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Resenha e Análise da Peça "A Casa de Bonecas" de Henrik Ibsen.

Por:   •  22/3/2018  •  1.574 Palavras (7 Páginas)  •  374 Visualizações

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(p.93) HELMER: Você me amou como uma mulher deve amar o marido. Somente os meios você não conseguiu julgar direito. Mas pensa que o fato de você não saber agir por conta própria me faz querê-Ia menos? Não, não, confie em mim: eu a orientarei, serei seu guia. Deixaria de ser homem se essa sua falta de capacidade feminina não a tomasse duplamente sedutora aos meus olhos. Esqueça as palavras rudes que pronunciei nos primeiros momentos de temor, quando acreditei que tudo ia desmoronar sobre mim. Eu a perdoei, Nora; juro que a perdoei.

(p.94) HELMER(...)tente se acalmar, refazer-se dessa inquietação, minha avezinha amedrontada. Descanse tranqüila, tenho amplas asas para protegê-la. (Andando de um lado para o outro, sem se afastar da porta) -Ah, como o nosso lar é tranqüilo e encantador, Nora! Aqui você está segura! Eu a guardarei como a uma pomba que foi acolhida depois de ser retirada sã e salva das garras do abutre. Saberei aquietar o seu pobre coração palpitante. Conseguirei isso pouco a pouco, acredite, Nora. Amanhã você verá as coisas sob outro aspecto. Tudo voltará a ser como antes. Não precisarei dizer-lhe continuamente que a perdoei. Você sentirá isso em seu coração. Como pode supor que seria capaz de rejeitá-la, ou mesmo de a censurar? Ah, você não sabe o que é um verdadeiro coração de homem, Nora. Para o homem é algo indescritivelmente doce e prazeroso saber que no íntimo perdoou a mulher - perdoou-a completamente, de todo o coração. É como se ele tivesse criado o seu duplo; como se a tivesse dado à luz. Em certo sentido ela se torna igualmente mulher e filha. Assim a considerarei no futuro, pobre criaturinha assustada e desamparada. Não se inquiete, Nora; seja apenas franca comigo e eu serei a sua vontade e a sua consciência(...).

Nora então percebe a situação desigual em que vive pela superioridade do marido para com ela. Senta-se com ele e conta que está decidida então a sair de casa, explica-lhe o que há de errado nele lhe tratar como uma boneca, e por conseqüência ela tratar suas filhos da mesma forma. A injustiça que lhe impuseram ele e seu pai, ficando incapaz de ser vista como uma mulher que poderia ajudar com assuntos de trabalhos ou tarefas mais difíceis, ela pontua eles nunca tinham sentado para discutir um assunto sério em oito anos de casamento, e que em todo esse tempo ela também acreditou nessa imposição, mas que agora queria pensar em si mesma para poder evoluir e centrar-se, descobrindo e se encaixando nos próprios padrões, em seus próprios princípios, que foram retardados pela sua colocação social, sem se importar com o que pensariam os outros, ainda assim ele impõe a ela uma imagem a cumprir:

(p. 98) Helmer– Antes de mais nada você é esposa e mãe.

Nora– Já não creio nisso. Creio que antes de mais nada sou um ser humano, tanto quanto você…ou pelo menos, devo tentar vir a sê- lo. Sei que a maioria lhe dará razão, Torvald, e que essas ideias também estão impressas nos livros. Eu porém já não posso pensar pelo que diz a maioria nem pelo que se imprime nos livros. Prefiro refletir sobre as coisas por mim mesma e tentar compreendê- las.

Ela então deixa o marido e os filhos afirmando precisar de um milagre para que ocorra um possível reconciliamento, pois o casamento dos dois não passava de “ilusão”.

Comentário:

Como já citado a peça acontece e é montada pela primeira vez no sec. XIX, ela recebeu muitas criticas por passar por cima dos “valores da família” na visão social da época, mas visivelmente tal interpretação foi um critica de enorme importância para acordar a sociedade as situações de relacionamento abusivo que vivenciavam em seu cotidiano e achavam “normais”, minimizando suas mulheres, tal visão é de enorme importância para o caminhar histórico feminista.

Ao terminar de ler a peça, ao meu ver, parecia ter outra saída, evitando deixar os filhos e o esposo, mas através de pesquisas pude ler a história real em que Ibsen se inspirará, onde pelo ato da esposa o marido se divorcia, tirando dela os filhos, fazendo com que a mesma fosse parar em um hospício, me fazendo perceber que a realidade poderia ser bem pior que a trama, sendo o final apresentado extremamente necessário.

Acredito que este seja um exemplo de peça atemporal, sendo uma peça de vocabulário simples e mensagem direta, sua remontagem nos faria refletir até nos dias de hoje, a situação que já passou e o que ainda passa a mulher, limitada pelos padrões e imposições sociais.

Curitiba

2016

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