FRONTEIRA: TROCAS COMERCIAIS ENTRE TIJUANA E SAN DIEGO
Por: Salezio.Francisco • 27/9/2018 • 5.190 Palavras (21 Páginas) • 356 Visualizações
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Sendo assim, ao focalizar a fronteira é essencial compreender que este fenômeno não se limita às concepções de divisão territorial, mas que envolve também diversos fluxos geopolíticos. Dessa forma, faz-se necessária a interpretação do conceito geográfico de fronteira. Esse conceito é comumente associado ao conceito de limite como sinônimo, porém, de acordo com diversos geógrafos (apud Ferrari, 2014), tal associação se dá de forma equivocada. Desse modo, devido à grande relevância de ambas as definições para a elaboração do trabalho, faz-se o uso das mesmas separadamente.
De acordo com a discussão promovida pelo artigo “As noções de fronteira em geografia” de Maristela Ferrari (2014), o conceito de fronteira remete a uma área ou zona geográfica que se localiza entre dois Estados ou sistemas, onde ocorrem diversas trocas materiais, culturais e sociais entre as populações residentes da área. Assim, conclui-se que a fronteira é, além de um fenômeno geográfico, um fenômeno social, cultural e econômico.
Segundo a análise do artigo (Ferrari,2014), o conceito de limite diz respeito à demarcação física ou cartográfica sobre um terreno, de modo que seja possível identificar o fim ou o início de um território pertencente a determinado domínio político. A partir da definição do conceito de limite, é fundamental abordar também o conceito de território através de uma perspectiva caracterizada por um viés geopolítico na visão de dois geógrafos, Marcelo José Lopes de Souza e Rogério Haesbaert (apud BLUM 2014), que abordam, de maneira mais próxima, o conceito de território utilizado no trabalho.
Para Souza (apud BLUM 2014) o território é um espaço no qual são exercidas relações de poder que o definem, o dominam e o influenciam. Já para Haesbaert (apud BLUM 2014), o conceito de território abarca três diferentes aspectos pelos quais é possível analisar a apropriação do espaço e suas respectivas relações de poder, segundo aspectos culturais, políticos e econômicos. Devido às características do trabalho, será analisado o território, primordialmente, através dos aspectos políticos e econômicos.
De acordo com Haesbaert, a análise econômica do território se dá através da extensão e importância das relações econômicas realizadas no mesmo e pelos indivíduos que o habitam, desde os acordos econômicos às relações trabalhistas. Concomitantemente, é preciso analisar o território quanto aos recursos naturais oferecidos pelo mesmo e suas respectivas extrações. Já o aspecto político o analisa quanto ao poder exercido naquele espaço.
Por fim, devido à relevância da análise das trocas comerciais e aspectos sociais na fronteira, apresentando os impactos locais, regionais e globais no trabalho, faz-se necessária a compreensão do conceito de escala. Pois, de acordo com Milton Santos, “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente” (Santos, 1996:). Segundo Castro (1992), a escala remete a uma análise do espaço e dos fenômenos políticos, econômicos, sociais e culturais em diversos níveis (micro, meso, macro) a partir da perspectiva do observador.
1.6. Metodologia Operacional
Tendo como base as trocas comerciais na fronteira entre Tijuana e San Diego, definir-se-ão os principais objetivos do trabalho que servirão como guia para o desenvolvimento do mesmo. Após definidos os objetivos, será analisada a relevância desse tema por meio do levantamento bibliográfico oriundo de artigos científicos, livros, periódicos, sites e documentários expostos na bibliografia. A partir de tal esclarecimento, determinar-se-ão e pesquisar-se-ão os conceitos a serem utilizados no trabalho, em dicionários geográficos, para facilitar o raciocínio e a coerência.
Em seguida, será aprofundado o foco da pesquisa bem como seus objetivos específicos. Dessa forma, elucidar-se-á como as trocas da região fronteiriça transformam o espaço e influenciam na dinâmica dos diferentes fluxos ali presentes. Serão utilizados gráficos, mapas, dados estatísticos e outros recursos imagéticos para fortalecer nossos argumentos. O objetivo do desenvolvimento será estabelecido ao estabelecer os impactos das trocas comerciais (lícitas e ilícitas) no espaço da região fronteiriça, em suas diferentes escalas econômicas.
2 CONTEXTO HISTÓRICO
A disputa territorial entre os Estados Unidos e o México ocorreu baseada em diversos conflitos e acordos quanto à disposição territorial entre esses países. Após a realização do acordo de Guadalupe e Hidalgo (1848) o México perdeu cerca de um terço de seu território, segundo Lima, Tristuzzi e Galvão. Houve ainda, em 1854, segundo o órgão oficial estadunidense Office of the Historian, Bureau of Public Affairs, a Compra de Gadsden, através da qual ocorreu a incorporação das terras ao sul do Arizona e do Novo México aos EUA.
Territórios estadunidenses e suas origens - atentar ao Texas (em branco), a região em torno de Los Angeles (em rosa) e Arizona (em vermelho), antes pertencentes ao México.
[pic 1] Fonte: http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/O_Imperialismo_Americano_no_sec._XIX.pdf >acesso em 08/06/16
Com uma atual fronteira de 3145 quilômetros de extensão, ligando o Golfo do México ao Oceano Pacífico, segundo Caryl-Sue (2013), a complexidade das relações entre esses países não ocorreu somente com as definições dos territórios. Ela também se deu no desenvolvimento econômico da região fronteiriça e nas trocas comerciais nessa região ao longo do tempo.
A região da fronteira de Tijuana e San Diego teve sua primeira explosão econômica, segundo Ganster e Lorey (2008 apud LIMA, TRISTUZZI e GALVÃO), durante a descoberta de ouro na Califórnia. Em meados do século XIX, a prática de exploração desse recurso desenvolveu atividades industriais, agrícolas e comerciais nesse local, o que motivou o governo mexicano a estabelecer zonas de livre comércio, e, dessa forma, promover o crescimento econômico da região.
Entretanto, esse crescimento apresentou declínio a partir da Revolução Mexicana, movimento que visava a garantia de direitos da população mexicana e a reforma agrária. Por conseguinte, devido aos diversos conflitos armados e ao consequente êxodo da população, houve uma queda no comércio fronteiriço. No lado mexicano, o discurso estatal e protecionista defendido pelos governos desde a Revolução Mexicana, em 1910, se extinguiu em meio aos múltiplos choques econômicos que ocorreram nas
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