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Resumo filosofia

Por:   •  21/5/2018  •  2.888 Palavras (12 Páginas)  •  415 Visualizações

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Texto 3

A educação tem, sem dúvida, uma base natural, cuja força condicionante foi mais ou menos colocada em relevo, segundo as distintas correntes filosóficas. Mas nenhuma delas pôde negar que o ser humano nasce imperfeito ou, como diria Jean-Jacques Rousseau, perfectível. Há educação porque sempre há, para o humano, um horizonte de perfectibilidade. A dimensão natural do humano não é suficiente para justificar o que deve ser a educação, o que a tornou tal como a conhecemos e os sentidos que para ela construímos. A educação tem, igualmente, uma dimensão técnica, e uma dimensão científica. A dimensão científica diz respeito, quase que inteiramente, à base biológica de determinação da existência humana. A dimensão técnica, quanto a ela, dependendo totalmente dos fins assinalados, tem ou deveria ter sua validade sempre limitada pelo contexto de aplicação – que, no caso do humano, é a cada vez singular e permanentemente instável. O conhecimento escolar não é produzido na Escola, mas isso não quer dizer que a Escola não produza saber: ela decerto produz, por meio da reflexão e das deliberações que a prática requer do professor, um saber prático, o «saber-fazer» da Escola. Não faria sentido se fosse diferente: uma Escola que veiculasse um saber inteiramente produzido em seu próprio interior seria uma instituição fechada sobre si mesma, que não poderia ter por finalidade senão sua perpetuação, e não a construção da sociedade – uma espécie de gueto, uma espécie de seita. É, portanto, importante frisar a natureza social dos conhecimentos escolares: uma das mais primordiais finalidades do modelo em que se baseia a educação escolar atual, a Escola pública, sempre foi justamente a de fazer com que todos participassem de uma mesma cultura – condição e exigência da vida comum, a Escola pode contribuir para constituir o conhecimento escolar. Em Platão, a reflexão sobre a educação se deduz e se anuncia pela interrogação acerca do conhecimento humano: seus objetos, suas condições, suas finalidades e suas limitações. o objeto do ensino socrático é muito claro: é a epistéme, a ciência que visa à verdade. Para ele, o único conhecimento que se deve ensinar é aquele que tem por objeto não a dóxa, a opinião, a ilusão, mas a Verdade, única, ontológica. Por isso ele ataca um modelo de educação que é generalizado em sua época, que é baseado na dóxa e que se pretende ferramenta de construção política da cidade. ara Platão, porém, o verdadeiro conhecimento é todo-poderoso: ele é o responsável por, nada mais, nada menos, do que a construção ética no espaço humano e no espaço político. No Protágoras, a covardia, a ignorância, a injustiça, o desregramento, enfim, todos os vícios se resumem, na verdade, em um só: a ignorância . E, como a virtude – qualidade que define o cidadão e o homem – depende do conhecimento exato e da inteligência rigorosa das coisas, o problema já pode ser deslocado: não se trata tanto de definir se a virtude pode ou não ser aprendida, mas de que maneira e em que condições é possível conhecer. Para Platão, se a verdade não pode ser ensinada, no sentido «técnico» e pragmático que os sofistas pretendem, por vezes, lhe atribuir, é por que supõe uma verdadeira conversão: o conhecimento da verdade é «uma atitude e uma regra de vida, a adesão a um ideal radical. O conhecimento é o verdadeiro instrumento de criação democrática, de construção de uma nova sociedade e de um novo homem. A verdadeira educação é aquela que prepara o indivíduo para essa liberdade, para um conhecimento e para uma deliberação ética que devem, a cada momento, basear-se numa adesão interior a valores livremente eleitos. O conhecimento que não é impostura é, em suma, auto-conhecimento. E a educação, mais do que nunca, jamais poderá, neste contexto, ser confundida com treinamento, ou com mera instrução. No pensamento de Cornelius Castoriadis, o conhecimento e, por conseqüência, o conhecimento escolar ocupam um lugar de destaque, definindo o caráter autenticamente democrático de uma sociedade. Pois, na medida em que, rompendo com o fechamento das verdades instituídas, o conhecimento passa a significar uma «interrogação permanentemente aberta», voltada para a integralidade das questões que interessam à existência humana, ele já pode ser, ou antes, deve necessariamente ser assimilado à instituição da própria autonomia humana, individual e coletiva. Segundo Castoriadis, a sociedade e tudo que a compõe – valores, formas, necessidades, afetos – são criações humanas, ou, mais precisamente, do «coletivo anônimo» que a constitui. Não há democracia sem conhecimento: e, nas sociedades democráticas, cabe ao conjunto de indivíduos determinar quais, exatamente, são os conhecimentos que, tornando-se indispensáveis para a plena participação do total de indivíduos, não podem ser atribuídos de forma exclusiva a alguns, especialistas ou elites, mas a que todos devem ter igual acesso. Para Castoriadis, numa democracia, a atividade política é, antes de mais nada, exatamente a atividade de «…criação do participável social e das condições, vias, meios, assegurando a cada um o acesso a este participável. O conhecimento escolar é meio, no sentido mais político que pode assumir: instrumento de fabricação de uma unidade que não é ausência de conflitos e divergências, mas igualdade de participação na criação e na gestão do espaço comum a todos. Assim, se o conhecimento escolar é meio, e dos mais preciosos, de justiça e de autonomia social, ele também deve ser dito fim, ou deve ser visto como parte necessária dessa finalidade maior, que é a autonomia individual, na qual todo projeto coletivo forçosamente se apóia. Paixão que, definitivamente, é a experiência mais legítima que cabe aos professores comunicar a seus alunos.

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