O Conjunto Residencial Pruitt-igoe
Por: Carolina234 • 5/3/2018 • 1.544 Palavras (7 Páginas) • 555 Visualizações
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O complexo mostrou-se um desastre. Os ambientes comunitários, que eram dissociados das unidades, tornaram-se perigosos, logo estavam cobertos com cacos de vidro e lixo. As caixas de correio no térreo foram vandalizadas. Os corredores, saguões, elevadores e escadas eram lugares perigosos para transitar e cobertos de pichações, lixo e dejetos humanos. Os elevadores, lavanderias e cômodos comunitários foram vandalizados, e o lixo acumulava-se ao redor de dutos não-operantes.
[pic 6] Foram os habitantes do PI que, sistematicamente, vandalizaram as construções até chegar ao ponto de, em janeiro de 1970, serem tantas as janelas quebradas que fizeram com que a perda de calor provocasse o congelamento do encanamento. Os canos se romperam e causaram estragos na instalação elétrica, deixando os moradores sem luz e sem aquecimento. A essa altura, os habitantes tiveram que ser evacuados.
[pic 7] Os mais ricos abandonaram o lugar, fazendo voltar um dos problemas que impulsionaram a construção de Pruitt-Igoe – o êxodo urbano. A população de renda mais baixa não tinha a opção de sair, e, abandonada à própria sorte, foi forçada a conviver com os marginais que se moveram para o local. O complexo se tornou um antro de violência e marginalidade e seus prédios acabaram se transformando naquilo que se propuseram a acabar – as favelas.
Algumas medidas até foram pensadas para se resolver o problema, mas em 1972 o governo desistiu e os prédios começaram a ser demolidos, finalizado o processo em 1976. A destruição final dos prédios foi chamada pelo historiador de arquitetura pós-moderna Charles Jencks de “o dia em que a arquitetura moderna morreu “.
Do ponto de vista do planejamento, quais foram algumas das concepções que se mostraram erradas no projeto do PI? As concepções fracassadas da arquitetura e planejamento modernistas, bem sintetizadas pelos CIAMs, haviam sido amplamente estabelecidas, pelo menos no Ocidente. Na época do nascimento do projeto, várias tendências da cultura ocidental, incluindo a inevitabilidade do progresso na história humana e a melhora significativa na qualidade de vida, através dos vários avanços tecnológicos e científicos, deram forma ao ethos moderno. O PI simbolizava esses ideais/mitos da modernidade. Hoje, o determinismo ambiental que inspirou sua arquitetura está fortemente desacreditado e é percebido como incrivelmente ingênuo. Na época, no entanto, a noção não só era amplamente aceita como era também fundamentada em doutrinas filosóficas prestigiadas como o racionalismo, o pragmatismo e o condutivismo. Além disso, o racionalismo e o pragmatismo da arquitetura e planejamento modernos fizeram desse complexo o produto de um processo de “cima para baixo”. Com o vandalismo do PI e sua subsequente demolição, essas ideias e mitos modernistas foram postos em dúvida.
Os prédios altos do PI pareciam ótimos em teoria, mas mostraram-se inabitáveis na prática. Muitos estudos têm analisado seu fracasso e o de outros projetos similares, além de seu devastador efeito sobre as minorias, as populações pobres dos EUA. Um dos mais conhecidos exemplos é um estudo feito por Oscar Newman, na obra Defensible space (1972). Newman argumentou que a falta de ambientes semiprivados, controlados e controláveis, os corredores longos e anônimos, assim como a falta generalizada de personalidade da arquitetura do complexo PI e de projetos similares contribuíram para a maior incidência de crimes nesses ambientes do que em outros projetos urbanos de realidades sociais similares, mas com características espaciais diferentes. O estudo de Newman conclui que os residentes mantinham, controlavam e se identificavam com aquelas áreas nitidamente demarcadas como deles. Espaços compartilhados por apenas duas famílias eram bem mantidos, enquanto os corredores divididos por vinte famílias e os elevadores, saguões e escadas compartilhados por 150 famílias eram desastrosos – não evocavam sentimentos de identidade ou qualquer forma de controle. Tais locais públicos anônimos tornavam impossível que os moradores chegassem a um acordo sobre o que seria considerado um comportamento aceitável nessas áreas, ou desenvolvessem ou exercessem um sentido de propriedade, ou a capacidade de diferenciar um morador de um intruso.
Outros analistas alegaram que os projetistas erraram em não incluir no projeto informações específicas dirigidas aos futuros moradores, aos bombeiros, policiais, entregadores e responsáveis pela manutenção. Se os clientes e os projetistas do PI tivessem “modelado” os usuários, e então utilizado tais usuários no processo de projeção, a construção poderia ainda existir até hoje. Incluir o grupo apropriado de usuários no processo de criação de um projeto é crucial para o gerenciamento de risco do projeto (Gause & Lawrence, 1999). De acordo com essas noções amplamente aceitas no planejamento, a incorporação de futuros usuários e a adoção de critérios de espaço defensivo em projetos podem não somente reduzir o índice de criminalidade e estimular o reinvestimento privado como também promover e manter a integração econômica e racial, além de contribuir para criar uma forma barata de produzir moradia popular.
Referencias:
REIS, Sarah. Pruitt-Igoe & Prophecies – Profecias da modernidade reduzidas a pó. Disponível em: http://obviousmag.org/musica_ao_longe/2015/02/pruit-igoe-prophecies-falsas-profecias-de-prosperidade-reduzidas-a-po.html.
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