CONSTRUINDO O ROTEIRO DE ENTREVISTA NA PESQUISA EM REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: COMO, PORQUE, PARA QUE.

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Já na questão da linguagem que devemos utilizar na elaboração das perguntas podemos seguir por duas correntes: Na primeira ressalta-se que é fundamental utilizar uma linguagem que se aproxima do contexto natural no qual o fenômeno se manifesta. Na segunda se defende que a espontaneidade não é uma garantia de ampla revelação das representações, podendo mesmo ter, ao contrário, o efeito de encobri-las, mas para alguns teóricos a entrevista deve ir além da espontaneidade, em direção a aspectos que não podem ser ditos, ou seja, eles defendem a ideia de que, em certas situações, para certos objetos, exista uma zona muda de representação social.

A zona muda é composta por elementos da representação que são “contra normativos”, ou seja, cognições normais de produção, pois podem entrar em conflitos com valores morais ou normas do grupo. Para conseguir revelar os elementos da zona muda de representação é preciso aplicar métodos específicos as investigação, como é o caso da técnica de substituição e descontextualização normativa. A técnica de substituição baseia-se na ideia de que um sujeito poderá exprimir representações “proibidas ao seu grupo” atribuindo-as a outra, isto é, falando por outros, mas o outro deve ser relacionado ao grupo de referencia do sujeito. A técnica de descontextualização normativa, consiste em manipular o receptor das respostas do sujeito, ou seja refere-se a uma condição na qual o entrevistado pensar estar respondendo a uma pesquisador que não pertence ao seu grupo de referencia em relação ao objeto.

Outro aspecto que o estudo enfatiza é que as questões de definição devem ser evitadas, visto que este tipo de questão não possibilita ter acesso às suas representações. Propõe-se então que as perguntas devem ser formuladas de mod ao deixar lugar para os julgamentos de valores. Assim o sujeito deve perpassar por três níveis de representações: as imagens mentais, as representações referenciais e os sistemas de relação.

Depois de tudo que foi discutido o roteiro de entrevista deve ser capaz de rastrear a dimensão da atitude por meio de questionamento que permitam que o sujeito expresse suas escolhas e decisões, e capte as posições dos sujeitos diante das situações do cotidiano relacionadas ao objeto estudado.

ARTICULANDO TEORIA E PRÁTICA NA ELABORAÇÃO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA

Para se entender melhor como se constrói um instrumento de pesquisa, se apresenta nessa categoria, um modelo de elaboração de roteiro, tendo como referencia um estudo desenvolvido no campo da saúde, que mostra as RS dos enfermeiros que trabalham na assistência ao cliente e sobre a tecnologia inserida neste cenário.

Tendo em vista que as representações sociais são uma modalidade de conhecimento pratico, o instrumento das perguntas devem tratar de elementos do cotidiano práticos dos indivíduos que se inter-relacionam com tais eventos, assim buscando compreender os aspectos que definem as representações. Exemplo: Como é para você trabalhar em um setor como este, de alta tecnologia?

Sabendo que as RS são uma forma de conhecimento social, mostra-se a necessidade do instrumento de tentar acessar as condições de produção da representação sócia, ou seja, que é o sujeito, de onde vem e de onde falar, o que instrui seu pensamento e ação. Exemplo: dados pessoais (sexo, idade, religião).

Em relação ao conteúdo que define a representação, é fundamental que se tenha perguntas adequadas que mostrem os elementos que compõe o campo da representação, ou seja, informações, imagens, opiniões e atitudes. Exemplo: Você acha que a tecnologia influencia no cuidado prestado ao cliente crítico?

Uma vez que o grupo exprime seus contornos e sua identidade pelo sentido investido na representação, o roteiro precisa conter perguntas que ajudem entender o grupo no sujeito e o sujeito no grupo. Ex: Como é ser enfermeiro em um setor com alta tecnologia?

Em ultimo caso, deve-se abortar a zona muda em um roteiro de entrevista. Exemplo: O que você acha que as pessoas pensam sobre um setor de alta tecnologia?

MAPEAMENTO DAS RS A PARTIR DA ENTREVISTA: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A ENFERMAGEM

A TRS vem ocupando um espaço importante na psicologia social, pois vem se destacando com uma teoria explicativa da realidade. Assim, cada vez mais profissionais da saúde coletiva e enfermagem têm se utilizado do referencial teórico das RS em suas pesquisas, partindo não somente a respeito das doenças, mas também sobre as questões em torno do cuidado. A enfermagem, então, vem trazendo importantes elementos teóricos que contribuem para o avanço da teoria.

Com isso, a TRS tem utilidade não apenas para a compreensão das nuances do processo saúde-doença, mas também para entender elementos relacionados à profissão, estando no contexto histórico-social, entendendo a dinâmica de suas práticas.

No processo de mapeamento das RS, entende-se que são resultantes de um diálogo permanente entre indivíduos, que é tanto interno quanto externo, e durante o qual as representações individuais ecoam ou são complementadas. Então as contribuições da entrevista, no intuito de proporcionar que o pesquisador consiga ter acesso a esse diálogo incessante dos sujeitos, sobre os fenômenos de interesse da saúde.

CONCLUSÃO

O estudo foi proposto para identificar representações sociais, pensando, portanto numa elaboração de roteiro de entrevista a qual deve ser estruturado