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CORPO E TRANSEXUALIDADE: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO FILME A PELE QUE HABITO

Por:   •  18/4/2018  •  4.468 Palavras (18 Páginas)  •  395 Visualizações

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O debate sobre esse assunto é extenso, de um lado um grupo de pesquisadores que apostam nesse estudo o futuro da humanidade e a solução ao combate de doenças que poderiam ser evitadas antes mesmo do nascimento humano e outros alegam do perigo que pode causar, por não saberem das consequências dessa pesquisa, temem o que possa acontecer no futuro com homens geneticamente modificados, que podem causar tumores e até a morte precoce. Mas esses são apenas alguns pontos de uma gama de argumentos que exploram esse assunto.

Dando sequência ao diálogo, o Presidente assume que essa ideia passa por sua cabeça, e a impressão que ele dá é que ver com bons olhos sobre essa possibilidade, mas em nome da ética, não excitaria em denunciar o Dr. Robert a comunidade científica, ou seja, as regras sobrepondo-se a crença, terminando sua fala dizendo “a bioética é absolutamente clara a esse respeito”.

A discussão do filme se passa na região da Espanha, Toledo, em 2012. Corbin, Courtine e Vigarelo ( 2008)[2], já abordava em sua pesquisa sobre esse assunto e cita que em 1847, Claude Bernar fez da experimentação um sinônimo de progresso médico, e afirmou que essa resistência não é atual e descreve “ A literatura atesta, porém uma resistência social recorrente à empreitada experimental dos médicos” e complementa:

“Os juristas reagiram contra as intervenções abusivas dos médicos no “corpo” da sociedade e constantemente apuseram ao esoterismo da ciência o lembrete da lei: o código civil, que nada sabe de pesquisa cientifica, pode no entanto, servir para qualificar as responsabilidades envolvidas no exercício ordinário e o extraordinário de uma profissão, mesmo que seja medicina”

No entanto, foi no século XX, em vista das esperanças geradas pelas novas terapias – vacinas e soros por volta de 1900, extratos de órgãos, como insulina e hormônios, depois de 1920, dorgas antifeccionais, do savasan ( contra a sífilis) às sulfanilamide (1930) e aos antibióticos ( penicilina, 1942, estreptomicina, 1947) – que os médicos vão conseguir que se adote oficialmente a doutrina legal de sua “obrigação de meios” e não de resultados.

Na película o protagonista cria um novo corpo, transforma o corpo de um sujeito e o define em oura pele, e o que a princípio começou com um motivo de vingança, ao longo do roteiro, vê-se mais do que isso, transformando seu intento vingativo em êxtase e finalmente atração. O corpo torna-se o verdadeiro protagonista do filme.

As discussões sobre o corpo e suas mutações sempre geraram discussões, O texto Corbin, Courtine e Vigarelo ( 2008), coloca que cada ser humano não é igual um ao outro, conhecendo seu destino que é único e coloca o corpo com parte dessa aventura. Voltando a 1935, testemunha da crise do pensamento europeu, Edmund Husserl, pregava uma racionalidade que compreendesse a unidade do corpo e do pensamento e a explorasse em suas operações concretas. E ainda nesse século XX, o código civil ignorava o corpo e não conhecia senão a pessoa abstrata.

“A partir desse momento, a individualidade da pessoa estaria ligada à integridade de um corpo que o direito procura definir, regulamentar e proteger: proclamando extrapatrimonial e inalienável mesmo por seu possuidor. O corpo passou a ser reconhecido como sujeito de direitos e deveres, em relação com as técnicas que lhe permite dar novos usos. Inclui nesses usos a possibilidade de realçar ou até evoluir a aparência dele por meio de cirurgias plásticas, em busca de uma adequação maior da imagem corporal à verdade da pessoa”. Corbin, Courtine e Vigarelo ( 2008)

Não se pode abordar o termo – corpo – sem nos referirmos a obra de Foucault (2001)[3] - Os anormais- que tem como ponto de partida o que ele vem a denominar de “monstro humano”, figura que representa não apenas uma violação das leis da sociedade, mas uma violação das leis da natureza, que interroga tanto o sistema médico como o sistema judiciário, o qual relata, entre outros casos, datado de 1614 a 1615, a história de um hermafrodita , batizado por Marie Lemarcis que tinha se casado com uma viúva, por isso foi levado a juízo, e submetido a exames cujo o resultado dado por dois peritos que não havia sinal de virilidade , salvo o perito de nome Duval que reconheceu esse sinal. Em decorrência disso, Marie foi condenada a não ter mais relação sexual. Fato esse, segundo Foucault, importante pela contradição da análise de dois médicos, Riolan, renomado medico, autor de vários livros e que constatou a não virilidade em Marie, e Durval, como já dito acima, foi de contra a opinião daquele.

E foi justamente através desse segundo médico, que Foucault chamou atenção para o que poderíamos chamar de primeiros rudimentos de uma clínica da sexualidade.

Ao contrário dos exames tradicionais da época, Durval praticava um exame minucioso com palpação e sobretudo descrição detalhada, em eu relatório, dos órgãos tais como os encontrou, uma vez que os textos eram sempre descritos em sua conformação global, falava dos órgãos sexuais em geral e com grande reserva de vocabulário.

O corpo é objeto de estudo em várias obras, Foucault, em sua análise sobre o corpo do século XVI conclui que o pecado da carne mora no interior do próprio corpo e conclui “é o corpo e todo os efeitos do prazer que nele tem sua morada”

Na obra de Almodovar, o seu protagonista e suas intervenções no corpo de Vicente que posteriormente se transforma em Vera, o Diretor inverte o processo de transexualidade do qual costumamos a presenciar, qual seja, primeiro a vontade depois a transformação. Na história, Vicente, heterossexual, identidade de gênero masculina, biologicamente nascido homem, tem seu corpo violado e seu gênero modificado de forma violenta, sem consentimento para um corpo feminino. Numa visão ficcional é como se arrancassem sua alma e a colocasse em outro corpo. A consequência desse ato para a personagem será discutido mais adiante, aproveitaremos o recorte da transexualidade para explorarmos alguns pontos sobre o assunto.

3. TRANSEXUALIDADE: DESFAZENDO OS PARADIGMAS.

Antônio Banderas, na pelo do Dr. Robert, começa uma jornada para reinventar o corpo do seu antogonista, Vicent é transformado em Vera, uma transexual e fruto de experimentos. No cenário atual sobre esse tema, Elizabeth Zambrano[4], em seu texto: Transexuais: identidade e cidadania, introduz dizendo que falar de transexuais é abrir a porta para um mundo desconhecido

A transexualidade ainda é considerada um transtorno de identidade de gênero pela Classificação Estatistica Internacional

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