O Terrorismo na América do Sul
Por: Sara • 7/8/2017 • 2.524 Palavras (11 Páginas) • 509 Visualizações
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Em discussões mais recentes, a atenção é voltada para as questões acerca do financiamento do terrorismo, especialmente ao considerar o desenvolvimento tecnológico que favoreceu e tornou mais rápida as transações financeiras, fator o qual facilitou as atividades terroristas. Nesse contexto, o foco na América do Sul está em duas principais zonas fronteiriças: a tríplice fronteira Argentina-Paraguai-Brasil e a região fronteiriça Amazônica. Contudo, essa preocupação remete, de modo mais específico, ao tráfico de drogas e outras atividades que serviriam para financiar os grupos terroristas nos países.
A exemplo disso, a elaboração do Plan Colombia de 1992 consistiu em uma série de medidas organizadas pelo governo colombiano sob o apoio dos EUA cujo intuito principal era erradicar o tráfico de narcóticos. Teve como reflexo o aumento das forças guerrilheiras e paramilitares resultando em maior instabilidade. Em 2002, com o fim do diálogo entre governo e as FARC, esta entrou na lista estadunidense de grupos terroristas, transpondo o nível do conflito, até então interno, para o nível mundial uma vez que foi declarada uma luta contra o terrorismo pelos EUA. Vale ressaltar que muitas ressalvas são levantadas acerca dessa definição por lista de grupos terroristas dos EUA, por sua parcialidade e por não conseguir apresentar critérios suficientes para essa classificação. Além de que, por sua hegemonia mundial, ao serem classificados como terroristas, as ações desses grupos e organizações são deslegitimados.
Já na questão da tríplice fronteira entre Argentina, Uruguai e Brasil, no contexto do pós 11 de setembro de 2001, diversas foram as acusações levantadas de que a região não apenas financiava o terrorismo internacional mas também abrigava indivíduos pertencentes a grupos os quais os EUA consideravam terroristas tais quais Hizbollah, Jihad Islâmica, Gama’a al-Islamiyya, Hamas e Al-Qaeda. Entretanto, essas alegações se firmavam no fato de que diversos imigrantes pertencem à região do extremo sul do Líbano, conhecida por ser núcleo de atuação do Hizbollah, e enviam frequentemente uma grande quantidade de dinheiro para lá. No entanto, no contexto da Guerra ao Terror articulada pelos EUA, qualquer desconfiança sobre atividades terroristas já eram suficientes para fundamentar suas ações onde quer que fosse, como se já fosse uma verdade comprovada.
O fim da Guerra Fria significou não apenas a busca por novas ameaças as quais fundamentassem os custos da manutenção do exército e gastos gerais com a Defesa, mas também a hierarquização das forças internacionais frente à hegemonia estadunidense. Por esse motivo, as preocupações a respeito dessas novas ameaças foram tidas como globais e lideradas pelos EUA.
Declarar guerra contra o terrorismo, tal qual os EUA fizeram após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, aprofunda o problema em questão haja vista que existem fatores necessários dos quais depende a guerra (campo de batalha, frente de combate, etc.) que no caso do terrorismo não são tão concretos e visíveis. Ora, os próprios EUA alegam não haver fronteiras na Guerra ao Terror – o inimigo é cada organização, não o país onde ela está localizada.
Além disso, essa interferência estadunidense em prol da luta contra o terrorismo causa também instabilidade regional onde as organizações classificadas como terroristas pelos EUA atuam uma vez que pressiona o governo do país – por exemplo, no caso das FARCS, a Colômbia – a tomar uma posição frente à acusação estadunidense. Ou seja, não resolve o problema nem do tráfico de narcóticos nem da existência dos grupos nesses locais, apenas acentua ainda mais a tensão no diálogo entre o governo do país com esses grupos, por vezes até impedindo qualquer tipo de negociação entre eles.
3. DEFINIÇÕES E REAÇÕES AO TERRORISMO
Nos documentos de Segurança de cada um dos países da América do Sul, quando se apresenta o termo “terrorismo”, ele aparece, na maioria das vezes, associado a outras questões, tais como o narcotráfico, questões ambientais, lavagem de dinheiro, entre outros. Deste modo, fica evidente que não há uma preocupação em tratar o terrorismo na sua singularidade, o que seria necessário para o perfeito entendimento do fenômeno.
A partir da leitura dos Livros Brancos de Defesa e das políticas de defesa de alguns países sul-americanos percebe-se que existem divergências em relação aos meios utilizados por tais Estados para combater o terrorismo, bem como a própria forma de caracterizar o fenômeno. É perceptível que todos os países sul-americanos passaram a se preocupar com a questão, mas ainda não existe uma união entre eles com a finalidade de combater o mesmo.
Na Bolívia, de acordo com o Livro Branco de Defesa de 2004, algumas práticas como a corrupção, o tráfico de armas, o narcotráfico e o terrorismo devem ser vistos como ameaças ao desenvolvimento e à segurança interna do país. O documento afirma ainda que o terrorismo é uma das maiores ameaças a nível mundial, mas não tão avançada a nível nacional.
Na Argentina, por sua vez, o LBD de 2010 alega ser o terrorismo uma das mais terríveis ameaças para a paz e a segurança mundiais e afirma que as ações integrais e multilaterais são muito mais eficientes para amenizá-lo do que as intervenções militares, defendendo uma cooperação internacional nessa área. Um fato sobre a Argentina é que ela deu importância à questão do terrorismo um pouco mais cedo do que alguns dos seus vizinhos pelo fato de ter enfrentado problemas com ações terroristas de 1992 a 1994.
Quanto ao Chile, nos Livros Brancos de 1997, 2002 e 2010 são citadas como novas ameaças o fundamentalismo islâmico, a imigração, a xenofobia, questões ambientais, etc... Tais processos podem se dar de inúmeras formas, desde uma escala política até um ponto onde pode se fazer necessário um enfrentamento bélico.
Já na Colômbia, o terrorismo é visto como uma oposição à democracia, pois trata-se da imposição do poder por meio da violência e às custas das vida de civis, sendo a única resposta eficiente a tal problema a ruína do mesmo. É importante citar as FARC, que atuam sob a forma de terrorismo.
Em relação ao Brasil, o terrorismo teve a sua primeira aparição na Política de Defesa Nacional de 2005, somente após os ataques terroristas aos EUA do 11 de Setembro de 2001. Para o Brasil, o terrorismo coloca em risco a paz e a segurança do mundo, sendo, portanto, necessária um atuação em conjunto das nações na prevenção de tais ameaças.
De acordo com os documentos
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