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O Último-Homem em Nietzsche

Por:   •  20/1/2018  •  2.136 Palavras (9 Páginas)  •  411 Visualizações

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vence o niilismo em que o homem moderno se afoga, supera todos os humanismos, toda a cultura que o prende em si mesmo, O modelo do super-homem está nos princípios do renascimento: valente, hábil, sem moral, ou seja, para além do bem e do mal, apenas guiando-se pela sua Vontade de Poder, a sua energia vital. O super-homem é aquele que aceita a vida como ela é: incerta, conflituosa e sem ilusões. Ele aceita as forças cósmicas incertas e contraditórias que os outros negam e temem.

O conceito de vontade de poder é importante, pois este representa o centro de gravidade do futuro Ubermensh. O super-homem, ao contrário do homem moderno, aprende a prezar o seu corpo, as suas vontades, os seus instintos, e até mesmo irracionalidades ─ o homem moderno está encarcerado nas suas febris racionalidades de tudo, que o impedem de movimentar-se sem antes pensar 10 vezes, e que o afastam da sua verdadeira natureza como homem. O futuro Ubermensh abraça as suas vontades, e recusa o ressentimento, pois ele possui amor-fati (amor e aceitação pelo seu destino),

Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Amor-fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!” – Nietzsche, Gaia Ciência, §276

O super-homem coloca, ao contrário do homem cristão, o ênfase da sua vida não numa prometida vida transcendental, mas na vida presente, que sabe estar destinado a viver, repetidamente, eternamente, através do Eterno Retorno.

O eterno Retorno apresenta-se como a «nova moral», o princípio através do qual o futuro homem irá reger a sua vida. Este preconiza o tempo como algo circular, uma serpente de boca na cauda. No círculo o princípio e o fim são um só, e também é assim o tempo, e portanto é a essa condição que está sujeito o homem: a viver eternamente a sua vida, toda as suas escolhas, todos os seus momentos, ad eternum.

O maior dos pesos – E se um dia, ou uma noite, um demónio lhe aparecesse furtivamente em sua mais desolada solidão e dissesse: ‘Esta vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo o que é inefavelmente grande e pequeno em sua vida, terão de lhe suceder novamente, tudo na mesma sequência e ordem – e assim também essa aranha e esse luar entre as árvores, e também esse instante e eu mesmo. A perene ampulheta do existir será sempre virada novamente – e você com ela, partícula de poeira!’. – Você não se prostraria e rangeria os dentes e amaldiçoaria o demônio que assim falou? Ou você já experimentou um instante imenso, no qual lhe responderia: “Você é um deus e jamais ouvi coisa tão divina!”. Se esse pensamento tomasse conta de você, tal como você é, ele o transformaria e o esmagaria talvez; a questão em tudo e em cada coisa, “Você quer isso mais uma vez e por incontáveis vezes?‟, pesaria sobre os seus atos como o maior dos pesos! Ou o quanto você teria de estar bem consigo mesmo e com a vida, para nãodesejar nada além dessa última, eterna confirmação e chancela” – Friedrich Nietzsche, Gaia Ciência, 341

Este pensamento é um teste que só os fortes podem suportar, um pensamento que seleciona as forças ativas. Caso se ame a vida e a frua autenticamente, a ideia do Eterno Retorno é uma bênção. Mas caso se esteja esperando pela próxima, guiando sua existência por uma pós-vida, amaldiçoando esta, neste caso, o pensamento de tudo voltar eternamente seria encarado como uma maldição. Aqueles que ainda podem nadar, abrem seu caminho em meio ao mar caótico das forças e chegam em terras desconhecidas, mas o mais pesado dos pesos faz naufragar os escravos da moral.

O Eterno Retorno é a solução de Nietzsche para o niilismo decorrente da «morte de Deus». Assim sendo, o idealizado futuro homem de Nietzsche fica liberto de superstições e desejos de vidas extraterrestres, permitindo-lhe focar todas as suas atenções, vontade e energia na sua vida presente, que será sempre a mesma, vezes e vezes sem conta. Claro que tal ideia, encarada literalmente, é paradoxal; mas o objetivo desta é simbólico; ela deve ser encarada, mais que tudo, como um exercício ético, que diz: «Vive de forma a que o teu maior desejo seja viver outra vez, pois, quer queiras quer não, viverás novamente!»

Segundo Nietzsche, esta vida que deve então ser fruída como se a fôssemos repetir eternamente, só pode ser através de uma entrega total àquilo que há de mais básico e natural no homem: a Vontade de Poder.

O conceito de Vontade de Poder, herdado, em parte, do mentor filosófico de Nietzsche, Schopenhauer, é reavivado sob uma nova luz. Enquanto em Schopenhauer a vontade é arrogada como o princípio último da metafísica, em Nietzsche esta vai assumir contornos mais reais e humanísticos.

A Vontade de Poder é pois o nome que Nietzsche dá a esse jogo de contrários (mandar e obedecer) que a vida ensina ser a raiz do comportamento de todo o ser vivo. «Onde encontrei vida, encontrei vontade de poder; e até na vontade de quem serve, encontrei a vontade de ser amo.»

Nietzsche nota ainda que aquilo que os homens de saber ou cientistas até agora pensavam ser o fator essencial da vida, uma «vontade de viver», não é realmente o que define a vida. Na verdade, não há tal vontade, «pois o que não existe não pode querer; o que tem existência, porém, como poderia ainda querer a existência?». É este, para Nietzsche, o segredo da vida, aquilo que move as pessoas, o que de mais natural e promeminente há em cada um.

«E sabeis… o que é pra mim o mundo?… Este mundo: uma monstruosidade de força, sem princípio, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força… uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimos, ou rendimento,… mas antes como força ao mesmo tempo um e múltiplo,… eternamente mudando, eternamente recorrentes… partindo do mais simples ao mais múltiplo, do quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente, mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez… esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-próprio, sem alvo, sem vontade… Esse mundo é a vontade de poder — e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de

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