RESENHA SIGMUND FREUD
Por: Salezio.Francisco • 12/10/2018 • 3.861 Palavras (16 Páginas) • 343 Visualizações
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onde o caráter e a personalidade do indivíduo seriam moldados. As fases psicossexuais e os complexos (de Édipo e de Castração) começariam a ser desenvolvidos.
Para Freud, as reminiscências (idéias e sentimentos) são armazenadas na mente através de uma descarga de energia, necessária à formação da impressão mnêmica. Essa energia, chamada Libido, seria de origem sexual, pois as pulsões que movimentam essa energia são, invariávelmente, de natureza sexual, sejam eles para fins de autoconservação ou reprodução (sexuais). Antes da formação do aparelho psíquico, a criança trabalha com seu aparelho psíquico apenas no nível inconsciente. Devido à isso, suas necessidades não levam em consideração os aspectos da realidade (lógica, tempo, espaço, etc.). Sua satisfação dá-se através de “alucinações” geradas à partir das primeiras experiências mnêmicas (o ato de se alimentar, por exemplo). Esse processo de autosatisfação é conhecido como processo primário, pois obedece unicamente ao princípio do prazer, que busca a satisfação imediata dos desejos. A partir do momento em que a criança entra em contato com os impedimentos da realidade, sofre suas primeiras experiências frustradas. A partir daí, começa a elaborar uma nova forma de agir, levando em conta os aspectos físicos e circunstanciais do ambiente para a obtenção do objeto desejado. A esse processo dá-se o nome de secundário, pois leva em consideração o princípio da realidade. É através dessa transição que a criança vai entrando em contato com o mundo ao seu redor, e prepara-se para nele atuar com possibilidades de sobrevivência.
Uma vez que a catexia (processo pelo qual a energia libidinal é investida em um determinado objeto, descrito acima) foi determinada como o processo mental básico, restou a Freud estudar de que maneira essa Libido é investida durante o desenvolvimento do ser humano para determinar como a personalidade e o caráter são formados. Vieram então as fases do desenvolvimento psicossexual.
A Fase Oral, a primeira delas, ocorre a partir do nascimento. A Libido concentra-se na mucosa bucal e lábios (mais tarde gengivas e dentes), e a gratificação dá-se através da alimentação, que alivia a sensação de fome. O processo de amamentação é, sob o ponto de vista biológico e emocional o momento em que a criança experimenta o ápice do prazer. Ali, sua fome é saciada e seu corpo acariciado e protegido. Características como impaciência, otimismo, generosidade, entre outras, podem ser desenvolvidas a partir dessa fase. Com o nascimento dos dentes, a atividade concentradora da gratificação passa a ser a gengiva e os próprios dentes, através de mastigação. Esse ato está ligado ao conceito de destruição, pois a boca, que antes era usada apenas para a incorporação, é agora usada para destruir o objeto desejado. Pessoas de caráter forte, sem “papas na língua”, hostis, invejosas, dentre outras, são desenvolvidas a partir daqui.
A Fase Anal corresponde à época em que a criança está aprendendo a controlar os esfíncteres anais e a bexiga. A experiência gratificante consiste tanto na evacuação quanto na retenção das fezes por parte da criança, pois a Libido localizar-se-á na mucosa anal e área do intestino grosso. Pessoas detalhistas, parcimoniosas e obstinadas são resultado direto das relações ocorridas nessa fase. O talento artístico para as artes plásticas é também resultado da sublimação de características e experiências anais. O principal conflito ocorre com relação ao estabelecimento das regras de conduta quanto ao uso do toalete. Para a criança, suas fezes são parte de si mesmas, “nascidas” deles. São “presentes” para seus pais. A forma como esses lidam com esse comportamento infantil é importante e decisivo para a formação da auto-estima da criança. O aspecto cultural envolvido nessa situação (o valor das fezes como substâncias “sujas”, o fato de ter que ir ao toalete em horários mais ou menos estabelecidos, etc.) será de fundamental importância na formação caracterológica da criança.
A Fase Fálica começa por volta dos três anos de idade, quando a Libido irá deslocar-se para os órgãos genitais da criança. Estas começam a notar as diferenças sexuais. Os pais começam a representar objetos de satisfação sexual. No caso do menino, passa a desejar a mãe. O pai surge então como um rival nessa relação. A criança então passa a odiá-lo, porém não pode conviver com um sentimento de ódio à uma pessoa a quem ama. Diante da impossibilidade de realizar sua fantasia de amor com a mãe, ele a reprime, passando a identificar-se com o vencedor da batalha: seu pai. Introjeta então os valores e características morais deste, finalizando a relação incestuosa. À essa relação fantasiosa de amor com a mãe, Freud chamou Complexo de Édipo, em alusão à tragédia grega de Sófocles, “Édipo Rei”, na qual Édipo matou seu pai Laio, e casou-se com sua mãe, Jocasta, sem consciência do que fez. Quando se dá conta disso, arranca seus olhos e parte em direção ao deserto, rumo ao desconhecido. Freud enxergou nessa estória a realização metafórica da relação edipiana. Ao medo que a criança sente do pai, caso este descubra sua intenção e o puna, chama-se Complexo de Castração. No caso da menina, ao desejar a mãe, percebe que esta não pode lhe dar o que deseja (um pênis). Dessa forma, passa a desejar o pai, pois este pode, na fantasia dela, dar-lhe o que deseja. Dá-se conta de que a sua vagina pode acolher aquilo que deseja. É interessante notar que, no menino, a Castração finaliza o complexo de Édipo, enquanto que na menina, ele o inicia. Ao perceber a função de seu órgão sexual, a menina volta a identificar-se com a mãe (embora Freud determine que ocorram não raramente casos de neuroses e complexos de masculinidade, como resultados de um Édipo mal resolvido na mulher).
Uma vez que esse conflito tenha se resolvido (ou não), a criança (ou pré-adolescente) entra num período de latência, no qual a Libido parece inoperante, e serão desenvolvidos outros aspectos, tais como os sociais e intelectuais. Com o desenvolvimento biológico das funções sexuais (puberdade), entra-se na Fase Genital, onde a Libido irá procurar objetos sexuais que satisfaçam as necessidades do indivíduo adulto sadio.
Em 1923, a partir de novos dados e descobertas feitas no campo da psicanálise, tanto por Freud quando por seus discípulos, foi necessário um remodelamento das estruturas topológicas do aparelho psíquico. Surge então a Segunda Tópica: ID, Ego e Superego.
Para Freud, que cita Groddeck (Das Buch vom Es apud O Ego e o ID, 1923), o nosso “eu” é uma entidade passiva, vitimas
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