Resenha de Farenheit 451
Por: YdecRupolo • 25/5/2018 • 2.879 Palavras (12 Páginas) • 282 Visualizações
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A conversa foi uma faísca para o que se sucede na narrativa. A partir do momento citado, Montag começa a refletir sobre a sociedade, sobre a função que ele desempenha e as atitudes e o modo como cada um sobrevive, sobre a rapidez com que as coisas acontecem, sobre como a destruição pode ser rápida e insignificante – exemplificado na guerra e no fim da cidade como veremos mais adiante – a relevância de cada um no corpo social e a importância da leitura nesse mundo.
Clarisse conversa mais algumas vezes com Montag, mas desaparece repentinamente, levando a acreditar que ela morreu. No posfácio descobrimos, que em uma peça sobre o livro, o autor menciona que a garota surge ao final para saudar Montag. No filme, de título homônimo, a garota figura entre os Homens-Livros que vagavam pela floresta, recitando repetidamente trecho de seus livros[2].
Parte lll – Sobre o Sabujo Mecânico
As inovações tecnológicas de controle interpessoal, de vigilância, no livro, são representadas pela figura do sabujo mecânico. Uma criatura de aparência medonha que investiga os possíveis suspeitos de possuir livros. O sabujo lembra, no que tange a vigilância, o Grande Irmão, do livro 1984 de George Orwell, sempre alerta. Guy, por esconder alguns dos livros que deveria queimar, sente medo da máquina.
“Montag tocou em seu focinho.
O Sabujo rosnou.
Montag saltou para trás.
O Sabujo erqueu-se e olhou para ele com luz verde-azulada de néon cintilando em seus globos oculares subitamente ativados. Rosnou novamente, um gesto de desconfiança [...]”
O sabujo, também, pode ser interpretado como a insegurança por parte do autor com a evolução da ciência no século XX. Para Hobsbawn, à medida que a tecnologia e a ciência avançaram, elas se afastaram da compreensão do cidadão comum, resultando na insegurança desses. Hipoteticamente, o autor poderia sentir isso, o receio do bombeiro para com o sabujo poderia refletir a posição de Bradbury.[pic 2]
Ao final da narrativa observamos o Sabujo caçando Montag, que a esta altura já havia tido contato com os livros, lido, e começado a pensar por conta própria, por isso virou alvo do próprio esquadrão, que queimou sua casa. O ex-bombeiro, consegue escapar da máquina de vigilância.
Parte lV – Sobre o capitão Beatty
As frases do capitão Beatty mostram o que aconteceu com o sistema:
“– Você se pergunta: quando tudo começou, esse nosso trabalho, como surgiu, onde, quando? Bem, eu diria que ele realmente começou por volta de uma coisa chamada Guerra Civil, embora nosso livro de regras afirme que foi mais cedo. O fato é que não tivemos muito papel a desempenhar até a fotografia chegar à maioridade. Depois, veio o cinema, no início do século vinte. O rádio. A televisão. As coisas começaram a possuir massa. [...]
E porque tinham massa ficaram mais simples – disse Beatty. – Antigamente, os livros atraíam algumas pessoas, aqui, ali, por toda parte. [...] A população [...] quadruplicou. O cinema e o rádio, as revistas e os livros, tudo isso foi nivelado por baixo.”
“– Tudo foi subordinado [...] ao final emocionante.”
“Acelere o filme, [...], Clique, Fotografe, Olhe, Observe, Filme, Aqui, Ali, Depressa, Passe, Suba [...] Por quê, Como, Quem, O Quê, Onde, Hein? [...] Resumos de resumos [...] A mente humana entra em um turbilhão [...] ”.
“– A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia são pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata [...]”
“A palavra intelectual tornou-se o palavrão que merecia ser. Sempre se teme o que não é familiar.”
Beatty leu muitos livros, mas por ser produto de uma sociedade intolerante ao pensamento individual e por não ter interesse em entendê-los a fundo, torna-se raso. Para ele os livros são meramente objetos a serem ignorados. Um livro é uma arma carregada na casa vizinha, Queime-o. Descarregue a arma. Façamos uma brecha no espírito do homem. Quem sabe quem poderia ser alvo do homem lido? Eu? Eu não tenho estômago para eles, nem por um minuto. E, assim, quando as casas finalmente se tornaram à prova de fogo, no mundo inteiro – você estava certo em sua suposição na noite passada –, já não havia mais necessidade de bombeiros para os velhos fins. Eles receberam uma nova missão, a guarda da paz de espírito, a eliminação do nosso compreensível e legítimo sentimento de inferioridade: censores, juízes e carrascos oficiais. Eis o nosso papel.
Os leitores de livro são poucos, e seu número só diminui. A ditadura da maioria, que pune o pequeno número de cidadãos diferentes, pode ser personificada em Beatty. Há uma intolerância diante do que é complexo, semelhante ao que vimos na Parte lll, porém, desta vez, o preconceito corresponde à desconfiança para com o que é ficcional, o poder desestabilizador da literatura e do imaginário.[3]
Cabe, mencionar que Beatty deduziu que Montag estava escondendo livros, remetendo-nos ao método dedutivo muito empregado por Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle, e pelo protagonista de Zadig, um conto de Voltaire.
A dedução é base do racionalismo e parte de premissas tidas como verdadeiras para chegar em uma conclusão verdadeira. No caso, o capitão suspeitava do interesse de Montag por livros, e por meio de alguns recursos confirmou sua suspeita, que teve como resultado o incêndio da casa de Guy.
Assim vemos que, apesar ter um pensamento raso, o capitão é capaz de ser extremamente racional, seu raciocínio anti-livros tem uma base sólida; desse modo, podemos dizer que o sistema tem uma base lógica racional.
Parte V – Sobre a história
Voltemos, agora, para a história, vou fazer um breve resumo, suprimindo grande parte da obra e com vários spoilers.
Depois do encontro com Clarisse, Montag volta para casa e encontra sua esposa, Mildred, jogada na cama e um frasco vazio de comprimidos pelo chão. Ele liga para a emergência. São enviados dois técnicos para realizar um procedimento de troca de sangue na esposa. O total descaso dos técnicos com Mildred assusta Montag.
Em episódio posterior, durante um dia de trabalho normal, Guy e seu esquadrão
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