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O TEATRO GORKIANO ILUMINA E AQUECE O INVERNO CAMPONÊS

Por:   •  3/4/2018  •  1.507 Palavras (7 Páginas)  •  268 Visualizações

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Mas durante o festival, o cansaço e o frio aumentavam a tensão entre os educandos. Era penoso montar a cada sábado um novo espetáculo, os desentendimentos surgiam, mas tudo acabava rápido, porque sabiam que o público estaria de volta no próximo fim de semana, ávido por uma nova peça. Um dia, Karabanov revoltou-se:

— Mas o que é que eu sou? Contratado? Na semana passada, fiz um sacerdote, nesta, um general, e agora me dizem para representar um guerrilheiro. O que é que eu sou, afinal? Feito de ferro? Toda noite, ensaios até as duas da madrugada e no sábado é um tal de empurrar mesas e martelar cenários...

Era preciso contar com a participação de todos, para não acontecer de alguns poucos educandos assumirem toda a carga de trabalho. Por isso, Makarenko dispensou a leitura e memorização individual dos textos: não havia tempo para copiar os textos para todos. Ele dirigiu os ensaios como ponto, lendo em voz baixa o texto que deveria ser dito e orientando o que deveria ser feito. Rapidamente, os gorkianos foram pegando gosto e aprendendo a memorizar rapidamente, improvisando e criando em cena quando o colega falhava, sem que o público notasse. A maior dificuldade encontrava-se no universo feminino. Muito reprimidas, as meninas tinham vergonha de pisar no palco, de encenarem cenas em que fossem abraçadas ou beijadas. Apenas Lievtchenko e Nastia se saíam melhor e tiveram que encenar a maior parte das peças. Por isso mesmo, a atividade teatral era um bem também para a coletividade: colocava em cena, em público, as pessoas que geralmente se acostumaram à vida privada. O número de meninas da colônia também era menor que a necessidade de atrizes em cena, forçando a coletividade a pedir a colaboração das educadoras e conhecidas, como a filha do moleiro. A chegada de duas educandas mais extrovertidas, Oksana e Rakhil, deu sangue novo na encenação das peças mais românticas: beijavam com tanta naturalidade e entusiasmo que faziam o público suspirar.

A revolução cultural inaugurava um novo tipo de experiência em que todos poderiam ser atores e se beneficiar da experiência estética da arte dramática. Questionavam-se preconceitos, criavam-se novos conceitos, abriam-se novas perspectivas de vidas compartilhadas, um companheirismo nascido na convivência cultural. Por isso, era um teatro diferentes, não exatamente um teatro-arte, um teatro profissional Era mais uma expressão da arte-educação, criando um entusiasmo de educandos e educadores pela criação cultural e uma aproximação do público camponês e operário. Esse teatro, que nasceu das entranhas da coletividade e que se expandiu para o meio social onde viviam, tinha a marca de cada um dos educandos, com sua origem de meninos e meninas que sofreram as atrocidades da exclusão social e que se reintegravam como cidadãos soviéticos. Por isso, em todas as cenas que os personagens deveriam encenar um almoço ou um jantar, um coletivo especial preparava os pratos para que os atores comessem de verdade.

Esse novo teatro comemorava com um forte realismo as conquistas da nova vida coletiva. A luta contra a fome e a vitória sobre ela deveria ser comemorada em cada ato em que as pessoas se alimentassem. E Makarenko se maravilhava ao ver o público saboreando com os olhos os assados, as tortas... tanto quanto os atores, que se empolgavam tanto com os banquetes que se esqueciam de continuar a encenação!

Por outro lado, as peças funcionavam também como um tipo de exorcismo da vida passada, dos dias de abandono nas ruas geladas. Em uma peça em que o ator deveria aparecer nu no palco, em um sábado de fevereiro, quando o inverno ucraniano atingia trinta graus negativos, os educadores brigaram para que a peça não fosse encenada, procurando evitar o sofrimento do menino em cena. No entanto, nem ele nem o coletivo de educandos concordaram: a cena seguiu rigorosamente as indicações do texto, congelando os dedos dos pés do ator. Ao sair do palco, os educadores correram para descongelar e aquecer o mais rápido possível aquele jovem ator gorkiano.

Retirados das ruas, os meninos e as meninas subiam ao palco para encenar as histórias dos personagens de seu país, de sua nova República Soviética, e eram aplaudidos no final de cada espetáculo como verdadeiros cidadãos, respeitados como iguais por trabalhadores do campo e da cidade.

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