A ANÁLISE CRÍTICA DO CONCEITO DE CULURA TROPICAL
Por: kamys17 • 24/6/2018 • 2.923 Palavras (12 Páginas) • 559 Visualizações
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- Resultados
- Caçadores – coletores na Amazônia
Criou-se um estereótipo das sociedades além- mar é retratado na chamada “literatura de viagem”, que descrevia esses povos como uma forma de vida inferior, selvagem, com economia baseada na caça e na pesca e com coleta de recursos silvestres (FALCON, 2000; Laplantine, 1991)
Segundo Lee e Daly (1999), quem formulou pela primeira vez o conceito de caçador coletor foi William Sollas em 1911. Esse conceito foi criado à base de pesquisas etnográficas de sociedades caçadoras coletoras atuais.
Steward (1948) desenvolveu sua teoria postulando três tipos de organizações de bandos primitivos, ou seja, caçadores coletores: bando patrilinear, bando matrilinear e bando composto.
Para Servive (1936), os bandos compostos eram o resultado da influencia do contato com o europeu. Portanto, os bandos patrilocais foram as primeiras formas de organização da história humana, a base da organização dos caçadores coletores.
Meggers (1937) propôs um novo modelo de ocupação da América de Sul baseado no potencial agrícola: 1. Áreas sem potencial. 2. Áreas com potencial limitado. 3. Áreas com potencial limitado sendo que para a Meggers a Amazônia era caracterizada pelo tipo 02. Já para Roosevelt (1991) chega a sugerir a existência do0 tipo 04 como a ilha do Marajó. Lathrap (1972) sugeriu que esses grupos não teriam condições de sobrevivência na Amazônia somente da coleta e da caça sem carboidratos.
Podemos afirmar portanto, os modelos limitantes que tentam explicar a existência de caçadores coletores na Amazônia. A existência de grupos vivendo em áreas de cerrado e a permanência dessas sociedades na floresta por meio de sistemas de trocas que possibilitam o acesso a carboidratos. Até recentemente a escassez de vestígios arqueológicos contribuía para essa visão limitadora. Mas as recentes pesquisas arqueológicas evidenciam a presença de sociedades pré-agricultoras na região.
Segundo Chagas (2007) hoje quando nos referimos às sociedades de caçadores-coletores que vivem em ambientes de floresta tropical, podemos observar que elas desenvolveram mecanismos de adaptação aos fatores ambientais como, por exemplo, o manejo de plantas de modo que esse conhecimento os auxiliam a um maior controle da disponibilidade espacial e temporal dos recursos ambientais.
Para Magalhães (2010) foi graças a Ecologia Histórica, que vem se consolidando estudos sobre o manejo ambiental realizado por sociedades étnicas tradicionais contemporâneas. Foram trabalhos pioneiros como os de Posey (1987), junto aos Kayapó e Balée (1995), juntos às populações tradicionais em geral, que descortinaram o potencial desses estudos. Eles mostraram que essas populações modificam os ambientes que exploram, aumentado o seu potencial produtivo e a diversidade na cobertura vegetal e que a organização social delas, nada mais é do que o reflexo dessas práticas. Inclusive Balée sugeriu que até 10% da cobertura vegetal das matas amazônicas seriam de origem antrópica. Porém é possível afirmar que já não resta dúvida de que a população indígena anterior à conquista europeia, na Amazônia, muito provavelmente, foi bastante alta, então é válido afirmar que o potencial da floresta com influência antrópica seja muito maior que os 10% proposto por Balée.
A arqueologia vem contribuindo enormemente para a mudança de perspectiva dessa ciência junto à Arqueologia da Paisagem a qual reconcilia o Homem com a natureza ao considerar a paisagem como obra cultural. “Essa arqueologia anti-humanista se manifesta com mais exatidão quando se trata da inserção humana no meio natural, especialmente através do estudo das paisagens enquanto artefato cultural e produto das relações humanas. E, no entanto, apesar de paisagem já implicar em uma ação cultural, sua definição se dá não pelo que ela tem de artificial, mas pelo que ela tem de natural.” (MAGALHÃES, 2010)
Portanto, com a descrição feita aqui, pode-se perceber a evolução do conceito de caçador-coletor onde a sociedade pioneira na Amazônia abandona o papel limitador de caçador-coletor para caçador-coletor-pescador-horticultor-agricultor e agente da formação da própria floresta tropical.
- Cultura de floresta tropical
Segundo Neves (1999-2000) o conceito de cultura de floresta tropical foi definido por Steward (1948) e Robert Lowie (1948) no terceiro volume do Handbook. Como foi citado por Carlos Fausto (2000) para organizar a diversidade das culturas do continente, Steward propôs classifica-las em quatro tipos hierarquizados pelo nível de complexidade.
Em primeiro lugar, povos marginais que seriam predominantemente caçadores coletores nômades, vivendo em pequenos bandos e retirando seu sustento em ambientes inóspitos. Viveriam no Cone Sul, no Chaco e no Brasil Central.
Em segundo lugar, as tribos da floresta tropical que viveriam em aldeias mais permanentes, porém dispersas no território, em número maior de pessoas, graças à agricultura de queima e coivara e à exploração de recursos aquáticos, mas careceriam de instituições propriamente políticas. O principio organizacional era o parentesco. Viveriam em quase toda a Amazônia, na costa do Brasil e das Guianas e os Andes meridionais.
Em terceiro lugar, na região circumcaribenha e nos Andes setentrionais, apareceria outro tipo de formação social caracterizada por um desenvolvimento inicial de centralização política e religiosa, estratificação em classes e intensificação econômica. Steward considerava que essas sociedades haviam ultrapassado o nível de organização social baseado apenas em laços de sangue. Grupos fundados em categorias de parentesco, idade e sexo davam lugar a classes sociais e à especialização ocupacional. O poder e a religião institucionalizavam-se levando ao aparecimento de chefes supremos, sacerdotes, templos e ídolos.
Em quarto lugar, uma civilização que se desenvolveu nos Andes Centrais e na Costa do Pacífico, e que teve como ponto culminante do império Inca. Populações densas, sistemas intensivos de produção agrícola, criação intensiva de animais, aparelhos estatais desenvolvidos com formas sofisticadas de administração pública e extração de atributos, estratificação social, especialização e desenvolvimento de técnicas como a metalúrgica; tudo isso faria do mundo andino uma exceção frente às outras sociedades do continente.
Segundo o pensamento de Steward pode-se dizer que o desenvolvimento das culturas de floresta tropical
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