BELCHORZINHO – UM LOUCO DE RUA DE PATOS DE MINAS

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É nesse contexto que surge a Psiquiatria, como sendo a “Ciência da Loucura”, mas sem ter ainda se delineado como a ciência que é hoje conhecida, o que só começou a ocorrer no início do Séc. XIX (FERRAZ, 2000). Conforme sintetiza Ferraz (op cit.), nesse momento histórico apontado por Foucault, em que a loucura começou a ganhar conotações científicas, o louco perdeu o lugar que ocupava na sociedade, transformando-se não em um doente passível de tratamento, mas, sim, em um verdadeiro caso de polícia. Assim sendo, o modelo de internação adotado era mais parecido com um procedimento policial que propriamente médico, resultando em uma exclusão sem precedentes. A instituição de reclusão era compreendida como um depósito de loucos, situação que, de acordo com Ferraz (2000, p.87), “demorou mais de um século e meio para que viesse a ser contestada por movimentos que defendessem uma outra visão tanto da doença mental quanto do tratamento”.

O ajustamento social pode ser definido como o reflexo das interações sociais do indivíduo com as outras pessoas, seu desempenho e satisfação nos diversos papéis sociais, que podem ser modificados pela cultura e pela expectativa familiar. Além disso, é preciso ressaltar que os transtornos mentais freqüentemente causam prejuízo ao funcionamento social, trazendo sofrimento para o indivíduo e para os seus familiares (MOREIRA, CRIPPA e ZUARDI, 2002).

Sob essa perspectiva, nos cursos de formação dos profissionais de enfermagem, as aulas de enfermagem psiquiátrica ganham maior relevância, considerando-se que alguns transtornos psiquiátricos exigem cuidados profissionais de maior complexidade técnica e conhecimentos de base científica, visto que, em suas tarefas cotidianas; precisam estar preparados para lidar com pacientes que estejam em estado de sofrimento mental.

Nesse sentido, ressalta-se nesse estudo como tema, o louco de rua, a partir da conceituação dada por Ferraz (2000, p.116), como sendo aquele que:

(...) vive a maior parte de seu tempo nas ruas, perambulando e mendigando; por isso ele acaba sendo conhecido de praticamente toda a comunidade, quando vive em uma pequena cidade. Convertido em figura pública, ele relaciona-se com as mais diversas pessoas da comunidade, nelas despertando uma série de sentimentos variados e provocando sua imaginação.

Assim sendo, esse estudo procurou destacar o papel do enfermeiro junto àqueles que são considerados “loucos de rua”, ou seja, aqueles que, pela suas características, bem como pelas condições sociais que os cercam, contando ou não com o apoio das suas famílias e são, eventualmente, internados em instituições, hospitalares ou não, dependendo, dessa forma, da atuação destes profissionais para sua recuperação. Assim sendo, destacou a história de vida de “Belchorzinho”, um louco de rua que se tornou personagem popular, tradicional na história de Patos de Minas – MG.

A escolha deste personagem incidiu sobre o imperativo de demonstrar aos profissionais da área de saúde, especialmente aos enfermeiros, a necessidade urgente de humanização da área psiquiátrica, bem como os novos paradigmas que a ela vem sendo incorporados.

Esta pesquisa foi realizada por meio de uma investigação bibliográfica e documental, bem como de entrevistas com pessoas que conheceram a vida do Belchorzinho e seus familiares, atuantes ou não na área em questão.

Espera-se, dessa forma, contribuir para a valorização e humanização da enfermagem psiquiátrica, área que pode, através de sua inteiração com o paciente, proporcionar-lhes melhor qualidade de vida, através do respeito à sua dignidade e condição de cidadão.

2 OBJETIVOS

- Objetivo Geral

Pesquisar como se dava a estabilização do Belchiorzinho nas ruas da cidade de Patos de Minas e a relevância dos profissionais da enfermagem para essa estabilização.

- Objetivos Específicos

- Ressaltar a importância do enfermeiro para a recuperação da saúde e da dignidade dos loucos de rua;

- Fazer um levantamento, através de pesquisa de campo (relato oral) sobre o Belchorzinho, personagem popular tradicional de Patos de Minas;

- Pesquisar a trajetória de vida do Belchorzinho pelas ruas de Patos de Minas;

- Descobrir se a rua exercia um papel estabilizador para o Belchorzinho;

- Definir que tipo de relação existia entre este personagem e a comunidade;

- Analisar que tipo de sentimento ele despertava na comunidade.

- Avaliar que tipo de construção se estabeleceu em relação ao Belchiorzinho no imaginário popular.

- Pesquisar como o cuidado ao louco era compartilhado pela comunidade.

- METODOLOGIA

Segundo Pessoa (1991), a pesquisa é um procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos No entanto, embora a pesquisa em enfermagem psiquiátrica tenha começado, segundo Sadigursky (et. al., 1998), com Florence Nightingale, no século XIX, que então já se utilizava de princípios científicos no planejamento da assistência de enfermagem nesse meio, não foi incorporada à prática, de imediato e, no Brasil, evoluindo, portanto, de forma lenta e gradual. Os autores citados informam que foi somente a partir dos anos 60, face às solicitações da expansão das forças produtivas e de conhecimento de relevância social, que a enfermagem brasileira sentiu a necessidade de ampliar seus conhecimentos e produzir novos saberes, utilizando-se, sobretudo, da pesquisa.

Nesse trabalho foram priorizadas diferentes formas de pesquisas e, portanto, de procedimentos metodológicos:

- Pesquisa bibliográfica:

- Pesquisa sobre a Enfermagem Psiquiátrica e o papel do enfermeiro que ressaltaram a importância do papel do enfermeiro na aquisição de qualidade de vida, dignidade e cidadania para pacientes psiquiátricos, realizada em artigos científicos e livros, ou em outros materiais pertinentes ao tema.

- Pesquisa de Campo:

- Entrevistas realizadas com pessoas ligadas ou não à área da enfermagem, que possibilitem a reconstrução da biografia de Belchorzinho através do relato oral e produção