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ALFAZENDO: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO POPULAR EM CIDADE DE DEUS

Por:   •  16/10/2018  •  5.426 Palavras (22 Páginas)  •  269 Visualizações

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A busca de o tema gerador objetiva explicitar o pensamento do homem sobre a realidade e sua ação sobre ela, o que constitui a sua práxis. Na medida em que os homens participam ativamente da exploração de suas temáticas, sua consciência crítica da realidade se aprofunda.

A busca da temática implica busca do pensamento dos homens, pensamento este que se encontra somente no meio deles, os quais, reunidos indagam a realidade. A posição interacionista de Freire é bastante clara: os homens, enquanto seres em situação, encontram-se imersos em condições espaço-temporais que neles influem e nas quais eles igualmente influem, constituindo o desenvolvimento nesta interação construtivista.

Utilizando situações vivenciais do grupo, e forma de debate, Paulo Freire delineou uma concepção de alfabetização, que tem como características básicas: ser ativo, dialógico e crítico. Criar um conteúdo programático próprio, e usar técnicas tais como redução e codificação.

O diálogo implica relação horizontal de pessoa a pessoa, sobre alguma coisa, e nisto reside o novo conteúdo programático da educação. A palavra é vista em duas dimensões: a da ação e da reflexão. Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí se afirmar que dizer a palavra verdadeira consiste em transmitir o mundo e em transformá-lo.

A palavra destituída de ação transforma-se em verbalismo. Quando, porém, se enfatiza a ação sem reflexão, a palavra se converte em ativismo. E a ação pela ação, ao minimizar a reflexão, nega a práxis verdadeira, impedindo o diálogo. Qualquer destas dicotomias gera democratização e implica (Maciel, 1963, p.30): “igualdade ontológica de todos os homens, acessibilidade ilimitada ao conhecimento e a cultura e a comunicabilidade ilimitada do conhecimento e da cultura. ”

É a partir da consciência que se tenha da realidade que se irá buscar o conteúdo programático da educação. O diálogo da educação como prática de liberdade é inaugurado no momento em que é realizado o que Paulo Freire denomina de universo temático do povo ou o conjunto de seus geradores. A investigação deste universo temático implica uma metodologia que não pode contradizer a dialogicidade da educação libertadora. Sendo dialógica e conscientizadora, proporciona não só a apreensão dos temas geradores, mas a conscientização destes.

As reflexões de Paulo Freire sobre alfabetização de adultos implicam nas seguintes etapas no processo: 1. Do universo vocabular dos grupos com que se trabalha se escolhe as palavras geradoras; 2. A criação de situações existenciais típicas do grupo que está sendo alfabetizado; 3. A criação de ficha-roteiro e elaboração de fichas de decomposição das famílias fonéticas correspondentes aos vocábulos geradores; 4. E ficha de descoberta, contendo as famílias fonêmicas, que são utilizadas para a descoberta de novas palavras com aquelas sílabas. Assim, podemos concluir que “Alfabetizar é ensinar o uso da palavra” (FREIRE, 1987, pg.05).

Na etapa de alfabetização, a educação problematizadora busca investir na palavra geradora e na pós-alfabetização, nos temas geradores. Apesar de intimamente ligada à educação de adultos, o processo de alfabetização na abordagem de Paulo Freire considera a educação como um processo contínuo, de tomada de consciência e de modificação de si próprio e do mundo:

Ao objetivar seu mundo, o alfabetizando nele reencontra-se com os outros e nos outros, companheiros de seu pequeno “círculo de cultura”. Encontram-se e reencontram-se todos no mesmo mundo comum e da consciência das intenções que o objetivam, surge a comunicação, o diálogo que criticiza e promove os participantes do círculo. Assim, juntos, re-criam criticamente o seu mundo: o que antes os absorvia, agora podem ver ao revés. No círculo de cultura, a rigor, não há professor, há um coordenador. Que por função dar as informações solicitadas pelos respectivos participantes e condições favoráveis à dinâmica do grupo, reduzido ao mínimo sua intervenção direta no curso do diálogo” (FREIRE, 1987, pg. 06).

A verdadeira avaliação do processo consiste no auto-avaliação e/ou avaliação mútua e permanente da prática educativa por professor e alunos. Qualquer processo formal de notas, exames etc. deixa de ter sentido em tal abordagem. No processo de avaliação proposto, tanto os alunos como os professores saberão quais suas dificuldades, quais seus progressos. ‘’A avaliação é da prática a educativa, e não de um pedaço dela’’ (Freire, 2006, p.94).

CAPÍTULO 02: Grupo ALFAZENDO: História e Concepções Político-Pedagógicas

2.1 Breve histórico do ALFAZENDO

Quando olhamos a realidade que nos cerca e assumimos para tanto aquela perspectiva que nos é própria, ou seja, a de educador, fica impossível não nos envolvermos em situações pontuais e tentarmos, mesmo sem muitas ferramentas, mas impulsionados pela inconformidade, o desejo de mudança; a esperança de realizar ações concretas e assim proporcionar um mundo melhor a nossa volta. O Projeto idealizado por Pablo das Oliveiras[2] e desenvolvido junto com outros educadores locais, no ano de 1998, se estrutura por essa perspectiva de ação de educação popular local.

A motivação inicial desse educador se deu pelo fato de que sua mãe, mesmo conhecendo as primeiras letras, nunca abandonou seu desejo de aprender a ler e escrever de forma mais plena. Em 1997, aos 73 anos, ela ainda reclamava a falta de apoio para desembaraçar a sua escrita e leitura. Mobilizado por essas questões, Pablo buscou entre amigos e militantes a parceria e cooperação para formar um grupo de estudo, ação e formação de educadores: o Núcleo de Alfabetização ALFAZENDO, inspirado nas palavras de que toda prática educativa demanda a existência de sujeitos em que, ensinando aprende, e outra que, aprendendo ensina.

O Grupo ALFAZENDO é formado, em seu nascedouro e atualmente, por educadores e moradores que atuam no movimento social em Cidade de Deus. Seu objetivo principal é a transformação da realidade social através de iniciativas educacionais e culturais, buscando por meio de diferentes ações a possibilidade dessa população se conhecer, entender seu papel histórico e analisar sua realidade em outro foco além daquele que o indivíduo foi condicionada a viver por imposição das desigualdades sociais.

Um grupo de amigos[3] (educadores de diversas áreas) se juntaram e começaram a investigar autores, metodologia, espaços e suas ferramentas para desenvolver um trabalho concreto de alfabetização.

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