A RELAÇÃO ENTRE O SILOGISMO DEMONSTRATIVO ARISTOTÉLICO E O MÉTODO DEDUTIVO EUCLIDIANO NA OBRA “OS ELEMENTOS”1
Por: Salezio.Francisco • 19/9/2018 • 7.858 Palavras (32 Páginas) • 314 Visualizações
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perguntas relevantes tendem a surgir, tais como: em quem ou em quê Euclides
se baseou para formular sua ordem dedutiva? Por que ele toma como princípio a definição
de ponto e não outra? É possível afirmar que Euclides inaugurou de fato uma nova forma
de apresentar as regras de construção dos objetos?
Para William David Ross (2005) não seria exagero afirmar que a doutrina do
silogismo se deve inteiramente a Aristóteles, que foi provavelmente o primeiro pensador
antigo a destinar um sentido diferente à palavra συλλογισμός (syllogismós) e também uma
explicação geral ao processo de inferência. Outra observação importante de Ross é a de
que Aristóteles se utiliza em diversas partes dos Primeiros Analíticos (ou Analíticos
Anteriores) de uma terminologia que recorre com frequência à matemática – modelo
considerado pelo Estagirita como o de ciência teórica por excelência. “É notório que
Aristóteles representava cada figura do silogismo por diferentes figuras da geometria,
onde as linhas representavam proposições e os pontos os termos” (ROSS, 2005, p. 32-33,
tradução nossa).
2 Segundo Pappus, ao citar Euclides, Apolônio de Perga e Aristeu, o velho: “Análise é o caminho a partir
do que é procurado – considerado como se fosse admitido – passando, na ordem, por suas concomitantes
[consequências], até algo admitido na síntese. Pois na análise supomos o que é procurado como já tendo
sido feito e investigamos aquilo a partir do qual esse algo resulta, e de novo qual é o antecedente deste
último, até que, no nosso caminhar para trás, alcancemos algo que já é conhecido e é o primeiro na
ordem. Na síntese, por outro lado, supomos já feito aquilo que na análise foi por último alcançado e,
arranjando em sua ordem natural, como consequentes aquilo que antes eram antecedentes, e ligando-os
uns aos outros, chegamos no final à construção daquilo que é procurado”.
3 Conforme a tradução para o português do prof. Irineu Bicudo.
Um exemplo dessa apropriação, que segundo Ross não se restringe unicamente à
geometria, mas também à teoria da proporção, pode ser encontrada na formulação das
premissas que representam as várias figuras do silogismo: “‘A predicado de B, B
predicado de C’ (primeira figura), ’B predicado de A, B predicado de C’ (segunda figura),
’A predicado de B, C predicado de B’ (terceira figura)” (2005, p. 33, tradução nossa); além
da analogia que atualmente é conhecida na matemática como progressão, onde “‘A : B =
B : C’, ‘A – B = B – C’”. Ao saltar para os Analíticos Posteriores, David Ross mostra
que o conceito de ciência proposto por Aristóteles se aproxima do que veremos em
seguida em Euclides, onde:
“A ciência assume as definições de todos os seus termos, mas pressupõe
a existência única de seus objetos primários (por exemplo, a aritmética
de unidade e a geometria de magnitude espacial), e prova a existência
de todo o resto” (ROSS, 2005, p. 43, tradução nossa).
No tocante as deduções dos primeiros princípios, Thomas L. Heath (1956) diz,
apoiando-se em Proclus, que o caminho a ser seguido está na divisão entre o que deve ser
estabelecido como anterior e que leva à geração, subtração ou adição de figuras, bem
como apresenta as mudanças e os atributos essenciais de cada uma delas.
Por ora, este trabalho não entrará no debate existente entre os matemáticos gregos
antigos no que concerne à primazia entre problemas e teoremas (e que recai sobre a
precedência de um em relação ao outro), nem tampouco as diversas distinções sobre esses
termos. Vale destacar, porém, que Proclus entende que os Elementos trazem, em parte,
tanto um quanto outro, através de proposições individuais que se encerram com as
afirmações de que era estritamente necessário provar tal conclusão ou demonstração4
.
Diante das considerações apresentadas, é importante esclarecer que o presente
trabalho vai se concentrar especificamente na distinção entre a abordagem teórica de
Aristóteles em relação à ciência, através do silogismo demonstrativo, e o método dedutivo
empregado por Euclides na obra Os Elementos – no que diz respeito à construção dos
objetos geométricos. No tocante a Aristóteles, será destacada a natureza e os possíveis
limites do silogismo demonstrativo, tomando-se como referência a abordagem de Lucas
4 Conforme destaca Heath, Proclus diz que Euclides mescla problemas com teoremas no Livro I, ao passo
que no Livro IV são utilizados somente problemas e no Livro V apenas teoremas.
Angioni em favor da causalidade e que considera que a demonstração proposta pelo
Estagirita não deve ser interpretada como uma teoria axiomatizada.
Quanto à Euclides, será utilizada como referência a
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