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O Ambientalista Científico

Por:   •  9/4/2018  •  2.208 Palavras (9 Páginas)  •  257 Visualizações

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Na Parte V segue tratando de outras questões ambientais da atualidade e problemas de longo prazo. Aborda a questão das substâncias químicas e dos pesticidas em sua ligação com o suposto crescimento dos casos de câncer a nível mundial. Afirma, com base em dados estatísticos analisados critica e contextualmente, que não há efetivo crescimento, a não ser em alguns casos em números absolutos, da incidência de câncer na população mundial. Ademais, a relação entre produtos químicos e pesticidas e o câncer seria outro mito que não se sustenta em dados científicos concretos. Em alguns casos de aumento da incidência do câncer, na realidade a pesquisa científica criteriosa apontaria como causas outros fatores como o fumo, o aumento do número de mulheres que não procriam ao longo de suas vidas ou que chegam a procriar numa idade mais avançada devido à nova conformação social na qual as mulheres se dedicam não somente a uma família, mas também a carreira profissional, dentre outros fatores diversos dos agentes químicos e pesticidas que, percentualmente, seriam muito mais cancerígenos. Também procura desmentir o prognóstico de extinção de espécies em uma escala devastadora, demonstrando que tal processo seria bem mais lento do que afirmam a maioria dos ambientalistas. Ademais, aduz que a extinção faria parte de um processo natural, o qual já acontecia inclusive antes do aparecimento do homem sobre a face da Terra. Finalmente, aborda a questão do “buraco de ozônio” e do aquecimento global. Mais uma vez apresenta dados estatísticos, alegando alarmismo por parte dos ambientalistas. Procura sopesar a viabilidade econômica de medidas que alterem os atuais modelos produtivos, afirmando que uma alteração brusca nesse campo seria impraticável e ocasionaria mais danos do que benefícios. Avalia ainda que o processo de aquecimento global não seria tão danoso e a tão curto prazo conforme vem sendo apregoado, de maneira que o aumento ligeiro de temperatura poderia ocasionar até mesmo certos ganhos em alguns aspectos, como aumento da produção de alimentos em certas áreas, melhorias na saúde com referência a moléstias ocasionadas pelo frio etc.

A Parte VI finaliza a obra, operando um apanhado conclusivo dos temas enfocados e reforçando a teoria do autor quanto ao alarmismo baseado em mitos que configuraria uma verdadeira “ladainha ambientalista”. Lomborg apregoa a necessidade da tomada de decisões com base em informações sólidas, cientificamente comprováveis, de forma a propiciar uma escolha racional de opções que produzam o máximo de bem – estar e efeitos ambientais otimizados. Destaca o fato de que jamais decisões tomadas com fulcro em mitos, mentiras, medos infundados, poderão ser produtivas, muitas vezes operando efeitos inversos aos pretendidos. Em diversos casos, face à limitação dos recursos disponíveis, seria preciso proceder a priorizações e estas devem ser levadas a efeito com assento em dados confiáveis e concretos. A frieza que muitas vezes aparenta a escolha dessas prioridades em detrimento de outras é indispensável. A única diferença, segundo Lomborg, é que, sem bases sólidas, falsas prioridades podem ser colocadas no lugar das verdadeiras, com graves prejuízos para a humanidade e o próprio planeta. Duas assertivas do autor nessa parte final do seu trabalho parecem sumariar seu ponto de vista: “O ponto central persiste: se quisermos tomar as melhores decisões para o nosso futuro, não devemos basear as nossas priorizações no medo, mas em fatos. Assim, precisamos confrontar os nossos medos; precisamos desafiar a ladainha”[1]. E mais adiante: “No todo, acho importante enfatizar que um otimismo excessivo pode ter seus custos, mas um pessimismo exagerado também sai caro”.[2]

O trabalho de Lomborg surge como um importante contraponto para as teses ambientalistas, promovendo uma crítica calcada na necessidade de que todas afirmações sejam cientificamente comprováveis e falseáveis. Trata-se de uma obra que foge dos moldes corriqueiros no trato da matéria ambiental, propiciando o debate e a revisão do pensamento e não somente a repetição de idéias assentadas e acomodadas.

Por outro lado a argumentação de Lomborg também não é intocável. Uma característica bastante presente em seu trabalho é a ênfase sempre dada aos critérios econômico – financeiros em detrimento das questões humanas e referentes à vida em geral (demais seres vivos). O autor não leva em consideração, talvez por sua origem de um país de primeiro mundo, o problema da desigualdade na distribuição dos “benefícios” do crescimento econômico e tecnológico. Parece em seu texto que as descobertas científicas no campo da medicina, da tecnologia; o enriquecimento global, seriam algo que simplesmente passaria para toda a população humana de forma senão igualitária, algo equânime. Nós brasileiros sabemos muito bem que nada disso corresponde à realidade e que o chamado “desenvolvimento ou crescimento econômico” não é sinônimo de prosperidade para todos, senão para uma limitadíssima parcela privilegiada. Nesse passo, pode-se dizer que o título da obra poderia bem ser alterado de “O Ambientalista Cético” para “O Capitalista Cínico”.

De qualquer forma a obra propicia um confronto entre certo otimismo quanto à atual situação mundial sob o enfoque ambiental e o pessimismo catastrofista que impregna muitos setores ambientalistas. Em meio a esses pólos opostos oportuna é a lembrança de Sagan quanto às histórias de Creso, rei da Lídia e Cassandra, Princesa de Tróia:

Cassandra era filha do rei Príamo e o deus Apolo apaixonou-se por ela. No entanto, ela não lhe correspondeu. Apolo então tentou suborná-la. Como não lhe poderia ofertar bens materiais, já que era filha de um rei muito rico, concedeu-lhe o dom da profecia. Ela aceitou, mas quando deveria cumprir sua parte do trato, entregando-se a ele, negou-se terminantemente. Isso ocasionou a fúria de Apolo, o qual não lhe retirou o dom concedido, mas agiu de forma bem mais astuciosa. Decretou que ninguém iria acreditar em nenhuma profecia de Cassandra. Realmente ela prediz diversos eventos danosos a seu povo e é sempre desacreditada, de modo que vive o constante desespero de saber sobre as catástrofes e nada poder fazer para impedir. Seu contemporâneos pereciam, sofriam graves danos porque simplesmente ignoravam suas corretas predições.[3]

A história de Creso é semelhante, mas inversa. Esse rei teria mandado emissários consultarem o oráculo de Delfos sobre a conveniência de invadir e subjugar a Pérsia. Os emissários indagaram à Pítia: “O que acontecerá, se Creso declarar guerra à Pérsia? E a Pítia respondeu: “Ele vai destruir um poderoso império”. Comunicado

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