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A Identidades e Representações no deserto do hiper-real de Matrix

Por:   •  10/12/2018  •  1.164 Palavras (5 Páginas)  •  365 Visualizações

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“Ao contrário do Mito da Caverna de Platão, Neo deve, ao ser libertado dos grilhões/cabos que fixam/plugam sua visão/mente na parede/tela da caverna/matrix, não emergir para o mundo luminoso das ideias puras e eternas, mas descer aos esgotos de um mundo devastado, para o mundo real e sombrio que se opõe à atmosfera clara e brilhante da Matrix. Trata-se da escolha entre o ‘deserto do real’ e o oásis da simulação.” (MASSAGLI, 2008)

E o tornar-se real se relaciona diretamente com o conhecer o real; são dois aspectos que catalisam a discussão filosófica do filme, na medida em que Neo só se torna o que realmente é, ou seja, Neo, não Thomas, quando incorpora duas dimensões do conhecer: a afetiva e a cognitiva.

O filme rompe com o discurso unívoco do pensamento racional moderno, pois discute o conhecimento de maneira inseparável da pergunta pelo real; aniquila a separação entre corpo x alma, eu x mundo, sujeito x objeto, ativo x passivo etc. Para Neo, então, é preciso atravessar o caminho, já que conhecer o caminho não é suficiente, é preciso trilhá-lo. Este caminho é a travessia necessária entre os dois mundos, a mediação. E essa mediação se dá através da forma como representamos o mundo, portanto conhecimento e representação são inseparáveis.

Outro conceito de um teórico da pós-modernidade que podemos identificar em Matrix é a modernidade líquida de Bauman. Segundo ele, na sociedade líquida, as instituições, referências, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se firmarem; empregos, relacionamentos, costumes etc se tornam e tendem a permanecerem instáveis, voláteis, flexíveis, em fluxo constante – ou melhor, inconstante. Essa liquidez aparece em Matrix por meio das figuras de prédios se diluindo, vidros que derretem e, claro, na ideia de fluxo e de fluidez que permeia todo o filme: os personagens transitam a todo o tempo entre o mundo “real” e o “virtual”.

A discussão entre o que é real e o que não é já estende há algum tempo e, com a velocidade cada vez maior com que as tecnologias vem se desenvolvendo, provavelmente ainda durará bastante. A não ser que, como afirma o grupo formado por cientistas, artistas e filósofos do Vale do Silício (EUA), denominado The Extropy[1], as máquinas realmente tomem consciência e substituam os humanos dentro dos próximos 30 anos. E então, talvez, dentro de algum simulacro...

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Ética Pós-Moderna. São Paulo: Ed. Paulus, 1997.

DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. A Thousand Plateaus – Capitalism and Schizophrenia. University of Minnesotta Press, 2000.

FRANCO, Edgar. Será o Pós-humano? Ciberarte & Perspectivas Pós-Biológicas. Disponível em: http://www.antropologia.com.br/colu/colab/c33-efranco.pdf.

MASSAGLI, Sérgio Roberto. Identidades culturais no deserto do hiper-real no filme Matrix. Estudos Linguísticos, São Paulo, 37, set.-dez. 2008, pp. 371-378.

The Matrix (Matrix), Direção e roteiro: Lana Wachowski e Lilly Wachowski, produção: Joel Silver, Distribuição: Warner Bros. EUA, 1999.

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