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FAMILIA E SITUAÇÃO DE LUTO

Por:   •  14/3/2018  •  4.700 Palavras (19 Páginas)  •  363 Visualizações

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Silva usa o termo luto disfuncional para se referir ao processo de luto na família que não segue um curso adequado no sentido de adaptação às novas tarefas e à nova realidade, que deve considerar o fator tempo.

LUTO AO LONGO DO CICLO VITAL

Ao longo do ciclo vital, a família experimenta mudanças naturais que geram perdas normativas em cada etapa, inerentes a seu processo de surgimento, crescimento e desenvolvimento, inclusive a morte.

Quando surge um novo casal, os filhos passam a ser marido e mulher, assumindo uma nova família e deixam de ser apenas filhos. Surgem as dificuldades de deixar a casa dos pais e assumir seus novos papeis, muitas vezes, por enredamento excessivo com a família de origem em lealdades invisíveis, que se referem à existência e expectativas diante das quais todos da família assumem determinados compromissos com conexões firmes entre gerações passadas e futuras. (Borzormenyia-Nagy e Spark, 1994. Com o nascimento do primeiro filho, marido e mulher dividem agora as tarefas dos novos papeis de pai e mãe, distanciando-se cada vez mais da posição de filhos. Assim sucessivamente, as fases desenrolam-se em uma dança de papeis e funções, podendo ter maior ou menor dificuldade. Ao mesmo tempo em que indica crescimento, o desenrolar do ciclo vital aponta para perdas em relação às etapas anteriores. Podemos citar a dificuldade de uma criança e de sua família no momento de deixar de usar a chupeta, a mamadeira ou as fraldas, ou mesmo o início da vida escolar.

Um exemplo que é muito discutido e estudado na terapia familiar é a síndrome do ninho vazio, que acontece com a saída dos filhos de casa, fazendo com que os pais tenham que olhar novamente para si como marido e mulher e encontrar novos objetivos de vida, ao mesmo tempo em que precisam buscar uma nova forma de relacionamento com os próprios pais.

A aposentadoria também elicia processo de luto com a perda do trabalho dos amigos, da rotina. Nesse período já é esperado o adoecimento dos pais e a necessidade de cuidar deles. A proximidade de completar idades significativas socialmente, por exemplo, os 70 anos, traz à tona uma reflexão sobre a vida até essa etapa e pode gerar falta de perspectiva para o futuro, sendo necessário um grande redirecionamento de objetivos de vida. Nesta fase última é bem provável que a pessoa possa ter vivenciado morte de integrantes da família de origem e da família atual.

A morte costuma ser apontada como a maior de todos as perdas e, talvez, a mais temida, por ser considerada uma etapa final, irreversível e inevitável. Apesar dela, a famílias continuam a existir, em um movimento continuo, de geração em geração.

A VIDA APÓS A MORTE: A FAMÍLIA CONTINUA

A morte é o principal assunto tabu na dificuldade de comunicação intrafamiliar (Bowen,1998). Nessas ocasiões, a maior parte das famílias estabelecer um pacto do silêncio a respeito da perda com receio de suscitar ou acentuar a emoção do outro e trazer mais sofrimento, lembrar a ausência, entre outros impedimentos.

O impacto da perda gera na família mudanças imediatas e a longo prazo, bem como mudanças significativas em seu mundo presumido, iniciadas com uma etapa de privação. No momento inicial há uma interrupção da vida cotidiana, e a família precisa aprender que ela nunca mais será a mesma.

Por ser período de grande fragilidade para a família, alguns conflitos podem via á tona, envolvendo, inclusive, questões financeiras. A existência de testamento ou seguros, a distribuição das tarefas, a inseguranças financeira gerada e algumas outras perdas secundárias podem dificultar a adaptação, podendo suscitar verdadeiros dilemas nas famílias, especialmente quando há desejos individuais, muito diferentes. Não e incomum encontrarmos famílias que brigam por herança muitos anos após a morte de algum de seus integrantes, ou que tenham se afastado após a perda, pois mágoas e diferenças podem reaparecer ou se acentuar nesse período. Mas também podemos encontrar famílias que se unem diante da dor, fortalecendo laços de afeto e de convivência que antes se encontravam fragilizados.

A Família sente-se insegura sobre o que fazer com os objetos pessoas, e há uma cobrança por parte da sociedade para que se livrem dessas coisas como se fosse uma maneira de se livrar da dor da ausência ou mesmo da saudade, como se fosse possível simplesmente esquecer a existência daquela pessoa e o que aconteceu. Nem sempre há consonância entre os membros da família sobre o que fazer com os pertence, e o ritmo individual deve ser respeitado até que se chegue a um consenso. Algumas famílias optam por se desfazer deles imediatamente após o enterro; outras mantém o armário, o quarto ou até mesmo a casa da mesma maneira por até alguns anos. Não há padrão nem receita de como deve ser, pois é preciso respeitar o ritmo da família em seu processo de luto.

Especialmente em perdas precoces e trágicas pode haver uma tendência a não voltar para casa onde aconteceu a tragédia, como forma de se livrar das lembranças, decisão ás vezes imposta pela família ampliada. Nesse primeiro momento, há tanta fragilidade que a família pode aceitar conselhos e diretrizes impostos por pessoas de sua confiança que sempre têm as melhores intenções, mas que facilitam o surgimento de mais rupturas, acentuando as perdas secundárias. Há o tempo certo para cada tarefa dentro do processo de elaboração do luto, que é único, e precisa ser construído pela família.

Por exemplo, um casal que perdeu seu único filho pode resistir em desfazer o quarto do adolescente com receio de perder as lembranças. Coisas aparentemente simples, como o cheiro, o jeito de arrumar a cama, a bagunça tão combatida em outros tempos, a disposição do material escolar, tudo se transforma em um modo de manter uma presença concreta, ao mesmo tempo em que marca saudade. Cada família encontra seu próprio meio de lidar com a perda e com as mudanças que ela provoca.

É difícil conciliar os ritmos individuais de luto e da família como um todo, e parece haver uma espécie de rodízio entre eles, sendo interessante observar o funcionamento de cada subsistema na tentativa de proteger o outro do sofrimento. Assim, pais escondem seus sentimentos evitando chorar na frente dos filhos, ou o contrário. Quando o pai está muito entristecido, é consolado pela mãe e pelos seus filhos. Quando a mãe está muito entristecida, é o pai e o outros filhos que a consolam. Quando é o filho que fica triste, os pais fortalecem se para que ele fique bem. Por isso, há uma tendência de sofrer isoladamente,

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