Resenha - Casa-Grande & Senzala
Por: Jose.Nascimento • 28/11/2018 • 1.735 Palavras (7 Páginas) • 513 Visualizações
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Diante desse sistema, para o sociólogo a casa-grande venceu no Brasil a igreja, o jesuíta. Dessa forma o senhor do engenho ficou dominando a colônia quase sozinho, conquistou uma força política extrema dentro da sua fazenda, e se tornou o senhor absoluto inibindo até poder de bispos e dos vice-reis ali dentro. A casa-grande passou a representar um imenso poder feudal, porém com o passar das gerações, toda a solidez e arrogância de forma e de material se apodreceram por falta de potencial humano e falta de conservação. Em outras palavras, os netos e bisnetos dos senhores de engenhos encontraram todo aquele patrimônio construído e só se beneficiaram, não aprenderam a conservar o que herdaram e assim, o que sobreviveu nas casas-grandes foram às capelas.
Outro aspecto relatado pelo autor foi o costume de se enterrar os mortos nas capelas e com isso os mortos continuavam sobre o mesmo teto dos vivos. Além disso, não havia no Brasil antigo um distanciamento dos santos. O brasileiro como povo, nação ou ração se formou com uma religiosidade profunda, e se espremia numa grande proximidade entre as pessoas da casa e os santos. As mães encarregava São José de embalar o berço ou a rede da criança, a Senhora Sant’Ana de ninar os meninozinhos e era Santo Antônio que tinha que dar conta de objetos que eram perdidos. Grande símbolo do patriarcalismo foi à intimidade muito grande com os santos e com os mortos, entre as imagens dos santos havia fotos de avós e bisavós. Para aqueles indivíduos abaixo dos santos e acima dos vivos ficavam os mortos, que estavam ali presentes vigiando o mais possível à vida dos filhos, netos, bisnetos.
Além de fortaleza, capela, escola, oficina, santa casa, harém, convento de moças e hospedaria Gilberto Freyre fala que a casa-grande também exerceu a função de banco. A família patriarcal escondia dinheiro, jóias, ouro e outros valores nas grossas paredes, debaixo de tijolos ou mosaicos no chão. Também guardavam as riquezas nas capelas, enfeitando os santos, pois os ladrões naquela época, raramente ousavam entrar nas capelas e roubar os santos. Os senhores de engenhos guardavam assim as suas riquezas, e também as riquezas de outros que os senhores haviam se apoderado ilicitamente, dinheiro esse que padres, viúvas e até os escravos lhe pedia para guardar. Diante desse fato, muitos dessas pessoas ficaram sem suas riquezas, pois quando iam procurar com os senhores, eles se fingiam de estranhos e desentendidos. Sendo assim, muitos dessas pessoas e até os próprios herdeiros acabaram na miséria devido à esperteza ou a morte súbita dos senhores de engenhos.
Seguindo a trajetória traçada pelos patriarcas, Gilberto Freyre referencia uma sociedade extremamente violenta. Além de mandarem matar os escravos e enterrarem nas próprias casas, os senhores também mandavam matar os próprios filhos. O livro cita Pedro Vieira como um desses patriarcas, que já avô, mandou o filho mais velho matar o irmão porque ele mantinha relações com a mucama de sua predileção. Com a presença de tanta violência, mortes e riquezas escondidas, às casas-grandes acabaram mal assombradas. Eram almas penadas de senhores de engenho que apareciam pedindo padres-nossos e ave-marias, barulhos de louças, risos alegres e passos de danças, tilintar de espadas, luzes que se acendiam apagavam de repente por toda a casa, gemidos, rumores de correntes se arrastando, choro de meninos e outros. Segundo relatos os mal-assombrados costumam reproduzir as alegrias, os sofrimentos e os gestos mais característicos da vida que eles viveram.
Por fim Gilberto Freyre defende que em contraste com o nomadismo aventureiro dos bandeirantes os senhores das casas-grandes representaram na formação brasileira a tendência mais característica portuguesa no sentido de estabilidade patriarcal, essa apoiada no engenho (açúcar) e na senzala (escravos). Essa representação dita por Freyre é em sentido aos estudos de Cannon e Keith sobre as forças psicofisiológicas, suscetíveis que atuam sobre a sociedade, independentemente das pressões econômicas. Para o autor foi criado uma civilização mais estável na América hispânica em torno dos senhores de engenho, e esse tipo de civilização ilustra a arquitetura gorda e horizontal das casas-grandes, pois elas eram construídas com cozinhas enormes, vastas salas de jantar, numeroso quartos para os filhos casados, camarinhas no centro para a reclusão das moças solteiras e outras inúmeras características que demonstra essa civilização. E assim, se formou o estilo arquitetônico honesto e autêntico, brasileirinho da silva, diante do largo ritmo de vida patriarcal que os proventos do açúcar e o trabalho eficiente dos negros tornaram possível.
Mediante ao exposto, fica claro que o livro “Casa-Grande & Senzala” é uma das grandes obras nacionais que apresenta uma considerável contribuição para o entendimento de como ocorreu à formação da sociedade brasileira, mostrando o modo de vida da sociedade colonial, descrevendo os seus hábitos e costumes, expondo partes da história do Brasil. Mas é possível notar que Gilberto Freyre desenvolveu seu livro com uma perspectiva a partir da sua posição de homem branco e senhor. Ainda que ele tenha enaltecido a presença do Negro, sua nostalgia pela cultura patriarcal transparece sua posição social, pois este tempo foi muito difícil para a maioria dos brasileiros, principalmente para o Negro. Enfim, é um livro importante e muito útil para fortalecer nossa formação, principalmente nas questões nacionais, pois devemos ter orgulho da nossa identidade e da nossa mistura.
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