O Espaço e Tempo em Kant
Por: Vinicius Williams • 31/8/2022 • Trabalho acadêmico • 6.048 Palavras (25 Páginas) • 941 Visualizações
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Universidade Federal do Pará
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Faculdade de Filosofia
A concepção do espaço e do tempo de Kant
Estética Transcendental
Graduando Vinicius Williams Silva – Filosofia (UFPA)
(201708040027)
Graduando Jeremias Moraes do Nascimento – Filosofia (UFPA)
(201708040001)
Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação na disciplina Teoria do Conhecimento II, ministrada pelo Prof. Dr. Eduardo Ramos.
UFPA – IFCH – CAFIL
Belém – PA
Janeiro 2018
Resumo
Esse artigo tem como objetivo expor as diferentes concepções de espaço e tempo, segundo Newton, Leibniz e Kant. Para o primeiro, o espaço e tempo eram entendidos como grandezas absolutas, independentes do sujeito e das coisas, sendo assim, existentes por si mesmas. O segundo, entendia esses conceitos, como uma relação recíproca dos elementos da natureza e ligados às coisas, ou seja, o espaço e o tempo dependem da relação das coisas para existirem. Quanto a Kant, sua concepção de espaço e de tempo dependem unicamente da capacidade cognitiva do sujeito, pois essas são formas puras da sensibilidade. Esta é faculdade primaria e receptora de dados que geram o conhecimento.
Palavras-chaves: espaço, tempo, Leibniz, Newton e Kant.
Abstract
This article aims to expose the different conceptions of space and time, according to Newton, Leibniz and Kant. For the former, space and time were understood as absolute magnitudes, independent of the subject and of things, and thus, existing by themselves. The second, understood these concepts as a reciprocal relationship of the elements of nature and linked to things, i.e., space and time depend on the relation of things to exist. As for Kant, his conception of space and time depend solely on the cognitive capacity of the subject, for these are pure forms of sensibility. This is the primary faculty and recipient of data that generates knowledge.
Keywords: space, time, Leibniz, Newton and Kant.
Referencial teórico:
Que são, então, o espaço e o tempo? Dever-se-á considerá-los, com Newton, como seres reais, ou realidades absolutas que existem independentes de todo conteúdo? Ou diremos, com Leibniz, que espaço e tempo são meramente relativos, sendo o espaço a ordem das coexistências e o tempo a ordem das sucessões? Kant rejeita uma e outra tese, mostrando que o espaço e o tempo dependem unicamente da forma de nossa intuição, da constituição subjetiva de nosso espírito (…). (PASCAL, 1996, p.51).
A concepção do espaço e do tempo de Kant
Jeremias Moraes do Nascimento[1]
Vinicius Williams Silva [2]
Introdução
Nos primeiros anos acadêmicos de Kant, na Universidade de Konigsberg, de 1740 a 1746 ele foi influenciado por uma versão da metafísica de Leibniz que havia sido popularizada pelo filósofo alemão Christian Von Wolff e também pela física matemática de Newton. O seu professor, Knutzen, mostrou as complexidades, contradições e oposições desses dois grandes filósofos naturais (Coulston[3], 2007, p. 1263). Além desses dois filósofos, Kant, teve conhecimento e influência dos escritos de Locke e Descartes, pois estes debateram a respeito de tempo e duração. Conceitos esses, que foram uma das bases de sua filosofia sobre o tempo (Caygill[4], 2000).
Confrontação geral entre a concepção de Kant, Newton e Leibniz
É evidente que Kant fez uma síntese da exposição e do pensamento de cada uma desses filósofos para elaboração de sua filosofia sobre o espaço e tempo em seus escritos. Para o jovem estudante de Konigsberg, a natureza do espaço e do tempo lhe chamou muito atenção nas discussões entre Leibniz e Newton. Dedicou-se ao estudo das correspondências entre Leibniz e Samuel Clarke, um newtoniano. Nas correspondências, Leibniz expõe a Clarke o seu parecer quanto ao espaço:
Quanto a mim, deixei assentado mais de uma vez que, a meu ver, o espaço é algo puramente relativo, como o tempo; a saber, na ordem das coexistências, como o tempo na ordem das sucessões. De fato, o espaço assinala em termos de possibilidade uma ordem das coisas que existem ao mesmo tempo, enquanto existem junto, sem entrar em seu modo de existir. E quando se veem muitas coisas junto, percebe-se essa ordem das coisas entre si (Terceira Carta de Leibniz, NEWTON & LEIBNIZ, 1974, p. 413).
O espaço, segundo Leibniz, não depende da situação dos corpos, ou seja, das suas categorias como qualidade, extensão e força, mas sim da relação e da ordem dos mesmos. A existência dos corpos, em sua ordem, é que fazem o espaço ser o espaço propriamente dito e, que é necessário primeiramente que estes existam, pois “se não houvessem, porém, criaturas, o espaço e o tempo não existiriam senão nas ideias de Deus” (Quarta Carta de Leibniz, NEWTON & LEIBNIZ, 1974, p. 422).
Diferente de Leibniz que afirma que o espaço, para sua origem, depende da relação dos elementos metafísicos ou das mônadas e da ordem dessas relações, no entanto, Newton considera que o espaço tanto absoluto como relativo “são idênticos em forma e grandeza, mas não permanecem sempre numericamente os mesmos” (ABBAGNANO, 2012, p. 407). O espaço ou extensão, o vazio ou qualquer outra coisa desse gênero teria que, necessariamente, estar em algum lugar. Há um certo dualismo no espaço newtoniano, pois ele depende da existência de qualquer ser, mas também se afirma que é independente desse ser.
Se o universo tem uma extensão limitada, o espaço que está para lá do mundo não é imaginário, mas real. E no próprio mundo os espaços vazios não são imaginários (…) O espaço sem corpos é uma propriedade de uma substância imaterial. O espaço não é limitado pelos corpos, mas existe igualmente neles e fora deles. O espaço não se acha encerrado entre os corpos, mas estes, estando no espaço imenso, são limitados em si mesmos por suas próprias dimensões. O espaço vazio não é um atributo sem sujeito, porque por esse espaço não entendemos um onde não há nada, mas um espaço sem corpos. Deus está certamente presente em todo espaço vazio, talvez exista também nesse espaço muitas outras substâncias, que não são materiais, não podendo, por conseguinte, ser tangíveis ou percebidas por nenhum de nossos sentidos. Provei acima que o espaço e o tempo não são a ordem das coisas, mas quantidades reais, o que não se pode dizer da ordem e da situação (Quarta Carta de Clarke, NEWTON & LEIBNIZ, 1974, p.424, 426).
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