República de Angola Instituto Médio Industrial de Luanda
Por: Rodrigo.Claudino • 21/5/2018 • 1.589 Palavras (7 Páginas) • 338 Visualizações
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Em toda a produção literária posterior, Óscar Ribas demonstra na verdade uma propensão pouco comum entre os escritores da sua geração e mesmo em gerações posteriores. Revela-se profundamente preocupado com os temas da literatura oral, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de língua kimbundu.
Destas preocupações resultam a sua bibliografia dos anos 60, nomeadamente:· Ilundo - Espíritos e Ritos Angolanos (1958,1975); Missosso 3 volumes (1961,1962,1964); Alimentação regional angolana (1965); Izomba - Associativismo e recreio (1965);· Sunguilando - Contos tradicionais angolanos (1967, 1989); Kilandukilu - Contos e instantâneos (1973); as musas Tudo isto aconteceu - Romance autobiográfico (1975); Cultuando - poesia (1992); Dicionário de Regionalismos angolanos.
Óscar Ribas foi por diversas vezes distinguido com prémios e títulos honoríficos: Prémio Margaret Wrong (1952), Prémio de Etnografia do Instituto de Angola (1959), Prémio Monsenhor Alves da Cunha (1964).
Óscar Ribas também foi agraciado com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, nas categorias de literatura e investigação em Ciências Sociais e Humanas, outorgado pelo Ministério da Cultura, em 2000.
Faleceu a 19 de Junho de 2004, em Cascais (Portugal).
- Legado
Dotado de qualidades inatas de investigador, o seu espírito enciclopédico e a abrangência da sua obra nos vários campos do saber estão bem patentes na sua multifacetada obra, a qual constitui um valioso contributo para o conhecimento e enriquecimento da realidade angolana.
Óscar Ribas é uma das mais ilustres personalidades angolanas, digna de todo o respeito e admiração pela obra monumental que nos legou e que já há muitos anos ultrapassou as fronteiras do nosso País, para se projectar em outros espaços geográficos onde é estudada em várias instituições superiores e universidades. O peso de seu trabalho nas várias áreas do saber, foi e é fundamental, enquanto um dos pioneiros no estudo, pesquisa e divulgação das distintas áreas das Ciências Humanas, Sociais e Literárias angolanas.
Embora tenha vivido até 2004, Ribas teve sua escrita e sua forma de pensar marcadas, principalmente, pelo contexto histórico da primeira metade do século XX, período em que o positivismo e o evolucionismo ainda influenciaram muitas visões e conceitos não só em Angola, mas em outras partes do mundo. Isso explica o fato de que categorias de conhecimento como “atraso”, “decadência”, “gentes ignaras”, “não civilizados”.
Desde cedo, Óscar Ribas se revelou preocupado não só com temas e pesquisas sobre literatura oral, mas também investigou a filosofia, a filologia e as religiões tradicionais dos povos kimbundu de Angola. Ficou conhecido por seu trabalho de coleta de contos, canções, provérbios, adivinhas, rituais religiosos, poesias, etc.
Conto angolano de Óscar Ribas: O Coelho e o Macaco
O Coelho e o Macaco*
Amigo Macaco procurou o amigo Coelho e disse-lhe:
– Vavó Leoa teve filhos! Como ela só está bem a matar vamo-nos oferecer para lhe criar os filhos. Depois matamo-los à fome, e a ela também.
Amigo Coelho achou bem. Mas quando se apresentaram a avó Leoa quis matá-los.
Aiii, vavó, não nos coma só, somos crianças, a nossa carne não chega para te acabar a fome! Se queres, vamos-te buscar os maiores, como vavô Pacaça, tio Javali e outros… Suplicaram ambos.
Avó Leoa aquiesceu.
– E vavó, para eles virem, tens de te fingir morta, envolvida em capim. Alvitrou amigo Macaco.
Os dois, colocando-se à porta de casa, começaram a tocar uma goma, cantando:
Morreu vavó Leoa,
Livres ficámos!
Morreu vavó Leoa,
Livres ficámos!
A bicharada, ouvindo tal cantiga, tão satisfeita ficou, que até se pôs a dançar dentro do quarto. Hela! Vavó Leoa morta! Até parecia mentira! E todos, em redor do monte de capim, dançavam, dançavam, dançavam.
Amigo Coelho e amigo Macaco, já a batucada ia rija, saem e fecham a porta. Avó Leoa salta do capim, e nhão-nhão-nhão – mata aqui, mata ali, mata a todos eles. Não satisfeita com o morticínio, vai ter com o amigo Coelho e amigo Macaco, igualmente para os matar.
– Ai, vavó, não nos mates só, a gente vai-te buscar lenha para assares esta carne toda! Aiii, não queres? – Propõe amigo Macaco.
Avó Leoa concordou. E os dois foram ao mato. Mas avô Quitassele quis comê-los.
– Ai vavô não nos mates só, espera que te trazemos um grandalhão como tu. Somos crianças, não temos carne para ti. – Rogou o amigo Macaco.
A serpente anuiu.
– Vavó, estávamos para ser comidos por vavô Quitassele. O melhor é ires connosco. – Informou amigo Macaco.
Avó Leoa foi. Ao chegarem, amigo Macaco avisa avô Quitassele:
– O grandalhão como tu já cá está.
Avô Quitassele sai do esconderijo e mata avó Leoa.
– Vavô em casa tem muita carne. Vamos prepará-la. – Convida amigo Macaco.
Os três vão para casa. Mas amigo Coelho e amigo Macaco carretam lenha.
– Vavô agora é preciso fogo. Vamos nas lavras. – Alvitra amigo Macaco.
As pessoas, vendo a cobra, deitaram a fugir:
– Cobra! Cobra!
Aproveitando a fuga, amigo Macaco aconselha:
– Vavô, acenda já.
A serpente que trazia capim na cauda e cabeça, virou primeiro uma parte, depois a outra. E avô Quitassele morreu queimado.
Conclusão
É da autoria de Amadou Hampâté Bâ a célebre frase: “cada velho africano que morre é uma
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