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O filme as vantagens de ser invisível numa visão Psicanalítica

Por:   •  2/11/2018  •  3.650 Palavras (15 Páginas)  •  233 Visualizações

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“a amizade surge com um papel decisório. Ela representa um investimento libidinal considerável e terá um papel fundamental nos novos caminhos a serem percorridos pelo adolescente. Ela ocupará um lugar que fora outrora dos pais. A amizade é, então, idealizada e não poderia ser de outra forma.” (p.33)

Ao entrar em uma escola nova, no ensino médio, ele se depara com múltiplos grupos de estudantes distintos, e se encontra na difícil tarefa de encontrar algum para se integrar, e ser aceito também. Nesse processo, o filme representa diversas situações problemáticas recorrentes no contexto do atual adolescente contemporâneo. Uma das primeiras problemáticas que identificamos, embora não abordada diretamente pelo filme, é o bullying que ocorre com os alunos novatos da escola, que provavelmente se estende a outros grupos no decorrer do ano, mas não foi representado pelo filme. A psicanálise reconhece o potencial simbólico destes atos degradantes, principalmente quando dirigido ao outro, por representar questões psíquicas particulares, sejam elas conscientes ou não. Estes atos podem ser uma resposta tanto aos estímulos instigadores da violência presentes na sociedade (como a mídia, o ambiente familiar, os ídolos, etc), quanto representantes de frustrações e tensões, descarregadas através da violência, usada como um mecanismo de defesa (LEVISKY, 1997). Apesar de não ser o foco do filme e de sermos incapazes de identificar os reais motivos pelos quais a violência foi praticada, é importante ressaltar cada problemática representada, pois todos refletem situações reais que permeiam a dimensão não fictícia, fora do filme.

Além da prática de bullying, Charlie sofre diversos outros problemas impactantes para um adolescente em processo de formação de identidade. Entre elas, sua atitude antissocial, quebrada até o momento em que consegue encontrar e participar de um grupo de amigos, e seus momentos de ansiedade e terror psicológico, intensificadas ao entrar em situações de conflito/desacordo com este grupo de amigos a qual pertence

Considerando toda a importância de se encontrar dentro de um grupo de amigos, da aceitação, da identificação, é inevitável pensarmos na aflição do jovem na busca desse ideal. No início do filme, a primeira carta de Charlie deixa bem clara essa situação quando o garoto diz que ‘‘não falou com ninguém além da família o verão inteiro, mas amanhã será o primeiro dia de aula e precisará mudar essa situação’’. Subsequente a isso, vemos as sutis e falidas investidas de Charlie para se reunir com algum grupo, seja com sua irmã, uma velha amiga ou um antigo amigo de seu irmão. Macedo (2012) foi uma teórica que afirmou a necessidade que o próprio adolescente demanda, na sua formação, em integrar-se a grupos sociais, que lhe proporcionam sentimentos de aceitação e cumplicidade perante a necessidade, agora presente, de ser independente dos pais. É no primeiro dia, também, que Charlie conhece, embora ainda não socialize, com um dos garotos que vai se tornar seu grande amigo durante a trama, trataremos disto em outro momento.

Charlie tem cerca de 15 anos e está iniciando o ensino médio. É evidente que não podemos ignorar a trajetória do garoto até aquele momento, por isso, vamos nos atentar ao primeiro fato explícito na história que foi marcante na vida de Charlie e, entre outros fatores, foi um dos determinantes no desenvolvimento de sua personalidade.

Charlie perdeu um amigo, não é abordado há quanto tempo ou quais fatores estiveram ligados a esse desfecho, sabe-se apenas que a causa foi suicídio. Somos levados a refletir, nesse momento, questões que vão além das já citadas, inerentes à adolescência. Estamos falando de um garoto que se deparou com o luto muito cedo e de alguém muito próximo, estamos tratando das consequências ocasionadas por esse quadro.

Inicialmente, ao pensarmos em luto, apesar das contradições no tocante à significância desse processo para o período da adolescência, é fato que estamos tratando de um conceito que está inevitavelmente presente na vida do adolescente. Isto porque, nesse momento o indivíduo sofre diversas perdas, a perda do corpo infantil, a perda da idealização que tivera outrora dos pais... No entanto, no caso de Charlie, a perda que estamos abordando não é só a do sentimento universal, vivido por todos os adolescentes nessa fase, e sim de algo mais particular, de uma dor que de tão intensa deixa marcas duradouras e quiçá irreparáveis. Como não pensar nas inquietações que essa situação acarretou na vida daquele garoto. Perder um amigo, um amigo que cometeu suicídio, além da sensação de impotência por pensar que de alguma forma poderia ter evitado aquela situação. Afinal, quando alguém próximo comete suicídio é incontestável que esse tipo de sentimento venha à tona “mas afinal, eu não poderia ter feito algo pra evitar”, acompanhada da dor da falta, da perda de alguém querido que não vai voltar. Algumas considerações feitas por Tavares, em seu estudo sobre o suicídio, nos ajuda a compreender o que se passa por aqueles que “sobrevivem” ao ocorrido:

“As reações que se têm ao risco de suicídio ou ao suicídio provocam emoções muito poderosas: o medo, a culpa, a raiva, a tristeza, a ansiedade, a vergonha, a saudade. Mas os sobreviventes não ficam apenas afetados por emoções como essas; também sofrem de outras decorrências dessas emoções intensas, como a negação, depressão, isolamento, não aceitação daquela ausência, problemas de ajustamento, dificuldades de estabelecer novas relações (...)" (p.50-51)

Não fica claro com qual idade Charlie se deparou com essa situação, nem nos cabe atentar a isso, o que podemos identificar é que isso gerou consequências que refletiam na vida do garoto ainda na atualidade.

Além da morte do amigo, outro ponto, digno de muitas reflexões, é que Charlie também perde a tia, ainda na infância. Esta, por sua vez, sofreu um acidente de carro durante o Natal, enquanto buscava seu presente de aniversário; notamos que desde muito cedo o garoto experienciou o sentimento de luto, o sentimento de perder alguém. Através da descrição de Charlie, é possível compreender a proximidade e sentimento de afeto que o garoto sentia pela tia, relatada por ele como “a pessoa favorita do mundo”. É possível observar o impacto com que esse episódio marcou sua vida, acarretando intenso sentimento de culpa em relação a sua morte, tanto no que concerne ao fato de ter ocorrido enquanto ela buscava seu presente, quanto também por ter desejado, em certa medida, sua ocorrência.

Talvez as manifestações comportamentais apresentadas pelo garoto

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