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A subjetividade presente no filme "Moonlight"

Por:   •  26/10/2018  •  1.402 Palavras (6 Páginas)  •  313 Visualizações

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Foucault entende o controle sobre da sexualidade como um dos fatores fundamentais para o adestramento dos corpos, e é justamente esse o dilema do personagem em Moonlight. Em sua primeira experiência sexual, Chiron é masturbado por Kev e logo após ele se sente envergonhado. O tabu sexual experienciado pelo menino é construído baseado em um sistema de vigilância, onde somos desencorajados a conhecer e estimular nossos prazeres. Após a relação íntima entre os dois, Kev, mesmo contra sua própria vontade, acaba agredindo Chiron na frente de toda a escola por pressão dos demais colegas. Esse é um exemplo claro do processo de assujeitamento a que somos submetidos para podermos ser aceitos dentro do convívio social. A diretora da escola ainda culpabiliza Chiron por ele ter sido agredido ao falar “se você andasse com mais homens ao seu lado nada disso teria acontecido”. Dessa forma, legitima-se assim o poder coercitivo para se adestrar os corpos através de um sistema extremamente machista e violento. Chiron, ao se rebelar contra seus algozes, que saíram impunes, é assim preso.

Após sair da prisão, Chiron abandona o papel de vítima e passa a interpretar um personagem embrutecido para conseguir sobreviver em um mundo cujo o lema é “os mais fortes sobrevivem’. Para Achille Mbembe, o Estado é responsável pela morte do sujeito, que implica não somente na fim da vida literal, mas no apagamento identitário. Na trama, essa morte do sujeito acontece no plano subjetivo, uma vez que Chiron enterra seu verdadeiro eu. Freud explica esse sistema de adaptação através de três conceitos: Id, Ego e Superego. O Id seria o princípio do prazer inato ao ser humano, regido puramente por impulsos, e dessa forma seria inapropriado à vida social, consequentemente amoral. O Ego é o mediador do Id e do Superego, sendo nosso eu adaptado às normatividades sociais. Já o Superego seria um sistema vigilante que enquadra o Ego e retrai o Id. Assim sendo, o personagem do filme vive em um embate entre o Ego e o Superego, através das pulsões emitidas por seu Id.

- Conclusão

Moonlight é o segundo filme de menor bilheteria americana a ganhar o prêmio de melhor filme. Joi McMillon foi a primeira mulher negra a ser nomeada para um Oscar de edição e Mahershala Ali (ator que interpreta Juan) foi o primeiro muçulmano a ganhar um Oscar de atuação. Moonlight, por ser o primeiro filme com o elenco 100% negro a abordar a temática LGBT, nos apresenta assim os dilemas vividos nessa realidade sob uma nova ótica. Tarell Alvin McCraney, escritor da obra, é um homem negro e homossexual, e assim seu filme personifica suas vivências. Dessa forma, é possível notar a importância do que Foucault chama de “escrita de si”, onde os atores sociais começam pautar discussões relativas a suas interseções sociais, requisitando visibilidade à suas singularidades subjetivas. Por fim cito assim Azizi, um rapper belo-horizontino, negro, periférico e gay que traz em seus versos sua agência social em um ambiente tão repressor para pessoas homossexuais quanto o hip-hop: “Eles dizem que eu não sou do rap, que pra entrar eu tenho que pedir licença. Querem me ofender me chamando de viado, boiola, bicha, mas eu mando papo reto e eles querendo criar uma rixa. Esse palavreado homofóbico não me irrita. Se eu sou viado, então agora é rap de bicha. (...) Eu cansei de ficar quieto, intocado na casinha. Eu cheguei pra fazer rap e não música pra criancinha. Do mesmo jeito que nos rap cola as mina, agora é a vez dos gays de se expressar pelas rima. E o que eu faço com meu corpo não é da conta de ninguém, os mesmos direitos que você tem eu tenho também”.

- Referências

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade – a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1985

MBEMBE, Achille. Necropolítica. Melusina, 2011, p. 17 a 76

NASIO, Juan-David. Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 19 a 64

Azizi Mc. Rap de Viado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Er3peZWFbbY> Acesso em: 28/03/2017 às 18:30h.

Caio Prado. Não Recomendado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aq5yOS_XtNU> Acesso em: 28/03/2017 às 18h.

Moonlight. Direção: Barry Jenkins. Produção: Adele Romanski. Miami, Florida: A24, 2016.

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