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A relação entre Marx e Bourdieu

Por:   •  16/5/2018  •  1.500 Palavras (6 Páginas)  •  334 Visualizações

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Portanto, no mesmo espaço social existem diversos campos que se diferenciam e que lutam e interagem entre si, tendo também lutas em seu interior; que são legitimadas pela luta simbólica.

“As relações objetivas de poder tendem a se reproduzir nas relações de poder simbólico. Na luta simbólica pela produção do senso comum ou, mais exatamente, pelo monopólio da nominação legítima, os agentes investem o capital simbólico que adquiriram nas lutas anteriores” (...).

(IDEM, 163)

Por sua vez, o conceito bourdesiano de habitus tem a ver com a posição dos indivíduos no espaço social. Por um lado ele estrutura e organiza o conjunto de práticas desse sujeito de acordo com sua posição social e por outro lado é um sistema de percepção e valoração das práticas sociais.

É através do habitus que os sujeitos conseguem visualizar o espaço social, construindo um mundo social que parece evidente, um mundo de senso comum.

“Assim, as representações dos agentes variam segundo sua posição (e os interesses que estão associados a ela) e segundo seu habitus como sistema de esquemas de percepção e apreciação, como estruturas congnitivas e avaliatórias que eles adquirem através da experiência durável de uma posição do mundo social.”

(IDEM, 158)

A aproximação pelo compromisso com a realidade e a crítica à tradição hegeliana

A teoria de Marx sobre o capitalismo como sistema de produção que se autorreproduz e autodestrói está, de várias formas, inserida na forma com que Bourdieu analisa os campos de produção intelectual e cultural. O grande ponto de convergência entre os dois autores se dá na crítica ao idealismo alemão ou hegelianismo. É muito forte, dentro da teoria de Bourdieu, a tentativa de superar a falsa oposição entre a lógica da teoria e a lógica da prática. Assim, o francês buscou transcender a divisão entre materialismo e idealismo e fez isso quando concebeu a “práxis” como produção de bens materiais e também culturais.

Para Bourdieu, entender um escrito acadêmico como um ataque político é tomar uma revolução na ordem das palavras como se fosse uma revolução na ordem das coisas. O idealismo alemão não se preocupava em fazer a conexão entre a filosofia alemã e a realidade alemã, tampouco a relação entre sua própria crítica e o entorno material. Já Marx e Engels propuseram uma quebra epistemológica real, que demandava novos pontos de partida. Deveria-se partir de premissas reais da história, pois é apenas a partir da existência prática que a consciência emerge. Assim, a vida despreocupada das condições materiais imediatas, eu Bourdieu denominou skholè, é uma condição que é produto da divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual apontada por Marx. Quando a teoria se isola da prática, tende a universalizar o não universalizável. Marx, em sua primeira tese sobre Feuerbach, afirma:

“O defeito fundamental de todo materialismo anterior - inclusive o de Feuerbach - está em que só concebe o objeto, a realidade, o ato sensorial, sob a forma do objeto ou da percepção, mas não como atividade sensorial humana, como práxis, não de modo subjetivo. (Marx e Engels, 1970, PP. 117-8. Ed. Brasileira, 2004, p. 28)”

Afastamentos, extensões e paradoxos

O primeiro e mais importante afastamento da teoria de Bourdieu para a teoria de Marx diz respeito à intencionalidade. Ambos estão preocupados com a realidade, mas Bourdieu não vislumbra a revolução tal como Marx o fez. O primeiro efeito disso é que o autor francês não faz uso dos conceitos de ideologia e exploração, ambos muito importantes na obra de Marx. A análise de Bourdieu sobre os campos sociais reduz a divisão do trabalho à simples posse de um capital, ignorando a ideia de exploração. O capital - tanto econômico, quanto o simbólico – é possuído e acumulado pelos agentes durante suas lutas competitivas dentro dos campos. Assim, o capital menos uma relação entre capitalistas e trabalhadores que entre capitalistas. A análise que Bourdieu faz da economia é mais voltada para a dimensão cultural.

Marx considera como atividade prática a economia e, assim, entende a história humana como sucessão de modos de produção. Bourdieu estende essa idéia às esferas de produção intelectual. Do ponto de vista da produção, a teoria marxista da economia torna-se como uma modelo para a análise que Bourdieu faz sobre a produção cultural. Sob esse ponto de vista, a teoria do capitalismo de Marx e a teoria dos campos de Bourdieu convergem para um mesmo cenário: uma arena de lutas. Na teoria dos campos os atores agem estrategicamente buscando maximizar seu lucro material e/ou simbólico, mas suas ações são limitadas pelas regras do campo e pela distribuição desigual do capital.

Mas, mesmo nessa extensão que parece apenas convergir, ainda há alguns afastamentos.

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