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Parmênides e o Não-ser

Por:   •  21/1/2018  •  1.843 Palavras (8 Páginas)  •  329 Visualizações

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O próprio Parménides considerava-se um filósofo da Physis (filósofo da natureza) e muitas das suas ideias sobre o mundo e a existência, como a sua concepção dos tempos passado, presente e futuro como um só, absoluto e uno, por muito estranhas que parecessem, foram mais tarde encaradas seriamente pela física. «Perante uma hipotética visão aguçadíssima que tudo visse, não haveria tempo “que corre” e o universo seria uma bloco de passado, presente e de futuro.» ─ Sete Breves Lições de Fìsica

Parece que a metafísica está inerentemente ligada à física, da mesma maneira que os filósofos racionalistas, como Descartes ou Espinosa, estavam ligados à matemática.

Mas antes de continuar, é importante fazer, então, uma pequena suma da doutrina filosófica do autor Parménides, já que é ele o centro de gravidade de toda esta problemática.

«O ser é, e o não-ser não é.», tal é a dupa tautologia que resume a filosofia do autor.

O ser é imutável, imóvel e indivisível. Por isso, a geração e a destruição são impossíveis. «Nem é divisível [o ser], pois que é homogéneo; nem é mais aqui e menos ali. O que impediria de manter a coesão, mas tudo está cheio do que é. Assim, é todo contínuo: pois o que é aproxima-se do que é» ─ Os Filósofos Pré-Socráticos.

(Por razões logísticas, assume-se que todas as citações concernentes a Parménides, advêm da obra Os filósofos Pré-Socráticos.)

O não-ser é uma impossibilidade. Não existe. Tudo o que existe é o ser.

Existem duas vias possíveis para o conhecimento: a verdade e a opinião. A opinião é enganosa e ilusória e advém das conclusões precipitadas tiradas através das nossas experiências sensoriais. A verdade consegue-se através do uso do pensamento, razão e lógica. «Convém que tudo aprendas, seja o ânimo inabalável da rotunda verdade, sejam as opiniões dos mortais, em que não há verdadeira confiança»

Retomando então o nosso encadeamento de ideais, deve-se salientar que não só na ciência encontramos ecos das ideias sobre o nada de Parménides.

É interessante pensarmos como, também teologicamente, as conceções do autor grego do ser como automático exclusor do não-ser, têm fortes repercussões. Mais que tudo, na questão da morte.

Numa rápida compulsão do dicionário, surge-nos esta definição:

Morte: n.f. 1 ato ou efeito de morrer 2 interrupção definitiva da vida; termo da existência 3 MEDICINA cessação das funções vitais 4 desaparecimento gradual; acabamento; fim 5 extinção total; destruição

Atentemos nesta última definição: «extinção total; destruição».

«Não te permitirei que digas ou que penses a partir do que não é: pois é indizível e impensável o que não é (…) Nem a força da persuasão consentirá que, junto do que é, algo possa surgir alguma vez do que não é. Por isso a justiça jamais soltou a grilhetas para lhe permitir nascer ou perecer, antes as segura firmemente.(…) E como poderia ser no futuro o que é? Como poderia gerar-se? É que, se se gerou, não é: nem é, se alguma vez vier a ser no futuro. Assim se extingue a geração, e a destruição é coisa inaudita.»

Por este excerto da obra de Parménides, percebe-se que a destruição ou desaparecimento do que quer que seja, são ocorrências que não existem nem são permitidas na teoria do autor. O que significa isto para o conceito de morte, que muitos consideram ser a porta para o vazio eterno? Se a morte não conduz ao nada, conduz então ao ser ? De que maneira? Parece impossível saber.

Parménides considera que tudo é inamovível e imutável. Não há transformação, que é apenas uma ilusão dos nossos sentidos. O ser é como sempre foi e sempre será, E o não-ser não existe. Não pode haver geração, porque isso significaria que o ser surgiu do não-ser, o que é impossível. Nem pode haver transformação, porque isso significaria que o ser teria de deixar de ser o que é num dado momento, para se tornar noutra coisa no momento seguinte. Ora, tal também é impossível, porque isso implicaria que o ser que já não é, tenha desaparecido, tornado-se em nada ─ coisa impossível.

«O ser é, o não-ser não é». Com esta enunciação, Parménides faz do ser a única realidade que pode ser pensada e dita.

Mas será possível livramo-nos, conceptualmente, do «nada» dessa forma?

Platão argumenta, no Sofista, que é preciso, de alguma maneira, conceber a existência ao não-ser, se queremos pensar, falar e filosofar. Efetivamente, dizer o que é uma coisa, é dizer ao mesmo tempo o que ela não é.

«Qualquer determinação é uma negação.», escreveu Espinosa.

Assim, pelo menos no campo teórico, do conceptual, das ideias, é impossível fugir do nada, pois ele está inelutivelmente ligado, nem que seja numa dimensão linguística-conceptual, à palavra/conceito «ser».

Se isso pode acontecer sem que haja uma referência a «algo», implícita no conceito do «nada», tal é toda uma questão epistemológica e linguística em si mesma, já intensamente desenvolvida por filósofos como Saul A. Kripke , no seu livro O Nomear e a Necessidade.

Contudo, é verdade que o próprio Parménides considerava que o pensamento fazia parte do real, e que por isso tudo o que fosse passível de ser pensado, teria de existir.

“«Assim como é, em qualquer momento, a mistura dos membros errantes, assim também está presente nos homens a mente; pois o que pensa é a mesma coisa, nomeadamente a substância dos seus membros, em todos e cada um dos homens; é que o que prepondera é o pensamento» ─ pois considera a perceção e o pensamento como sendo a mesma coisa.”

Isto, desde que para tal se usa-se a via afirmativa. «A partir da incognignoscibilidade do que não existe, Parménides conclui diretamente que a via negativa é “indescernível”, i.e. que nenhum pensamento claro é expresso por uma afirmação existencial negativa».

Talvez seja por isso que o autor insiste tanto na

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