Resumo de "Introdução a uma ciência pós-moderna" de Boaventura de Santos Sousa
Por: Kleber.Oliveira • 8/5/2018 • 1.573 Palavras (7 Páginas) • 375 Visualizações
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ciências naturais sempre tenham rejeitado vigorosamente o senso comum, nas ciências sociais não acontece o mesmo, por várias razões. Nem todas as ciências sociais consideram benévola essa rejeição. Existe também uma discordância na própria definição de senso comum e do seu efeito entre as diversas ciências sociais. E ainda, pelo facto de as teorias sociológicas virem a ser consideradas elas próprias senso comum pelas teorias seguintes, mesmo tendo as actuais combatido as teorias antecedentes sustentadas pelo senso comum. Apesar da concepção que tem sido feita acerca do senso comum ser muito depreciativa, não é completamente justo descrevê-lo como apenas negativo, porque este efectivamente orienta as acções do quotidiano. Apesar de ser infundamentado, não obedecer a um método específico e de não ser explicativo, pode ter efeitos positivos. Numa sociedade tão dividida em classes como esta, não deixa de ser injusto e conservador, mas simultaneamente não deixa de ter o seu papel na união e estabilidade social. Várias razões permitem concluir que não é inteiramente coerente contrastá-lo tão drasticamente à ciência. Uma delas é o facto de o senso comum muitas vezes conter em si uma resistência aos costumes e tornar-se ele mesmo um motivo de revolução. Outro, é que cargas negativas semelhantes à do senso comum têm sido manifestadas por várias teorias científicas no seu impacto social. Não é completamente adequado intitular o senso comum de fixista, uma vez que este pode ter efeitos muito diversos mediante os contextos em que é aplicado. Ainda outro, é que a ciência nunca se liberta completamente de alguns preconceitos, ou seja, o senso comum é inerente a qualquer paradigma. O senso comum e os preconceitos fazem parte da nossa maneira de ser, é com base neles que agimos e que obtemos experiência. Ainda que muitas vezes errada, são a nossa compreensão do mundo. Mesmo sendo um conhecimento falso, ao subestimarmos os problemas e, com isto, não nos apercebendo deles, ao que se chama princípio da mão que esconde, faz parte do processo evolutivo, dá origem a crises e nessas crises é quando se atinge o auge de criatividade. O senso comum pode ser positivo desde que se admita mutável, tal como os paradigmas científicos.
Na primeira ruptura (na crise) quebra-se o paradigma científico, na segunda ruptura (novo paradigma científico) constrói-se o senso comum com base na ciência construída durante primeira ruptura. A segunda ruptura epistemológica produz um conhecimento mais aproximado da verdade e na época moderna expande-se mais pela população geral e não fica apenas restrito a uma elite científica, o que se tem tornado mais fácil de dia para dia com a evolução da tecnologia no ramo da comunicação.
A desconstrução hermenêutica, isto é, a alteração da interpretação da realidade que provém da segunda ruptura epistemológica deve satisfazer algumas condições. A primeira é a contribuição para uma aproximação entre o discurso banal, do senso comum, e o discurso científico, o discurso erudito. A segunda é ter um impacto positivo na unificação entre verdade científica da ciência (conhecimento científico teórico) e verdade social da ciência (aplicação prática da ciência). Ambas fazem parte de um todo. A aplicação não deriva só do conhecimento científico, uma vez que esta direcciona a intenção da investigação e, portanto, determina também o próprio conhecimento científico teórico. A separação das duas verdades tem um impacto específico na sociedade, porque a verdade social, não é controlada pela população nem sequer pelos cientistas, mas sim pelos órgãos políticos e económicos que exercem poder na sociedade. Esta falta de controlo, que leva à formação de uma sociedade de classes é também responsável pela decadência do paradigma da ciência moderna. A segunda ruptura epistemológica requer a junção de ambas as verdades como duas partes de um todo e a valorização da verdade social da ciência, bem como a compreensão da sua possível diversidade, que tornará possível que a técnica seja uma dimensão da prática e não o inverso que é o que acontece nos dias de hoje e que reflecte a crise do paradigma da ciência moderna. A terceira é o auxílio no equilíbrio entre adaptação e criatividade. Numa sociedade nunca tão consumista como esta, bem se observa uma adaptação doentia, que muitas vezes não é mais do que comodismo e conformismo, que nos condiciona a agir em função do consumo, que nos tira a liberdade individual e social e também nos despersonaliza individual e socialmente. A aplicação das ciências sociais também não tem sido a melhor para estabelecer este equilíbrio, pois tem-se trabalhado de mais o factor de adaptabilidade na psicologia, na sociologia, na psicanálise, entre outras, também catalogando de forma muito rígida a normalidade de um comportamento, orientando o indivíduo para uma personalidade normalizada e deixando para trás a criatividade. Só assim, com a importância devida dada à criatividade,
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