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LAURA E A PROCURA DE SI - A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM UM RECORTE DO FILME AMOR? – UMA VISÃO DA PSICANÁLISE.

Por:   •  16/7/2018  •  2.370 Palavras (10 Páginas)  •  342 Visualizações

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Metodologia

Para a realização deste trabalho foram utilizados métodos de pesquisa qualitativa, revisão de literatura acerca do tema e uma análise documental do filme Amor? .

Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significado, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

A análise documental se deu através da observação do filme assistido tanto em sala de aula, como em casa em decorrência de buscar maiores detalhes.

Com isso, foi possível realizar uma análise da violência contra a mulher e o filme Amor à luz da Psicanálise.

Resultados e Discussão

Tendo em vista a personagem escolhida no filme para a análise, citamos o caso de Laura. A protagonista e o marido perderam uma filha de 7 anos de idade. Depois disso o marido perdeu o emprego e começou a beber. Eles tiveram uma crise financeira, onde ela relata que não tinham dinheiro para nada. Laura, que sempre fora uma mulher agressiva, tornou-se ainda mais agressiva, inconformada com a situação, a bebida e o silêncio do marido, pois em suas palavras ele era um bêbado mudo.

Percebe-se assim, que o casal passa por uma fase de luto, onde o que se torna evidente é o uso constante de bebida e o silêncio do marido e a agressividade de Laura. Para Freud (1915) o luto é um processo doloroso e lento, que se caracteriza por uma tristeza profunda, afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada ao que remeta ao objeto perdido, perda de interesse no mundo externo e a incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor.

Como visto, o novo objeto de amor eleito pelo marido foi a bebida. Ele se encontra num processo de luto pela perda da filha e pela perda do emprego, que talvez tenha sido ocasionada pela perda precoce e trágica da filha. Laura demonstra uma agressividade tremenda. Reconhece uma falta, mas que considera poder ser tratada pelos mimos e elogios do marido.

Laurent (2006) explica que é necessário ao homem tocar no gozo feminino por meio de seu discurso. Santos (2009) afirma que a mulher precisa que o homem fale sobre o que ela é, para ele, como objeto a, visto que ela goza por meio da fala de amor do parceiro. É então, apenas no campo do discurso amoroso, que a mulher pode consentir em ser o objeto a, ou seja, causa de desejo para um homem.

No decorrer do período após a morte da filha, eles passam a se agredir. Primeiramente, Laura dá início às cobranças e como ela mesma diz, incita o marido a ocupar o papel de homem, provedor, cuidador da mulher e da família. Parte para o marido com insultos e agressões e este, quando recupera um pouco da autoestima, passa a revidar as agressões.

O que se percebe nesse caso é o masoquismo de Laura. Para Freud (1924) o masoquismo está ligado ao sentimento de culpa que, na maioria das vezes, é inconsciente. O sujeito acredita que precisa ser punido por algo que pensa ter cometido, isso se relaciona à masturbação infantil. A pessoa fantasia ser espancada pelo pai e isso tem a ver com o desejo de ter uma relação passiva, sendo assim, feminina, com ele.

Vemos, na maneira como Laura insulta e agride o marido, a afirmação de Freud (1924) “o masoquista deseja ser tratado como uma criança pequena e desamparada, mas, particularmente, como uma criança travessa”. Freud, em Uma criança é espancada (1919), relata que a pessoa que bate, inicialmente, é o pai e depois será substituída por alguém que se encaixe nesta categoria paternal. Para o autor em A sedução e suas consequências imediatas (1917-1919): “(...) uma criança que se comporta de forma indócil está fazendo uma confissão e tentando provocar um castigo. Espera por uma surra como um meio de simultaneamente pacificar seu sentimento de culpa e de satisfazer sua tendência sexual masoquista”.

É possível fazer uma relação dessa posição masoquista assumida por Laura à dinâmica estrutural da histeria. De acordo com Nasio (1991), os histéricos sofrem nas relações com as pessoas porque investem nessa relação uma fantasia inconsciente. Dessa maneira, quando se vê lesado, sustenta fortemente a posição de vítima infeliz e insatisfeita.

Assim, no decorrer da vida do casal, uma briga maior acontece, onde Laura fica muito machucada e sai de casa. Acontece a separação. Tempos depois, devido ao elo com a filha caçula, o casal volta a se falar e passam, então a conversar.

Nas palavras de Laura ela precisou apanhar para ocupar seu papel de mulher e o marido precisou bater para ocupar seu papel de homem. O papel de mulher a que Laura se refere é o de carinhosa e meiga e o dele, de homem, é o de trabalhador e provedor do sustento de casa.

Tendo como pressuposto a teoria psicanalítica, o amor é um investimento e a capacidade de ser amado por outra pessoa sem que isso seja sentido como uma ameaça subjetiva, como as descritas pelo mestre de Viena ao apresentar a Coisa (das Ding) na origem da perda das referências subjetivas, descritas em seu Projeto para uma Psicologia Científica.

Nesse contexto, Laura e o esposo estavam perdidos em seus fantasmas acerca da elaboração do luto. Na perspectiva psicanalítica, é necessário levar em conta uma gênese do investimento amoroso e localizar as modalidades muito diferentes sob as quais o amor se manifesta.

Laura relata a relação de ambivalência com esposo, onde o agredia simbolicamente com sua posição de poder de compra, já que o marido estava desempregado, ou relatando o sucesso em causas ganhas no trabalho. Somos convidados a rever a letra freudiana, pois em Pulsões e destinos da pulsão (1915c), Freud examina as diferentes clivagens e oposições nas quais o amor participa, sendo compostas por três componentes: amar/odiar, amar/ser amado e amar e odiar juntos em oposição ao estado de indiferença.

A oposição amar/odiar remete para a polaridade prazer/desprazer, tendo o Eu introjetado o bem e o prazer e expelido de si o desprazer, tendo o Eu introjetado o bem e o prazer e expelido de si o desprazer, o que se transforma, portanto, na oposição Eu-prazer/mundo exterior-desprazer, assim, o ódio e a recusa do mundo exterior emanam do Eu narcísico. Laura, em seu jogo semântico com esposo, realizava suas conquistas em detrimento da posição ultrajante e inferior que o marido estava ocupando.

A oposição amar/ser amado encontra sua origem na volta pulsional ao seu

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