A EROSPOÉTICA DE HILDA HILST E ANNE SEXTON
Por: Juliana2017 • 24/12/2018 • 3.025 Palavras (13 Páginas) • 491 Visualizações
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Anne Sexton compõe esse grupo e pesar de ser um nome renomado da literatura norte-americana, ainda é pouco estudada no território brasileiro. Como não há livros dela publicados em língua portuguesa, dificulta a popularização da obra, portanto, é escasso o número de pesquisas sobre a escritora e os poucos trabalhos que existem são com foco na representação feminina ou no confessionalismo[2], assim, é inexistente uma pesquisa sobre o erotismo na poesia dessa autora. A escritora foi alvo de críticas ásperas por escrever sobre os domínios de Eros, porém foi um marco na tradição literária feminina, pois com seu estilo singular, celebrou o corpo, que frequentemente era visto como espaço de dominação masculina, e cortejou o amado, algo pouco comum já que esse seria um papel do homem. Sexton não utilizou uma escrita obscena, mas transgrediu todos os padrões tradicionais “femininos” unindo-o ao amor espiritual o amor carnal.
Mesmo com toda a repressão sexual que as mulheres sofreram na literatura, elas escreveram textos eróticos de qualidade, o que justifica o estudo sobre o erotismo na obra de Anne Sexton tendo sua relevância não apenas para o fortalecimento da tradição literária feminina, mas para enriquecer os estudos sobre gênero, pois é possível analisarmos o sentimento erótico, assim como o corpo a partir da visão feminina, com outras experiências e novas maneiras de vivenciar. Espera-se com essa pesquisa contribuir para os estudos sobre a poesia de Anne Sexton, que ainda é timidamente explorada, mas que é referência devido ao seu estilo de escrita confessional, seu forte teor erótico e um papel ativo e autônomo dentro dos poemas.
Se a literatura assim como as outras obras de arte pode interferir na ordem social, ter personagens criadas a partir de uma visão feminina contribui para o empoderamento das mulheres já que a exposição de personagens fortes, independentes e donas das próprias histórias, capazes de enfrentar desafios ou desejar sexualmente podem criar um espaço de permissão diminuindo o peso das convenções sociais.
PROBLEMA DE PESQUISA
De acordo com Zolin (2009), o texto literário tornou-se uma preocupação, devido à representação das personagens tradicionalmente construídas, pois elas disseminavam estereótipos que formavam o “ideal”, que em tudo as mulheres deveriam ser submissas, dependentes econômica e psicologicamente do homem, reduplicando o estereótipo patriarcal, dessa forma, as mulheres passam a ser engendradas como sendo conscientes de sua condição de inferioridade.
Essa romantização da submissão feminina propaga a ideia de que esse é um padrão que deve ser seguido, de que é bonito assumir um papel de dependencia, e que a submissão ao amado é um sinal de amor. Dessa maneira, o patriarcalismo atribuiu para submissão aos “encantos” do erotismo feminino devido a cobrança à castidade, e a forte repressão sexual. Foi “negado” as mulheres o direito de sentir, de expressar o desejo, de celebrar o próprio corpo ou o corpo do amado. Se era inadmissível que uma mulher mostrasse interesse sexual mesmo que fosse para o próprio marido, explorar esse assunto em uma produção literária seria, portanto, um escândalo.
Quando pensamos no texto literário, percebemos que o número de escritoras é bem menor que o número de escritores, e poucas dessas são consideradas cânones na literatura. Por essa razão, é possível levantar questionamentos a respeito da tradição literária feminina: quem foram às mulheres que conseguiram destaque, quais as precursoras e o motivo de serem pouco reconhecidas, já que os manuais de literatura trazem poucos ou até mesmo nenhum nome feminino. As poucas que existiam eram geralmente brancas e de família rica, e que mesmo assim enfrentaram várias dificuldades não só no processo de aceitação, mas também de produção de suas obras. Levando em consideração as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no processo de escrita, é pertinente nos questionarmos quem são e como quebraram essas barreiras escrevendo sobre um tema tão polêmico como a sexualidade.
OBJETIVOS GERAIS
Pesquisar e refletir sobre a tradição literária feminina, suas dificuldades e principalmente sua participação na literatura erótica que além de ser considerado por muitos como uma leitura inferior, é um assunto que por muito tempo permaneceu vetado ao público feminino. Problematizar sobre a construção do senso comum que alega que as mulheres possuem menos desejos que os homens, assim como mostrar a maneira que as mulheres representam o amor, o sexo e o próprio corpo tomando como objeto de estudo as poesias de Anne Sexton, mas levando em consideração todo o conjunto de sua obra, buscando observar suas escolhas, símbolos, metáforas e ideologia presente nos textos que compõem seu fazer poético.
OBJETIVOS ESPECIFICOS
- Pesquisar a definição e as características do texto erótico.
- Fazer um levantamento das escritoras que utilizaram esse tipo de escrita, compondo assim uma tradição erótica feminina.
- Observar quais escritores e fatores externos influenciaram a obra de Sexton e de que maneira ela contribuiu para a disseminação dos ideais feministas.
- Como se trata de um texto confessional, perceber como a vida e experiência da escritora foi utilizada em sua poética.
- Observar como a Anne Sexton aproxima o sentimento erótico à morte.
REFERENCIAL TEÓRICO
O erotismo de acordo com o dicionário Aurélio significa a manifestação explicita da sexualidade, porém o texto erótico não é apenas uma descrição das relações sexuais, é algo que envolve a mente, a fantasia, percebemos como a imaginação é algo imprescindível para o amor erótico, pois é a partir dela que idealizamos e vivenciamos o prazer, é através da imaginação que seduzimos e provocamos o outro. Como cita Durigan (1985, p. 8), “o erotismo não imita a sexualidade, ‘é sua metáfora’. O texto erótico é a representação textual dessa metáfora.” Ou seja, o erotismo mesmo envolvendo a sexualidade, transcende-a ao acrescentar um caráter psicológico.
Podemos ter uma melhor noção desse sentimento ao pesquisar sobre o mito grego que deu origem ao termo erotismo, o deus grego Eros. Os deuses haviam oferecido um banquete para Afrodite, dentre os convidados estava Poros (Riqueza), e próximo à entrada estava Pínia (Pobreza) mendigando os restos de comida. Ao perceber que
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