O SEGREDO DE LUÍSA
Por: Sara • 31/3/2018 • 4.121 Palavras (17 Páginas) • 404 Visualizações
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Para os clientes, Sereia Azul, era um portal de notícias, vanguardistas da cidade (atual, moderno, inovador, novo) Crônica criadas na cidade, outros diziam que seria um antro de fofocas. Na Sereia Azul, a única regra era de convivência pacífica. Era permitida provocação inteligente e bem humorada, eram excluídas as ofensas óbvias e de baixo escalão. A loja era o campo de prova da essência do jeito mineiro de conviver.
Atrás do balcão, Luísa iluminava com sua beleza sedutora. Fernanda, solteira aos 48 anos apesar de bonita, decidiu não se casar. Com isso, despertava não só o sentimento de amor, mas uma profunda admiração de sua afilhada. A carreira de dentista não era o sonho dela, mas sim de seus pais. Era bela, criativa, livre e amada por todos, porem teimosa e autoritária, desinteressada dos estudos no colegial, o que lhe prendia na escola eram seus amigos, saber fatos diferentes, aprender com os outros.
Ela não vivenciava o que aprendia na escola, os ensinamentos dos professores não coincidiam com o que queria ou precisava aprender naquele momento. Gostava de aprender por intermédio de conversas com pessoas na qual admirava, dos mais experientes.
Conseguia tirar a essência da comunicação que a levava refletir e reproduzir as situações aprendidas no cognitivo tendo-a como personagem central. Sentia prazer em ser diferente, nas roupas, no vocabulário que tirava dos padrões da sociedade.
Delcídio, seu noivo temia ser ultrapassado, não queria que fizesse curso superior, nem que fosse para longe, sentia ciúme de sua beleza e insegurança profissional. Lutando contra o passado da noiva, se deixava corroer pelas histórias contadas pelos familiares e amigos. E o que mais intervinha em sua mente era que os personagens eram pessoas reais, deixando tudo mais complicado de não se acreditar. O que lhe confortava era que sua noiva era pura, sincera, jamais o trairia. Suas dúvidas eram tantas que passou a observá-la, analisar as vontades, suas reações, olhares rumores e suspiros. Percebeu seus sumiços sem desculpas convincentes, e quando questionava era evasiva, controladora, ameaçava uma briga ou um rompimento ele recuava, pois a moça odiava ser contrariada ou questionada.
Desde seus nove anos, Luísa ajuda sua tia-madrinha no balcão da loja e nos afazeres, até seus vinte anos, desenvolvendo uma empatia, uma encantadora jovialidade e uma atenção sincera com os clientes. A madrinha tinha fama por seu apego ao dinheiro. Doou sua amizade, dedicação e companhia em momentos difíceis, mas Luísa sabia que seria recompensada, gratificada, pois não fazia por obrigação e sim por puro prazer. Sentia necessidade em decifrar esse sentimento acima da satisfação que a aproximava de sua madrinha, quando percebeu a fama da goiabada-cascão de Ponte Nova em BH, a chama de empreender. Sua primeira experiência foi apresentada a um colega da faculdade, que se deliciou na goiabada, pedindo o resto para levar a sua mãe. Seu questionamento foi: porque um ser humano bem alimentado pediu as sobras do meu produto, percebeu assim a oportunidade para mudar de vida, tanto amorosa quanto profissional, um produto poderoso, famoso, mas inexistente no mercado. Sua vida de empreendedora começa ali, com uma excelente oportunidade de negócio.
O primeiro passo era compartilhar a ideia com a maior inspiração da vida, sua tia-madrinha. Ela reagiu com indiferença nos primeiros momentos, criticou até, mas reconsiderou. Ela não podia negar, apesar de muitas tentativas falhas, no passado por conhecidos, que era uma maravilhosa jogada.
Capítulo 2 – A avaliação de uma ideia
Luísa resolveu retornar a Belo Horizonte para dar andamento aos seus planos, ela procuraria um professor da universidade que ministrava cursos sobre empreendedorismo para se inteirar melhor sobre seus propósitos.
Antes disso Luísa passou na mercearia para as compras habituais, e se sentiu tentada em perguntar ao vendedor se ele tinha goiabada-cascão, ficou surpresa quando ele lhe informou que tinha. Chegando em casa resolveu fazer teste com sua irmã, deixou que comesse sem revelar que não era de fabricação de Fernanda, a menina deu a primeira mordida, e reclamou, acho que a Fernanda usou goiabada estragada, está ruim, Luísa se sentiu segura para abrir seus planos para a irmã.
Na manhã seguinte procurou o professor Pedro, conseguiu enche-la mais de perguntas sem fazer explanações claras sobre o que Luísa precisava saber. Explicou o motivo das perguntas: que para o empreendedor, ser é mais importante do que saber, o empreendedorismo é visto como algo relacionado com o processo de entendimento e construção da liberdade humana, Luísa nunca havia pensado que a empresa é a projeção do ego, pois não tinha o menor conhecimento do mercado.
Segundo o professor para conseguir ser bom empreendedor, é preciso conhecimento profundo do negócio, dos clientes, dos fornecedores, da concorrência, das tendências e sinalizações sobre o futuro do produto, além da gerência e da administração financeira. Acrescentou temas como a energia do empreendedor, a criatividade aflorada em um ambiente de total liberdade, a empresa é vista como um laboratório. As descrições do professor sobre o empreendedorismo deixavam a moça cada vez mais entusiasmada com a ideia de criar sua própria empresa. Ganhou forças quando analisou as outras características do empreendedor, afinal confiança em si mesmo era o que ela tinha de sobra.
Só não conseguia entender porque o governo ainda não havia criado uma política de apoio às novas empresas. Após analisar tudo o que o professor havia falado, “mas a fábrica de goiabada-cascão é uma grande ideia, não é professor?”, Insistiu com o professor, Luísa queria saber se as goiabadas Maria Amália dariam certo, e ele respondeu que ninguém poderia responder a esta pergunta a não ser ela mesma.
O professor continuou recomendando que fizesse um plano de negócios, ficou paralisada, apesar de entender tudo o que o professor lhe expôs, sentia-se desamparada, sentiu uma esperança quando o professor lhe falou que o empreendedor é alguém muito criativo, que consegue ver coisas onde os outros nada veem as oportunidades. “Qual é o diferencial do seu produto?”, perguntou o professor, qualquer produto deve ter um diferencial, uma característica que seja única. Pode ser algo quanto ao produto em si, por exemplo, o gosto, a qualidade, distribuição, processo de fabricação, promoção e propaganda. Luísa não hesitou: A goiabada-cascão de Ponte Nova é a melhor do mundo! Ao ouvir suas próprias palavras, temeu pelo exagero. E o professor indagou novamente, “Mas será que
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