Resenha sobre Rousseau
Por: Rodrigo.Claudino • 21/11/2018 • 2.249 Palavras (9 Páginas) • 348 Visualizações
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É inferido que os homens em estado de natureza não tinham nenhuma relação moral uns com os outros sendo, assim, impossível serem bons ou maus ou terem algum tipo de vício ou virtude. A partir disso, se tem a conclusão de que o estado de natureza é o mais propício à paz e ao gênero humano, uma vez que a comiseração é mais aguçada no homem selvagem do que no homem civil, levando o indivíduo a socorrer quem sofre e, assim, a piedade substitui as leis, os costumes e a virtude no estado de natureza.
Além disso, outro aspecto que muito se diferencia nos homens selvagens e nos homens em sociedade é a paixão que, juntamente à imaginação, leva os homens civilizados a praticarem atos cruéis e violentos distinguindo-se do efeito que a mesma faz nos homens em estado natural os quais recebem calmamente os impulsos da natureza e sabem aproveitar todos os benefícios que ela traz. Ademais, começaram a ocorrer algumas mudanças com o homem selvagem, mudanças essas que acarretaram toda uma nova perspectiva em relação às relações dos homens uns com os outros e consigo mesmos, resultando em uma superioridade em relação a outros animais a qual começou a ser identificada pelo homem e usada a seu favor quando essas bestas o superavam em força ou em rapidez.
À medida que esses progressos começaram a ocorrer no indivíduo primitivo verificou-se revoluções no modo de vida desses sujeitos como a distinção das famílias e das propriedades de cada uma, dessa forma, pais e filhos passaram a conviver juntos e a criarem laços a partir de sentimentos até então não existentes, de tal maneira que cada família se tornou uma pequena sociedade. Entretanto, isso não constituiu um avanço na visão de Rousseau, muito pelo contrário, compôs um novo estado de vida que limitou as habilidades do homem de arrumar um jeito para fazer as coisas por conta própria e, portanto, o enfraqueceu tanto em corpo como em espírito representando assim a primeira fonte das desgraças.
Nessa perspectiva, o uso da palavra se aperfeiçoou e assim os homens começaram a ficar cada vez mais próximos uns dos outros e, em seguida, formaram em cada região uma nação particular com seus próprios costumes, construindo a cada dia mais vínculos e sentimentos, eis que surge o amor e com ele o ciúme e as guerras. Com as relações e as reuniões mais ativas no âmbito dos indivíduos, surgiram sensações como a inveja, quando um homem desejava ser, por exemplo, tão olhado quando outro enquanto realizava certa atividade. Assim sendo, a desigualdade deu seu primeiro passo em direção ao homem primitivo, acarretando vinganças cruéis e a falta de piedade.
Rousseau faz uma exaltação ao homem no estado natural, considerando-o um ser meigo e piedoso e concluí que no momento que um homem sentiu necessidade do socorro do outro desapareceu a igualdade em virtude do surgimento da propriedade e do trabalho, que se desenvolveram também graças à metalúrgica e à agricultura. Nesse contexto, a cultura da terra começou a se desenvolver e com isso houve as primeiras divisões de propriedade, divisões essas que acarretaram as primeiras regras de justiça.
Não demorou para que o lavrador precisasse do ferreiro e assim por diante, constituindo a desigualdade, uma vez que sempre um irá ganhar menos que o outro e acabará submisso tanto as novas necessidades como a seus semelhantes, podendo torna-se escravo e mesmo sendo rico, tornar-se dependente dos serviços de outros. Há de se considerar que nesta fase o homem inaugurou uma tendência de prejudicar seu próximo por conta da rivalidade de mostrar-se melhor ou por querer ter a vida e os bens de outro. Além disso, também se instalou uma disposição à violência e aos roubos em razão de uns não conseguirem ter tudo o que outros tinham e quererem conquistar de forma errada criando, assim, a mais forte desigualdade entre os homens, bem como fazendo-os ambiciosos e maus.
Sendo assim, as pequenas sociedades constituídas por famílias se multiplicaram e viraram diversas sociedades desenvolvidas, onde a liberdade natural foi destruída e a lei da propriedade privada e da desigualdade se fixaram. As formas de governo de cada sociedade mostraram formas diferentes dos homens agirem, porém em maioria os cidadãos quiseram conservar sua liberdade, algo que não ocorreu em sua plenitude.
Os chefes de estado ao longo do tempo foram se tornando hereditários e vendo seus concidadãos como escravos, não lhes proporcionando nenhum benefício ou ajuda. Esse poder arbitrário constituiu um dos pilares para a consolidação da desigualdade nas sociedades como um todo, juntamente à criação das leis e do direito à propriedade e à instituição da magistratura, na visão de Rousseau. Sendo desse modo inegável concluir que o poder, o mérito pessoal e a riqueza são até hoje meios de se medir em sociedade, há um desejo nos indivíduos de terem uma reputação impecável o que resulta em uma constante rivalidade entre os homens e em diversas reações catastróficas para a espécie humana.
Rousseau concluí afirmando que justiça se extingue com a desigualdade, uma vez que a lei seguida é a lei do mais poderoso e do mais forte. Ademais, declara que o homem selvagem difere do homem social em muitas propriedades, enquanto o homem em estado de natureza de nada nem ninguém depende e apenas deseja sua liberdade, o cidadão necessita de tudo e de todos, está sempre trabalhando para alcançar algo que ainda não lhe pertence e não mede esforços para agradar os ricos e assim conseguir alguma vantagem. Em suma, o homem sociável se importa demasiadamente com a opinião alheia e praticamente depende dela para formar uma ideia sobre si próprio enquanto o homem selvagem vive em si mesmo.
Dessa forma, a desigualdade humana é quase inexistente no estado de natureza, de acordo com Rousseau, e encontra seu desenvolvimento nas faculdades do espírito humano deparando-se com uma legitimação pelas leis positivadas, as quais muitas vezes contrariam as leis naturais em virtude de a desigualdade moral não ocorrer conforme a desigualdade física.
O texto “O discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens” pode ser muito aplicado nos tempos atuais, uma vez que o homem, agora mais civilizado do que o homem social o qual Rousseau fazia menção em sua época, continua a fazer mal a seus semelhantes, sempre tentando se sobressair e tirar vantagem às custas dos outros. Nesse ponto de vista, facilmente se encontra alguém tendo atitudes consideradas erradas e até imorais apenas para obter prestígio social ou riqueza, a vontade que Rousseau descreve como uma multiplicação das paixões gera diversos conflitos o que torna os homens inimigos uns dos
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