam materiais roubados para fazer esse conserto e que os policiais sabem de tudo, já que muitos deles são até mesmo donos dos estandes. Segundo Gaúcho, eles pagam valores que variam de 80 a 100 reais por cada telefone “pego” e uns 200 se for um iPhone.

Desses aparelhos que retiram as peças necessárias para consertar. Até faz um discurso de que isso favorece as pessoas mais pobres, já que nas autorizadas, os consertos seriam bem mais caros e ali, as pessoas poderiam estar pagando por algo que não poderiam. Faz questão de

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