O Relógio de Lévi Strauss

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Graças a essa influência que vem de Émile Durkheim e Mauss, o indivíduo sofre um esvaziamento perante as categorias gerais na obra do brasileiro. A psique humana funciona como um deus, dotado de razão própria e autonomia. Essa atitude de menosprezo perante a noção do eu estabelece um elo com os estudos de Lévi-Strauss ao ignorar as sociedades modernas onde notamos um culto a individualidade.

Surge então a estrutura na obra lévi-straussiana: são essas categorias gerais, que comandam a vida social nos possibilitando a previsibilidade pois os modelos de análise são mecânicos. Ou seja, as sociedades funcionam como um relógio fechado onde conseguimos prever os movimentos dos ponteiros (indivíduos). O belgo buscou um elo entre o empirismo e a lógica, algo que não fosse o simples relato da experiência, mas que se aproveitasse disso para criar instrumentos de dedução: “O princípio fundamental é que a noção de estrutura social não se refere à realidade empírica, mas aos modelos construídos em conformidade com esta” (LÉVI-STRAUSS, 1976a, p. 13).

Primeiro conhecemos nosso material de análise e depois o concebemos. Esse conhecimento não é de ordem prática, como supõem os povos modernos e tentam atribuir ao ato de reflexão dos primitivos, mas sim uma necessidade intelectual. Disso surge a celebra frase que “Toda classificação é superior ao caos” (LÉVI-STRAUSS, 1976b, p. 36.), negando a ideia de desordem entre os selvagens que é proposta por nós, pois o próprio pensamento é composto por classificações. Após esse contato é que elaboramos a concepção, o momento em que apertamos o último parafuso do relógio e criamos a estrutura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

LÉVI-STRAUSS, Claude. A noção de estrutura em etnologia. São Paulo: Abril cultural, 1976.

___. Pensamento Selvagem. Tradução de Maria Celeste da Costa e Souza e Almir de Oliveira Aguiar. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.

___. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: Vozes, 2009.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso Sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens. Edição eletrônica, Ridendo Castigat Mores, 1857.

MAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa e a de “eu”. In: Sociologia e Antropologia (pp.369-397). São Paulo, Cosacnaify, 2003.

___. Ensaios de sociologia. São Paulo: Perspectiva, 2001.