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A Criança adotada na visão da clinica psicanalítica

Por:   •  24/12/2018  •  2.154 Palavras (9 Páginas)  •  292 Visualizações

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O rompimento das ligações primordiais

Como já dito, a criança traz consigo marcas mnêmicas provindas da relação mãe/bebe. Em uma criança que sofreu a “quebra” da relação deverá se fazer a reinscrição dos laços, como cheiro, toque, voz, etc, pois seu objeto de referência inicial (mãe) se perdeu. A partir disso o autor Bowlby (2001) diz que a privação da mãe poderá ocorrer total ou parcialmente, sendo a parcial quando este bebe é afastado da mãe e cuidado por uma outra pessoa que ela já conhece e criou relação de confiança (podendo ser a mãe adotiva ou a mãe que se faz presente na família acolhedora, desde que esta seja carinhosa e presente na vida da criança durante o tempo designado a passar com a família). Algumas consequências desta privação poderão ser angustia, sentimentos vingativos, personalidade instável, culpa e depressão, podendo assim causar danos irreparáveis nas relações que serão estabelecidas durante seu desenvolvimento até a vida adulta. Já na privação total ocorre a perda dessas pessoas confiáveis, como acontece em abrigos, onde as crianças são cuidadas por funcionários – ocorrendo alta rotatividade por diversos motivos – e o laço afetivo não se estabelece muitas vezes também por acúmulo de atividade, onde a pessoa designada cuida de mais crianças que poderia dar conta, não conseguindo dar atenção individualizada ao sujeito em questão. Ao analisar como se dá a privação total e seus efeitos, podemos observar a total perda da capacidade de relacionar-se com outras pessoas.

A aceitação do filho adotado – Amor e ódio na relação familiar

É isso que torna uma criança psicótica: ser o centro do amor dos pais adotivos, ser o substituto do filho, e não o filho deles. Para encaixar no molde do filho imaginário dos pais, ele é obrigado a se identificar com eles, o que um filho genético não precisa fazer, já que é a continuação deles. O filho adotivo é a continuação deles imaginariamente, antes de o ser simbolicamente. Aliás, ele pode se tornar simbolicamente sua continuação, o que nunca poderá acontecer se for reduzido ao estado de fetiche dos pais, em vez de ser seu descendente (DOLTO, 2006, p.93).

É comum aos pais criarem um mundo fantasioso em relação à criança que irão adotar. Como será seu comportamento, o que irá fazer quando crescer, etc..., criando a imagem de perfeição, e nisso ocorre uma quebra na realidade quando a criança chega ao novo lar, pois ela não é como os pais esperavam, as vezes comporta-se mal, tem dificuldades na adaptação, tanto familiar quanto escolar. A criança abandonada poderá carregar consigo uma ideia de destruição, diz Winnicott “(...), mas antes de tudo existe a destruição, e se você começa a amar uma criança que não foi amada, no sentido pré-verbal, pode ser que você se veja em apuros. De repente, você é roubado, as janelas são quebradas, o gato é torturado, entre outras coisas terríveis. E você sobrevive a tudo isso. Você vai ser amado por ter sobrevivido” (p. 115). Os pais quando se deparam com o comportamento que não é esperado, quando a criança é agressiva, tem dificuldade em aceitar, e a maneira de lidarem com isso é justificando este comportamento “ruim” por este ser filho de outros genitores, vindo deles então o que a criança tem pior. Winnicott, ao trazer a frase “nada é mais inadequado do que adotar uma criança e amá-la” diz que a criança adotada só consegue acreditar que é amada por seus pais quando eles demonstram os sentimentos de ódio, insatisfação e raiva, pois nessas demonstrações ela consegue entender que mesmo a odiando os pais permanecem a seu lado e então compreende que é amada e não será abandonada novamente. A partir desta fala podemos ver o quão comum é para a criança ter o desejo de “testar” os pais adotivos para ver se existe amor colocado nesta relação, e é ai que coloca suas defesas para operarem, pois existe o medo do abandono, ao mesmo tempo que ocorre a esperança de conseguir ser amada e acolhida em um lar. Ao dar continuidade aos desafios para com os pais a criança poderá dizer muitas vezes “você não é minha mãe” trazendo aqui a dualidade da mãe boa X mãe má (quando a criança sabe que é adotada). A partir desta dualidade posso citar como os contos de fadas fazem parte da realidade infantil aqui, pois lá se darão referenciais necessários para a criança lidar com seus sofrimentos do mundo real, colocando isso no imaginário e no mundo fantasioso, muitas vezes matando a madrasta que é a mãe ruim e que vem substituir a mãe boa, que por alguma força maior não pode se fazer presente na vida do filho enquanto este desenvolvia-se.

Outra questão é quando os pais adotivos pensam que a criança tem com eles uma dívida, que deverá mostrar-se grata, comportar-se bem, ser o filho exemplar e bom para eles, pois, afinal ele foi “salvo” de viver sua vida inteira em um abrigo. Porém, é obvio que sempre existirá uma relação de gratidão para com nossos pais, pois eles mantiveram sua prole em segurança, mas esta divida jamais deverá ser vista como um peso ou algo a ser pago no real para a família. "Levizzon (1999) observou na clínica psicanalítica com crianças adotadas, tanto precoce quanto tardiamente, a apresentação de um falso si–mesmo' (Hueb 2002, p. 99), nesse caso as crianças não queriam causar decepções ou magoas aos pais e era sempre necessário que fingissem alegria para que ocorresse a satisfação pelo olhar do outro, criando assim uma defesa. A criança deverá adaptar-se ao lar, sentir-se acolhida, mas as vezes isso não acontece pois ela só vê esse “lar” como uma casa onde habita e não como algo seu.

[…] se você constrói um lar para uma criança, você está lhe dando um pouco do mundo que ela pode compreender e em que pode acreditar, nos momentos em que o amor falha. (Winnicott, 1957g/1987, p. 42)

BIBLIOGRAFIA

KRAHL, Simone; MOREIRA, Rosangela Machado. A adoção na perspectiva psicanalítica. Disponível em: http://www.revistacontemporanea.org.br/site/wp-content/artigos/artigo238.pdf . Acesso em 24 de abril de 2017.

GOMES, Kátia. A adoção a luz da teoria Winnicottiana. Disponível em: . Acesso em 24 de abril de 2017.

WERNER, Ana Beatriz. O que a psicanálise pode dizer sobre a adoção de crianças pequenas? Disponível em: . Acesso em 24 de abril de 2017.

NETO, João Carvalho. Sobre filhos adotivos. Disponível em: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos/autoconhecimento/sobre-filhos-adotivos-40529.html . Acesso em 26

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