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Resenha Condenados da Terra, Frantz Fanon

Por:   •  26/9/2018  •  2.374 Palavras (10 Páginas)  •  662 Visualizações

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Isso porque as elites estenderão sua comunicação com a ex-metrópole. O que, embora Fanon caracterize como egoísmo, eu acredito ser justificável como fruto do próprio regime colonial. Ainda que sejam mais capazes de imaginar e entender o sistema colonial como um todo, não quer dizer que o façam. São mais ilustrados que a massa, mas assim o são porque foram educados pela Europa, uma Europa que condena sua existência e destino como inferior, perder o que se tem, gera medo. A elite valoriza é a presença ocidental em suas terras. Ademais, se o autor diz que as elites invejam o colono, a alienação do individualismo ocorre porque a presença desse colono gera mimetismo, vão procurar ter vantagens sob qualquer circunstância quando ocuparem o lugar da metrópole. A posição do livro é que a descolonização deve ser uma substituição de homens por outra “espécie” de homens. Não se pode haver transição. Quando a elite propõe que não haja rompimentos e sim uma comunicação e laços econômicos, ela entrava isso.

A diferença, em alguns casos, da dominação poderá ser reduzida ao simples fato de o país ter um líder, um presidente que seja recebido pelo presidente do país explorador por causa da posição de adoração da elite pelo estrangeiro. Durante o auge da descolonização, os burgueses atuam como mediadores deles e da massa, ajudam os europeus a não perderem a luta só porque foram expulso. A proximidade que cria com as massas é principalmente para ter algum controle sobre ela. Poder dizer pro estrangeiro que elite e europeus devem se juntar contra esse povo terrorista, que não discute valores e não negocia – diferente deles, que também querem a descolonização, ocupar o lugar dos colonos. Mas, não querem perder as tecnologias, os engenheiros, administradores.

Dizem aos europeus que devem fazer um acordo com a elite negra, sem sangue, antes que percam o controle sob as massas – sua influência era através da religião, do convencimento de que elite e povo eram iguais. Usavam dos meios de comunicação para enganá-los e acalmá-los. Diziam que elites internacionais deviam se unir para evitar que a nação africana convirja ao comunismo ou ateie fogo em tudo. O que não diziam, é que na verdade torciam pro conflito durar mais para terem mais tempo de barganha e discussão de reformas nos salários, nas liberdades de associação e imprensa. Assim, garantiam suas regalias. Elas, são educadas, pensam e agem como aprenderam com esses brancos estabelecerão laços políticos, econômicos com eles, permitindo que sua influência esteja no governo, quase que como se esses jamais houvessem saído. O ex-colono continuará, usando termo do autor, a “fazer” o ex-colonizado, malgrado o ímpeto da descolonização tenha sido criar novos homens.

Quando os brancos apareceram, mataram sincreticamente a sociedade autóctone, provocaram letargia cultural. A vida africana só ressurgirá se adubada com a morte do colono. As massas não querem nem negociar, nem competir com o colono, querem o lugar dele. Isso, na minha visão, pode ser dito da maneira com que as massas se sentem, porque na realidade não planejam suas ações em longo prazo. Elas agem como sentem necessário agir e a descolonização é um processo histórico, portanto, não é transparente a si mesma. As massas sabem o que não querem, mais do que o que querem. Não querem mais ser descritas e tratadas como animais, desumanizadas, reguladas pela religião, com complexo de frustração, de colonizabilidade, complexo belicoso. Assim, deixam de ser espectador das humilhações que o colono lhe causa e vão ser atores da sua reconstrução, com armas nas mãos e sem pretensão de parar antes de conseguirem.

A força para tanto, e a descoberta de que ela poderia, depois de anos de dominação, ser esse ator, vem de diversos fatores. Na história de cada país, o estopim é diferente, mas no cenário em geral pode-se listar como três impulsionadores desse fenômeno, a criação da Organização Nações Unidas (ONU), que servirá de defesa da soberania e autodeterminação dos povos; a emergência de superpotências no pós Guerra Fria, que não possuíam colônias e eram a favor da liberdade das colônias - incentivando-as a libertarem-se; e o movimento de Bandung que foi criado com fins a julgar as práticas imperialistas e desumanas dos colonos, com um tribunal de descolonização. Essa nova tendência mundial ameaçava o status quo dos europeus, em alguns casos se traduziu em respostas violentas, outros nem tanto. Mas, o resultado mais comum era os colonos agirem, em meio à bipolaridade mundial, para que se perdessem a colônia, que não perdessem para o socialismo.

Uma das maneiras de assegurar que isso acontecesse, também assegurando seu mercado e lucratividade, é dando às elites a extensão que já foi dito que elas queriam. Se o processo foge de seu controle, a ex-metrópole já tem conhecimento daquele povo – afinal, ela o fez -, e poderá desestabilizar aqueles que entravam seu sucesso. Pode nutrir as velhas confrarias e chefias, dividir o povo para enfraquecê-lo, reforçar ódios entre tribos. Influenciar os tomadores de decisões locais com as instruções que já lhes dera antes, mostrar seu mundo tecnológico e os convencer que tais avanços, sim, devem ser enaltecidos e a África não, porque é atrasada, porque não abre as portas para receber as “ajudas” que eles querem proporcionar.

Seguindo a lógica que os europeus emprestam aos negros, a troco do sangue dos africanos, a burguesia se consolida após a descolonização, mas termina com um fim em si mesmo. Ela não tem objetivos fortes, foco, nem dinheiro. O desenvolvimento do país será estagnado porque era produzido fora dele. Fanon propõe que não seria assim se a massa tivesse se reunido com as elites e ambas tivessem formado um Estado socialista. Arriscado ratificar esse pensamento, já que o socialismo requer uma distribuição de riquezas que os países saqueados pela ex-metrópole não possuíam.

Outra ideia do autor, importante pontuar por sua confusão é sobre a organização da frente revolucionária. Comumente as massas são frente de combate e excedendo-se nessa situação, serão negligenciadas no mundo colonial e após a descolonização. Em casos em que a massa consegue se organizar para formar um partido, não há negociação com o estrangeiro, este espera até que o outro se esgote para declarar o fim da luta. É difícil entender a posição do autor relacionada a essa possibilidade. Muitas vezes ele afirma que são raros esses casos e que a elite é sempre negligente e preguiçosa por não ajudá-los. Outra vez, diz que o individualismo, a subjetividade e o consumismo da elite vão ser desmontados quando ela conhecer as assembleias

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