Resenha Ordem Mundial, Kissinger
Por: Rodrigo.Claudino • 1/8/2018 • 2.564 Palavras (11 Páginas) • 417 Visualizações
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CAPÍTULO I. EUROPA: A ORDEM INTERNACIONAL PLURALISTA
No Império Romano, a ordem era estabelecida por um Imperador, que demonstrava seu poder através de guerras, forte quando as ganhava, fraco quando as perdia. “Com o fim do Império Romano, o pluralismo tornou-se a característica definidora da ordem europeia.” (página 19). Apesar de ser uma civilização única, a Europa não possuía um governo único, as “ordens” mudavam de tempo em tempo, conforme as necessidades. Com a queda do Império Romano, em 476, um sentimento de nostalgia tomava a população, o que era tido como ruim para os historiadores, agora fazia falta. Nessa nova visão de mundo, havia na teoria uma Europa Cristã, o poder era divido entre igreja e governo, e todos estavam destinados a um Juízo Final, anulando então, o conceito de ordem. Dentro deste contexto, existia uma Igreja com autoridade limitada e uma guerra entre Reinos por poder. Em 800, o Papa Leão III coroou Carlos Magno como Imperador Romano, com a promessa de uma Europa totalmente Cristã e levando os ensinamentos da Igreja para além das fronteiras, foi lhe concedido parte Oriental do Antigo Império Romano, parte do Bizantino, contudo, ele fracassou logo no começo, nunca governou o Oriente e não conseguiu recuperar a Espanha, após sua morte, criaram o Sacro Império Romano-Germânico, referente as terras que lhe pertenciam, mas que também sem sucesso logo desapareceu. Diferente de outras civilizações, como a China com seu Imperador e o Islã com seu Califa, o Imperador do Sacro Império Germânico-Romano não possuía autoridade total, seu governo dependia da Igreja e de uma eleição. A ordem mundial até teve uma breve abertura com o governo do Príncipe Carlos (1500-1558) da dinastia Habsburgo, declarado oficialmente o sucessor de Carlos Magno, essa concentração de poder na mão de apenas um Imperador, se deu através de casamentos estratégicos. Doutrinando a América e extraindo suas riquezas, Carlos foi consagrado como “o maior imperador desde a divisão do Império em 843” trazendo uma dinastia única novamente. No fim, Carlos abdicou de seus títulos, destinando seus Reinos para filhos e seu irmão, reconheceu o Protestantismo como religião, e passou seus últimos dias em um mosteiro, no qual morreu em 1558, ele deixou um testamento que rompia com o que tinha feito nos últimos anos e pediu que seu filho redobrasse seu esforço. Seu governo teve como marco era dos descobrimentos, invenção da imprensa e cisma da igreja. Com as navegações as relações internacionais antes limitadas a Europa, agora se tornariam geograficamente globais; com acesso ao conhecimento através da prensa móvel, a crença na razão aumentava e questionava o que nunca antes fora questionado, “incluindo a até então intocável Igreja Católica”. (página 27); com a Reforma Protestante, marcada pelas teses de Martinho Lutero pregadas na parede da igreja, pode-se dizer que foi o estopim para o início da Guerra dos 30 anos e quebra da ordem mundial de “duas espadas” do papado e do império. Após um século de conflitos e com a Europa devastada, surge a Paz de Vestfália, um novo conceito de ordem internacional. Ao contrário de outros acordos, esse tratado teve uma conferência informal, de diferentes locais cada grupo participante assinou o acordo e os representantes se encontravam em zonas neutras e comuns para reuniões. Enquanto isso estava sendo derramado muito sangue no território Gemânico-Romano, em vista de todos os outros rastros que essas guerras já tinham deixado, estava claro que esse acordo se dava entre “rivais”. Depois de outros acordos terem sido atropelados pela ambição e desejos particulares de seus governantes, e apesar de nunca ter havido uma conferência formal, a paz de Vestfália é o documento diplomático mais importante da história. Apesar de divergências e contradições entre os participantes do tratado, eles proclamavam o mesmo objetivo “paz e amizade cristã, universal, perpétua, verdadeira e sincera.” (página 32), mas nenhuma das partes escondia defender apenas os seus próprios interesses. Levados a este acordo por motivos de exaustão e ambição, agora estava estabelecido a igualdade entre todos os países, os mesmos direitos para grandes e pequenas potências, cada estado tinha sua soberania, religião, e estavam imunes de qualquer intervenção, em um senso comum de evitar uma guerra total que colaboraria para a destruição de toda uma civilização, nascia o sistema de “Relações Internacionais”, com direito de ter em outro estado um diplomata instalado para assegurar que a paz se mantivesse. A principal característica deste sistema, é que agora um cidadão poderia exercer seus costumes, religião e praticas internas no exterior sem ser “lesado”, contando com a proteção do sistema internacional. A ordem Vestfaliana tomava grandes proporções e no século XX já havia se expandido por todos os continentes, onde até hoje está presente. Agora movida pela balança de poder e não mais por Imperador/Igreja, a nova definição é de “neutralidade ideológica e a capacidade de adaptação a circunstancias em constante mudança.” (página 34) Atualmente esses “conceitos” são considerados manipulação de poder acima da ordem moral. Contudo, este ainda foi o primeiro tratado a impor ordem e limites, depois de guerras por motivos religiosos e interesses próprios, ela era considerada um avanço, mesmo que viessem a ocorrer futuros conflitos, estes agora teriam limites. “Num primeiro momento, a Paz da Vestfália implementou um mundo Hobbesiano.” (página 38) Logo após se implementou um sistema de balança de poder, quem fosse contra a paz provocaria toda uma população unida pelo equilíbrio. No século XVIII a Grã-Bretanha fazia o papel que os Estados Unidos faz atualmente, no controle dos mares, ela manteve o equilíbrio de poder não permitindo nenhuma hegemonia de outro país. Enquanto a Inglaterra garantia a balança geral, a frança lutava na balança da Europa Central contra uma emergência da Alemanha. Durante duzentos anos essas duas potencias garantiram a estabilidade dentro de toda Europa. A balança de poder vestfaliana conseguiu aniquilar a tentativa de hegemonia da França, sob o controle de Luís XIV, que apesar de seguir ganhando muitas guerras acabou sendo derrotado por “uma Europa que buscava sua ordem na diversidade.” (página 41) Enquanto a França buscava hegemonia, a Prússia de Frederico II almejava se tornar uma das grandes potências, usando o argumento de superioridade ele dobrou o território Pruciano numa aliança com a França em 1742, com isso ele acabou trazendo o espírito de guerra para a Europa novamente e após sete anos de conflito e uma primeira intervenção da Russia na balança de poder, Frederico foi rendido, deixando
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