Ensaio Alfabetização e Letramento
Por: kamys17 • 5/4/2018 • 2.555 Palavras (11 Páginas) • 366 Visualizações
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O autor ainda apresenta outra crença dos antigos métodos que diz respeito a “prontidão”. Acreditava-se que a alfabetização só poderia funcionar se o aprendiz se encontrasse no “estado de prontidão” para receber os ensinamentos dos professores. Em virtude dessa ideia, surge a teoria da “carência cultural” e dos programas de educação compensatória. Assim, as crianças de camadas populares fracassariam, por serem “culturalmente carentes” e para evitar esse fracasso, a escola deveria compensar essas carências através de atividades em que as crianças eram treinadas a traçar linhas sinuosas, cobrir pontilhados, copiar letras soltas, separar figuras e objetos que estavam à direita ou esquerda, etc. Isso, segundo Morais (p.42) “pode nos ajudar a compreender por que os índices de fracasso permaneceram aterrorizantes, como vimos nos dados apresentados, no início deste texto.”.
Agora, percorreremos a vertente da Língua como um sistema notacional, em que a escrita alfabética é evidenciada como um sistema notacional que necessita ser compreendido como ferramenta simbólica e não como um código de transcrição da fala. As notações representam conceitos que formulamos em nossas mentes (significados) e as palavras ou suas partes (significantes). Por isso, MORAIS, utiliza-se da história e de exemplos com o intuito de desmistificar as expressões “código”, “decodificar” e “codificar”. No capítulo intitulado “Se a escrita alfabética é um sistema notacional (e não um código), que implicações isso tem para a alfabetização?”, o autor ainda defende que o enfoque da escrita alfabética como sistema notacional é necessário para se constituírem didáticas da alfabetização que, deixando de lado os velhos métodos, permitam o alfabetizar letrando.
Em virtude do tratamento ao sistema alfabético e aos processos de alfabetização, Morais afirma: “alfabetizar não é só saber codificar e decodificar”, mas articular um mínimo de conhecimentos letrados para a formação de sujeitos alfabetizados, que se apropriam dos aspectos distintos da linguagem e da escrita alfabética. Assim, a escrita alfabética deve ser considerada um objeto de conhecimento em si, na perspectiva de alfabetizar letrando. Por isso, para dominar um sistema notacional, como a escrita alfabética, o indivíduo precisa desenvolver representações sobre como ele funciona, como também sobre suas propriedades.
O processo de alfabetização e aquisição da língua sofreu um grande impacto evolutivo a partir da publicação da obra “Psicogênese da Língua Escrita”, desenvolvido pelas pesquisadoras argentinas Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Em sua obra, as autoras investigam os mecanismos utilizados por professores e instituições no procedimento de aprendizagem da leitura e escrita de crianças em fase de alfabetização. Essas pesquisas, bem como outras desenvolvidas por Ferreiro, foram motivadas pelos elevados números de fracasso escolar observado em países sul-americanos. Com isso, Ferreiro, um dos mais conceituados nomes da psicolinguística, nos apresenta uma nova concepção acerca dos métodos de alfabetização, a psicogênese da escrita, expondo os antigos métodos tradicionais de ensino e instigando uma reflexão quanto à prática de diversos educadores.
A concepção da psicogênese da língua escrita admitido por Ferreiro e Teberosky busca aporte teórico no construtivismo de Piaget, teoria que compreende o aluno como o centro do processo de aprendizagem, e traz o professor como não um mero transmissor de conteúdo, mas sim um mediador desse processo. Tanto as concepções de Piaget quanto a das autoras trazem que a criança desempenha não mais um papel passivo como no ensino tradicional, nessas teorias ela passa a ter papel ativo no processo de aprendizagem, ou seja, o aprendiz é aqui o sujeito na construção do conhecimento, fazendo com que o foco das teorias de ensino seja redirecionado para uma nova metodologia de aprendizagem.
A teoria da psicogênese da língua escrita revela o artificialismo dos textos de cartilha, ferramenta usada no processo de alfabetização do ensino tradicional, relatando que esse suporte contribui diretamente no analfabetismo e fracasso escolar. Os textos de cartilha valorizam apenas os aspectos exteriores da escrita, como saber desenhar a letra e a capacidade do aluno reproduzir o que está escrito no quadro pelo professor. Existe a introdução de palavras que são tratadas como simples e sonoras, mas que não estão ligadas a qualquer contexto, e, portanto, não consideram a natureza e organização da escrita.
A pesquisa das autoras argentinas aponta também que o fracasso escolar é motivado, além disso, por problemas sociais, uma vez que a o método tradicional não compreende a função social da escrita. A diferença dos níveis de alfabetização está diretamente ligada ao contado que o aprendiz tem com textos escritos e lidos, especialmente antes do seu ingresso na escola. Com isso, é observado que a disparidade de desempenho não estabelece uma falta de capacidade ou falta de vontade do aluno, mas sim, como a desigualdade social e econômica atuam na desigualdade de oportunidade educacional.
A teoria da psicogênese da escrita sugere que a criança passa por quatro fases antes de estar alfabetizada, que se organizam da seguinte forma:
a) pré-silábica: o aluno não relaciona a escrita com a língua falada;
b) silábica: o aluno relaciona a sílaba, oralmente, a uma única letra, atribuindo todo o valor de sentido a ela;
c) silábico-alfabética: o aluno começa a grafar algumas sílabas completas, mas ainda mesclando com a fase anterior;
d) alfabética: o aluno reconhece e relaciona o valor das sílabas e letras.
A pesquisa de Ferreiro e Teberosky, que resultou nas concepções da psicogênese da língua escrita, nunca se propôs a ensinar um novo método pedagógico, mas sim, apontar equívocos em determinadas práticas de ensino que contribuíam com o nível de analfabetismo e evasão escolar. Dessa forma, o aluno passa a ter mais voz em sala de aula, e ser de fato o sujeito do conhecimento. Além disso, a pesquisa contribuiu de forma inquestionável para muitos educadores e instituições reverem suas práticas de ensino.
Quando tratamos de Consciência Fonológica, compreendemos a habilidade metalinguística de tomar consciência dos processos formais da linguagem, isto é, reconhecer que frases, palavras e sílabas podem ser fragmentadas em unidades menores e distintas, além de que as palavras são formadas
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