Consumo em uma visão do filme "Os delírios de Consumo de Rebecca"
Por: Hugo.bassi • 26/9/2017 • 3.413 Palavras (14 Páginas) • 653 Visualizações
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que podiam ter acesso aos produtos "brilhantes". A sua mãe priorizava a
compra de forma racional, considerando a utilidade e durabilidade do produto, não o
que estava na moda ou era ditado pelas propagandas.
Historicamente os bens de consumo e os serviços oferecidos pelo capitalismo
correspondiam a necessidades "reais", produtos mais simples eram produzidos, tais
como, aço, tijolos, roupas, sapatos, até que chegou um ponto em que o consumo e
produtores se multiplicaram e passaram a vincular seus produtos a marcas e
propagandas que tinham como objetivo fornecer informações funcionais dos produtos.
Em seguida ocorreu a necessidade de distinção dos produtos e de formas mais
eficientes de influenciar na venda, aumentando o número de argumentos para que
determinado produto ou marca fosse escolhido ao invés de outros, passando a ser um
tipo de sedução do consumidor.
A formação de Rebecca em meio a esse contexto em que o mercado visa agradá-
la e conquistá-la, em conjunto com o desejo de ser diferente, ou melhor, ser igual as
garotas que podiam parecer com princesas e ter acesso a roupas e mais bens de
consumo, contribuíram para o seu futuro comportamento.
A caminho de sua entrevista de emprego, Rebeca é atraída por uma echarpe
verde, momento em que ocorre um diálogo com a manequim que destaca as
características da echarpe verde e as qualidades que ela vai adquirir ao obter o produto,
tais como, valorizar os olhos, deixar o corte de cabelo parecer mais caro e que "ela [a
echarpe] se tornará parte da definição de sua psique".
A moda, representada pela echarpe neste momento, é encarada pela protagonista
ao mesmo tempo como um objeto desejável e respeitável no contexto cultural, quanto
como algo enganoso, ligado a um excesso. Ainda que, de forma racional, o aspecto que
deveria vir a se sobrepor fosse a sua situação financeira, o que acaba por prevalecer é o
que está ligado ao desejo e ao que, supostamente, leva a uma identificação como sujeito
no contexto cultural.
3 DESEJOS CRESCENTES E SEUS EFEITOS SOCIAIS
"Disseram que eu era uma cliente valiosa e agora ficam me
aterrorizando" (Rebecca Bloomwood)
No momento em que ela se depara com todas as suas dívidas nos cartões em um
total de mais 16 mil dólares e diante do seu estado de desemprego, podemos observar
um estado de desolação e desilusão em que o dinheiro mostra seu outro lado, no qual ao
tentar satisfazer um sentimento de vazio existente no momento da compra, diante da
promessa de que ao obter a posse de objetos, ou seja, bens de consumo, terá o desejo
satisfeito, passando a ser considerado não apenas um meio, mas um fim. Deste modo
ainda podemos observar o aspecto hedonista do dinheiro, através da possibilidade de
obtenção do prazer por meio da posse.
Podemos destacar no pensamento de Simmel:
Por causa da necessidade, presente na maior parte da vida, de ter diante dos
olhos como objetivo mais próximo o ganhar dinheiro, pode surgir a convicção de que
toda felicidade e satisfação definitiva da existência esteja ligada à posse de uma certa
soma.
Porém a promessa de satisfação apenas continua a ser sedutora enquanto o
desejo está insatisfeito, assim que um objeto é obtido, praticamente de forma imediata,
outro objeto toma o seu lugar de desejo.
As lojas, manequins, vendedores, vitrines totalizam um conjunto de aspectos
colocados para a "sedução" do cliente, para a ideia de satisfação de uma necessidade
que, muitas vezes, não consiste em uma real necessidade, mas apenas necessidades
criadas pela ,sociedade de consumo que leva a crer que o reconhecimento, o sentimento
de ser especial e pertencer a algo está ligado ao consumo. Este ponto mostra enfim seu
real lado diante da frustração e danos emocionais causados tanto pelo não real
sentimento de satisfação, quanto pelas cobranças as quais a personagem fica sujeita.
No contexto do filme, a sua melhor amiga, Suze Cleath-Stuart, tem o papel de
colocar de forma racional o uso do dinheiro. Ela é apresentada como umas das figuras
que, apesar de estar inserida nessa sociedade de massa, ainda possui a capacidade de
fazer uso da razão nas suas escolhas de compra, propõe a Rebeca um pensamento
racional ao adquirir produtos e busca ajudá-la a ser contratada em um novo emprego,
tendo em vista a situação da amiga.
Daí podemos atentar para outro ponto, a questão do trabalho para a obtenção de
recurso financeiro, no qual está embutido aspectos da existência humana em que a
atividade assalariada ocupa espaço na sobrevivência do indivíduo e também como meio
de inserção no
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