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A ralé brasileira: quem é e como vive - Capítulo 12

Por:   •  20/10/2018  •  1.305 Palavras (6 Páginas)  •  515 Visualizações

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entre todos os agentes da escola a respeito de cada aluno, criando uma espécie de currículo que acaba por estigmatiza-lo.

A MÁ-FÉ DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

Ao falar sobre a má-fé institucional, Lorena Freitas faz referência a um padrão de ação institucional que se articula em dois níveis: o nível do Estado e o nível do micropoder. No nível do Estado, o principal problema identificado pela autora é a seletividade do sistema, que é histórica: de acordo com a educadora e historiadora Otaíza Romanelli, no Brasil colonial apenas uma minoria de donos de terras tinha acesso à educação, em contraposição a uma ralé composta por agregados e escravos condenados à exclusão. A independência política alterou muito pouco esse quadro, juntando-se aos donos de terra uma pequena camada intermediária. A partir de 1930, a intensificação do processo de urbanização começou a modificar a demanda social por educação, forçando o Estado a ampliar a oferta de educação. Contudo, o alto grau de seletividade do sistema “peneirava” a maior parte da população que nele ingressava (de um lado havia o ensino médio público destinado quase que exclusivamente às camadas médias e altas, de outro havia o ensino fundamental e o chamado sistema paralelo de ensino profissional, este último muito procurado por classes populares. Contudo, poucos eram aqueles que conseguiam concluir o ensino fundamental, e menos ainda eram aqueles que ingressavam no ensino médio). Atualmente o ensino fundamental é praticamente universalizado, porém, o que se observa é que a exclusão deixou de ser qualitativa e quantitativa para ser somente qualitativa: “uma vez que não consegue problematizar as condições sociais de produção dessa classe de “indignos”, a instituição escolar, ao se deparar com aqueles que não possuem essas disposições que garantem a “dignidade” dos indivíduos, age operacionalmente, no dia a dia, de forma completamente destoante daquela que propõem oficialmente”.

No nível do micropoder, a autora defende que “As relações corriqueiras entre os indivíduos dentro da instituição já são previamente determinadas pela posição desses indivíduos na hierarquia social”, e é esse fato que permite que professores pequeno-burgueses se utilizem da ideologia do mérito para transvestir sua indignação diante da ralé que “não se esforça o suficiente” para ter sucesso. “Esse pertencimento de classe explica também a substituição do ressentimento pequeno-burguês pelo desinteresse e sentimento de impotência ou pelo envolvimento pessoal e engajamento político manifestados por muitos professores provenientes de classe média”, fazendo com que reine nas escolas um mal-estar e desânimo coletivo, pois, por mais que se esforcem, esses profissionais de educação não conseguem lutar contra a força contrária que advém da própria instituição, sendo a própria instituição a responsável pela violência simbólica que parte dos professores dispensam aos seus alunos.

A conclusão à qual Lorena chega não podia ser mais esclarecedora: “é a existência da ralé enquanto classe que, embora não seja percebida como tal, estrutura de fio a pavio a nossa sociedade que podemos atribuir o grande sucesso e alcance da má-fé institucional entre nós”. Como explicitado nos exemplos de Anderson e Juninho, a crueldade da má-fé institucional está em garantir a permanência da ralé na escola sem inclui-la efetivamente no mundo escolar, visto que sua condição social e a própria instituição impedem que se construa uma relação afetiva positiva entre criança e conhecimento.

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