A FUNÇÃO ANALÍTICA E CAPACIDADE NEGATIVA
Por: Salezio.Francisco • 13/12/2018 • 3.958 Palavras (16 Páginas) • 361 Visualizações
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Para completar os três modelos epistemológicos, propostos por Bion, para lidar com os objetos psicanalíticos, o modelo cientifico-filosófico com Derrida, o modelo estético-artístico com Beckett e agora o modelo místico religioso com “Mestre Eckhart”, e a teologia negativa. Para Bion esse último modelo é o que melhor consegue exprimir a relação com a Realidade Última, inominável.
A teologia vivencia uma experiência semelhante a experiência do “Ó” para a psicanalise Bioniana em relação a Deus, o primeiro Incognoscível, inominável. A teologia afirmativa faz afirmações em relação a existência de Deus e seus atributos, a teologia negativa nega tais afirmações de forma a perceber que toda a descrição que a inteligência humana consegue elaborar sobre Deus está muito aquém daquilo que Deus realmente é. Eckhart diferencia Deus de Deidade, sendo Deus tudo o que se diz sobre ela, mas não é ela. Assim também pode-se dizer em relação a psicanalise, ela é tudo que se diz sobre a Realidade Última da Mente, mas não é ela.
Por fim o autor cita um poeta, Fernando Pessoa conhecido por seus heterônimos, que escreveu O eu profundo e os outros eus. E diz que o eu profundo continua misterioso e relaciona a frase do poeta Tudo vale a pena se a alma não é pequena, com psicanalise: Vale a pena fazer psicanalise. . . se a alma não é pequena.
Bion propõe os três modelos epistemológicos utilizados em Conferências Brasileiras, colocando-os a disposição da psicanalise em uma correlação extremamente rica.
Muniz se refere as Conferencias Brasileiras como um legado de Bion aos psicanalistas Brasileiros e cita, o seguinte trecho:
No consultório, o analista tem que ser uma espécie de poeta-artista, ou cientista, ou teólogo, para ser capaz de chegar a uma “interpretação” ou a uma “construção” no sentido em que Freud fala dessas palavras. O analista deve ser capaz de construir uma estória; não apenas isso deve construir uma linguagem que ele possa falar e o paciente possa compreender. Mas, nesse ínterim, ele deve ser capaz de tolerar esse universo em expansão que se expande mais rapidamente do que ele pode imaginar. Ele não pode pensar tão rapidamente para passar do nada à interpretação, mas no instante em que tiver acabado de falar, o universo se terá desenvolvido para além da sua vista. O problema é como podemos nos tornar fortes o bastante para tolerar tudo isso. Essa é uma finalidade bem mais modesta do que tentar acrescentar algo novo à psicanalise.
O trecho expressa de forma conveniente e clara a importância do presente capítulo para a identidade do analista. A partir de então o autor refere que irá adotar como referencia o modelo teológico. Revolvendo também o problema linguístico do Inominável, reconhecendo que que é possível crer sem “saber”. Por falta de opção? Não, pois não é preciso ter um nome para amar, “o afeto permite transcender os limites da linguagem”. Sendo assim no contexto teológico, Deus pode ser amando ainda que não dito, pode ser crido (pela fé), pode ser amado (pela caridade) e sido (pela graça).
De forma a revolver o impasse da limitação da linguagem, questionando como os Lacanianos revolveriam tal impasse, se o inominável nunca será por completo conhecido e, portanto não é atribuído um significante. Já para Bion, Melanie Klein e os teólogos pode ser revolvido pois tal teoria pressupõe que o afeto se antes que o objeto seja conhecido.
Lacan também aborda a questão do modelo teológico, no qual dieulogie, segundo ele e Espinoza situa-se no imaginário e distingue-se de uma Théologie, pode situar-se no registro do simbólico. Referente a esse registro François Régnaut chega a dizer que “Deus é inconsciente”, no mesmo sentido em que Bonford fala da Simetria de Deus, ambos entre outros influenciados por Matte Blanco, que partir de uma matemática contemporânea aplicou à psicanálise os conceitos de simetria e assimetria.
O autor se refere à frase “nada é conhecido sem ser primeiro amando” como a evolução do pensamento psicanalítico, referente ao pensamento da filosofia clássica ao qual dizia que “nada é amado se não for primeiro conhecido”, permitindo incorporar à logica psicanalítica a perspectiva bion-kleiniana falar de amor e ódio, mesmo quando não há conhecimento, em emoção e o afeto nos por em contato com objeto sem existir a precedência do conhecimento.
Bion nos fala a seguinte frase, na qual ele propões a esmiúça-la adiante: Quero dizer que acredito numa realidade fundamental mesmo que eu não saiba qual ela seja. É isto que eu chamaria de fato.
Ele se serve do modelo teológico para dar a sua explicação, e inicia dizendo que a fé é o fundamento de tudo que virá depois. Fé como fato primordial, em que toda a psicanálise será construída em cima disto.
Fé é a convicção intensa e persistente em algo abstrato que, para a pessoa que acredita, se torna verdade.
Para iniciar a explicação desse conceito, devemos começar entendendo a analogia simbólica.
Melanie Klein nos fala que “O paciente é como se fosse um bebê e o analista a mãe”
Isso quer dizer que o conhecimento de bebê, mãe e a relação destes, são transportados para o paciente, o analista e a relação destes respectivamente.
Essa é uma analógica de símbolos, equação simbólica, em que no primeiro momento, facilita para o individuo a compreensão dos fatos.
È de suma importância haver na sequencia a negação: É como se fosse... mas não é!
A negação permite que façamos uma comparação da simbolização sem equacionamento. Abre espaço para uma nova possibilidade de crescimento e de expansão do espaço mental. Nessa frase acima, evita a infantilização da relação.
A realidade é infinita, informe e inominável, mas nãe é absolutamente inacessível. Nós podemos nos relacionar por meio do afeto.
Winnicoot nos fala de “objeto transicional”, como acesso ao espaço da fantasia como preparatório da atividade simbólica. Isso é importante, pois não se deve interpretar isso ou aquilo, mas o trânsito, movimento, que é o processo simbólico propriamente dito.
Bion nos diz outra frase marcante : Conceito sem intuição é vazio, intuição sem conceito é cega.
Com relação a intuição, podemos dizer que a presença do objeto
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