A Geografia Agrária
Por: Rodrigo.Claudino • 10/3/2018 • 2.593 Palavras (11 Páginas) • 319 Visualizações
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- ASSENTAMENTO TIRACANGA
Na chegada ao assentamento Tiracanga, fomos recebidos com a apresentação do ponto cultural, contando com sala de informática, depósito de fantasias e acessórios, bem como outros materiais para apresentações culturais. Após um momento recreativo, com a ajuda do presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais de Tiracanga II, Sr. Antônio Fernandes da Silva (Jacó), Anaclécia, filha da dona Antonieta e professora da casa de cultura, dona Antonieta, uma das assentadas e que está à frente da casa de cultura e Chicão, um dos primeiros assentados que participou de toda trajetória do assentamento; conta-se um pouco de história desse espaço, desde sua construção com apenas o terreno até a realização concreta desse lugar que serve de acesso e utilização de expressão cultural para a população. O ponto de cultura aliando forças de associações e projetos do ministério da Cultura, tem o intuito de trazer oficinas de violão, espaço de literatura, dança, entre outros. Posteriormente, foi construída a casa de cultura. Entre os mais variados nomes citados pode-se perceber o sentimento de gratidão por parte da oradora por todo esforço e dedicação prestados a construção dessa conquista. O nome do assentamento, segundo uma moradora do local, vem originalmente pôr a localidade ser, inicialmente, uma fazenda de escravos, daí o termo “tira a canga”.
Nas vozes dos morados surgem lembranças de antigos conflitos e a historicidade do local, como o ocorrido em 1985, cujo o dono do território ao lado prende dezoito pais de família na cadeia, passando estes, dezessete dias presos. Após isso e com o apoio do Frei Lucas, os mesmos foram libertos. O INCRA os manda para um terreno no qual não os agradou. Em 27 de Dezembro de 1989 o INCRA desapropriou o Tiracanga. Em 2005, com o primeiro investimento com o técnico do INCRA, compraram um gado ruim, no qual com o agravamento da seca, este veio a morrer. Existiram problemas com investimentos até surgirem propostas novas. Na localidade se planta mamona, algodão, milho, feijão, dentre outros; porém, esse ano, devido à seca, se perdeu 100% da safra. Ressalta-se a não utilização de “veneno” na produção dos alimentos. No meio da conversa, surge também o assunto sobre a participação das mulheres, principalmente no roçado, onde seu espaço e movimento ainda era limitado.
A noite é cercada por apresentações culturais. O grupo infantil sementinhas da terra e o grupo de jovens Raízes da Terra, do próprio assentamento, apresentou uma sequência de danças ao som das músicas de Luiz Gonzaga. Um outro grupo do assentamento Todos os Santos, trouxe sua história narrada ao som de músicas próprias e teatro, na peça intitulada: Narradores da Terra e do Fogo; na qual fala-se da história do próprio assentamento.
- FEIRA DE ALIMENTOS – AGRICULTURA FAMILIAR
No local visitado, próximo a basílica de São Francisco, funciona a feirinha de alimentos. Parte destes alimentos são provenientes da agricultura familiar e outra parte são de outros comerciante de Canindé. São 108 pessoas cadastradas na feira, a maioria provinda de assentamentos, cerca de apenas 10%, não.
Nos é explicado que, devido à seca, os alimentos que caberiam a parte da agricultura familiar estava vindo da Seasa, já que o açude que abastece a cidade está seco, esta decisão foi tomada em conjunto na assembleia mensal dos feirantes. Sérgio pinto, assessor técnico do território cidadania, que é uma estratégia do Governo Federal e o Governo do Estado do Ceará, juntamente com as organizações de agricultores, explana sobre a iniciativa desta feira, a partir de 2008, inicialmente sendo feita na praça. Dona Sônia, antiga moradora e uma das primeiras consumidoras dos produtos comercializados na feira fala dos produtos inicialmente vendidos, cujo todos eles eram provenientes do interior, da agricultura familiar. A feira possuiu uma dinâmica de organização regida por dias e horários, terças-feiras à tarde e noite e nas quartas-feiras até o meio dia, com tendências a ampliações.
Paulo Magalhães e “Neném”, membros da direção estadual do MST, falam da importância da feira de Canindé, que mesmo em período de fortes secas, os agricultores ainda conseguem manter suas atividades no local. Ressaltando a aproximação que a feira traz entre o campo e a cidade.
- COMUNIDADE BARRA DO BENTO
Localizada no Distrito de Monte Alegre, em Canindé, a Comunidade Barra do Bento se configura em nossos estudos principalmente devido as interferências da Igreja Batista Central em ajudar as famílias da região atingida ela seca. Por volta de 1998, a IBC, através do seu Ministério de Alcance Social, resolveu participar junto as populações interioranas afetadas pela seca, indo além de doações básicas, mas com caráter evangelizador e efetivo. Com esse objetivo, o ministério de ação social da IBC buscou junto a secretaria de Desenvolvimento agrário do Estado do Ceará informações sobre localidades isoladas pela seca. Quando se teve conhecimento sobre a necessidade que a Comunidade Barra do Bento enfrentava, membros da IBC passaram a fazer contato. Inicialmente a igreja interveio de modo emergencial, levando alimentos, assistência médica e odontológica à população. Depois, José Cleiton Nogueira, membro da IBC e um dos responsáveis pelo projeto, ficou responsável pelas visitas posteriores, estas de forma mais esporádica. Durante os seis primeiros anos as visitas aconteciam semanalmente.
Morador mais influente na região e mediador direto atualmente entre membros da igreja e assuntos relacionados a comunidade, Raimundo Rodrigues, nos relata da dificuldade que sofriam no passado. Explorações na jornada de trabalho, má remuneração e êxodo rural foram um dos assuntos pautados. A fazenda Atanásio, onde se inseria a maior parte das casas da comunidade Barra do Bento, foi comprada por recursos voluntários.
Atualmente a comunidade conta com energia elétrica, açude inteligente, projeto São José, responsável por pequenas obras hídricas, com o objetivo de aumentar o acesso das populações rurais mais pobres às atividades de geração de emprego e renda; e um prédio onde a escola funciona; ainda que simples, estes são alguns dos resultados colhidos através dos esforços da Igreja junto ao poder público e voluntariado.
Espera-se o investimento e início de construções de mais obras hídricas a fim de agir de modo benéfico sobre a convivência com o semiárido. Projetos sociais e educacionais também são planejados para a região.
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