Lista de Personagens de Frei Luís de Sousa
Por: kamys17 • 23/12/2017 • 2.473 Palavras (10 Páginas) • 379 Visualizações
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• Idealismo político no combate à tirania dos governantes em nome do rei estrangeiro, no entusiasmo posto na ideia e nas palavras com que visiona e esboça a resistência contra a prepotência dos governantes que querem ocupar o palácio de Manuel (I,5), nas palavras cheias de sabedoria com que traça o dever de o rei natural ficar junto do povo, amparando-o na miséria e no perigo: “Pois rei não quer dizer pai comum de todos?” (I,5).
• Maravilhosos dons de coração: a meiguice, espelhada nos olhos, que abranda a hostilidade, as prevenções e a dureza de Telmo, a quem Maria por fim cativa; a ternura pela mãe e pelo pai (II,2), a bondade, a ingenuidade, somados à intuição clarividente com que descobre os “mistérios” da família, e identifica D. João de Portugal (III,12), e ao poder da profecia na interpretação dos sonhos (I,4), nas vozes misteriosas que ouve, na crença da influência das estrelas nos destinos humanos; “feiticeira”, lhe chama o pai (II,3).
• Um conhecimento íntimo de si própria, que escapa aos familiares: “O que eu sou… só eu o sei, minha mãe… E não sei, não sei nada, senão que o que devia ser não sou…” (I,4).
• Carácter varonil, revelado no desejo de ter um irmão: “um galhardo e valente mancebo capaz de comandar os terços de meu pai…” (I,4), na cena do incêndio: “Meu pai, nós não fugimos sem vós” (I,12), nas imprecações terríveis proferidas (III,11).
• Marca do Destino: fragilidade de saúde (tuberculose, doença “romântica” incurável; compare-se com a loucura ou a epilepsia, considerada na Antiguidade “mal sagrado”, resultante da maldição dos deuses) e ainda a ilegitimidade do nascimento. “Morro de vergonha”, são as suas últimas palavras (III,12).
Manuel de Sousa Coutinho
Manuel de Sousa Coutinho é nobre: confrontem-se as palavras do Acto I, onde se diz: “o retrato de um cavaleiro moço, vestido de preto, com a cruz branca de S. João de Jerusalém”, com as palavras de Maria (I,4): “o retrato daquele gentil cavaleiro de Malta que ali está”, e com as de Madalena (I,2): “Ora, um cavaleiro de Malta”.
O ingresso na Ordem militar de S. João de Jerusalém, também chamada dos Hospitalários, ou do Hospital, e por fim de Malta, era rigorosamente limitada aos membros da aristocracia, aos quais se exigia certificado de nobreza.
O nome de Manuel é bíblico. É um dos nomes do Messias e significa “Deus connosco”, significado que não fica mal a esta personagem, dada a boa-fé com que se casara com a viúva de D. João de Portugal, a tranquilidade e a paz de consciência que daí lhe advinha, revelada na resposta aos melindres de Madalena, por ter de regressar ao lar onde vivera com D. João (I,8), na vivência cristã da graça de Deus pela contrição do coração (II,3), pelo contentamento de viver e conviver com os frades de S. Domingos como de portas a dentro, quase no início da mesma cena, no desapego dos bens materiais, “coisas tão vis e tão precárias”, no desamor pela própria vida, “vida miserável que um sopro pode apagar” (I,11).
Para Telmo, ele é “fidalgo de tanto primor e de tão boa linhagem, como os que se têm por melhores neste reino em toda a Espanha” e, mais adiante afirma “Manuel de Sousa… o Senhor Manuel de Sousa é um guapo cavalheiro, honrado fidalgo, bom português”(I,2), em complemento do que já dissera no começo da mesma cena: “não sei latim como meu senhor… quero dizer como o Senhor Manuel de Sousa Coutinho – que, lá isso!... acabado escolar é ele. E assim foi seu pai antes dele, que muito bem o conheci, grande homem” (I,2). Igual alusão à grandeza de Lopo de Sousa Coutinho, pai de Manuel e de Jorge.
Para Madalena: “Ele é tão bom mareante.” (I,2), de antes quebrar que torcer, no conceito mirandino: “Aquele carácter inflexível de Manuel de Sousa…”, mas objecto do seu amor total: “marido da minha alma” (I,8), “Esposo do meu coração” (II,7)
Maria, para quem o pai é objecto de amor e ternura, nota-lhe a beleza: “Como era bonito meu pai. Como lhe ficava bem o preto…” (I,4), admira-lhe as qualidades de poeta (II,2) e de português às direitas: “Meu pai, que é tão bom português que não pode sofrer estes castelhanos” (I,3), embora não compreenda a repugnância do pai em aceitar que D. Sebastião não morreu.
Outras características:
• Beleza e nobreza, aliadas à inteligência e à cultura universitária, que o tornam invejado pelos poderosos (Madalena, I,7);
• Amor à pátria e à liberdade;
• Culto da honra cavalheiresca;
• Generosidade e nobreza de alma;
• Belos instintos morais, adoçados por uma Fé cristã vivida;
• Desapego dos bens materiais e até da própria vida;
• Sentido de serviço para com a comunidade a que pertence, no exemplo de resistência ao rei estrangeiro;
• Dons de sensibilidade e de coração para com a esposa, de ternura para com a filha, de amizade para com Telmo, apesar de certa relutância (inicialmente) por parte deste;
• Na hora em que lhe bate à porta “o arcanjo das desgraças” (III,1), digno e coerente perante o irremediável, insensível às súplicas de Madalena, resignado na hora da separação, de plena vontade e em plena consciência entra na Ordem dos Pregadores;
• Por um momento acabrunhado pala desgraça (III,1), angustiado pela doença e pela situação presente e, sobretudo, futura da filha, ele é uma figura heróica, um carácter viril e coerente, que forja no sofrimento, voluntariamente, a sua glória de escritor.
D. João de Portugal
D. João de Portugal é nobre: nobreza de sangue que vinha do pai “aquele nobre conde de Vimioso”, diz Madalena a Telmo (I,2). E Telmo, o fiel servidor, mais adiante, na mesma cena, chama-lhe “espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor dos bons”.
Manuel, seu rival, que o respeita e honra a sua memória (I,8), diz: “Aquele era D. João de Portugal, um honrado fidalgo e um valente cavaleiro” (II,2), para logo acrescentar a seu respeito: “as qualidades de alma, a grandeza e valentia do coração, e a fortaleza daquela vontade, serena mas indomável, que nunca foi vista mudar. Tua mãe ainda hoje estremece só de o ouvir nomear; era um respeito… era quase
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