A Linguagem e Comunicação
Por: Evandro.2016 • 4/12/2018 • 4.226 Palavras (17 Páginas) • 287 Visualizações
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Quando criança, não sabia que era surda (parcial) por que era difícil alguém conversar com a mesma e os familiares pouco conversavam, mas quando eles falavam de frente apontando o que eles queriam ela os entendia. Logo em seguida, em uma brincadeira de "pau-a-pique" descobriu que era diferente das outras crianças, pelo fato de sempre ficar contando e as crianças baterem no "pique". Então ela começou a querer saber o que era de estranho com ela, olhava dos pés à cabeça e não via diferença, até que se lembrou que na escola quando o professor falava com aluno, ele mexia a boca e com ela não acontecia isso.
Até que com cinco anos mudou se de casa novamente, por sorte encontrou uma vizinha que gostava de brincar de escolinha. A vizinha apontava figuras e logo em seguida falava os nomes, no começo foi difícil distingui-las. Pois não entendia que cada pessoa e objeto tinha nome, o difícil foi usar tantas palavras que tinha aprendido a falar com a boca e fazer uso destas no dia-a-dia. Como um dia em que viu uma cobra e começou a gritas "Homem" sem parar.
Ângela, foi uma prima-irmã, elas tinham uma ligação muito forte, Shirley relata que até conseguia ver pelos seus olhos sua expressão. Passavam 24 horas juntas, Ângela era o seu meio de comunicação com outras pessoas. Quando se mudou de escola, na primeira série foi para uma sala diferente da de Ângela e perdeu muito a nível de comunicação com a separação, assim teve que buscar outros recursos.
Shirley teve que aprender a se comunicar com a professora, tudo que ela não entendia pedia para a professora explicar em outras palavras, mas quase todas as palavras que ela apresentava continuavam sem imagem, sendo assim não conseguia entender o que a mesma dava referência. Por exemplo, ela podia até saber o nome de um objeto, mas não fazia relação ao seu significado real e nem sabia a sua utilidade. Um certo dia a professora brincando com os alunos como se tivesse avaliando a visão e a audição e numa dessas brincadeiras Shirley se deu conta que eu não ouvia barulhos e sim sentia as vibrações. Por exemplo, ela não sabia diferenciar se era carro ou moto, ou uma panela que caía ou um copo que quebrava. Muitas vezes os colegas não a aceitavam porque tinham receio que a surdez pegasse como uma doença contagiosa, eles tinham medo até de falar com ela. Nessa fase dentro ela tinha um desejo de estar numa escola onde as pessoas fossem surdas iguais a ela, pois sentia que não havia comunicação entre a mesma ao os colegas e sentia-se isolada.
A autora relata que a insegurança acadêmica no Ensino Fundamental foi muito marcante, por aprender a ser copista sem saber o significado da língua escrita. E ficava nervosa na hora da leitura, pois tudo que a professora explicava ela não entendia e as colegas explicavam tudo novamente até entender, iam falando no sentido concreto das palavras ou com apoio de alguns sinais ou até mesmo usavam mímicas para a melhor compreensão. O que mais gostava era o esporte e o teatro, porque não precisava da comunicação oral e sim corporal.
Muitas vezes quando Shirley falava com alguma pessoa elas perguntavam porque ela falava diferente, se tinha língua pregada ou não, ou mesmo de que país eu era, mas ela sempre procurou explicar que era surda e se comunicava com as pessoas fazendo leitura de palavras faladas ou a conhecida leitura labial ou orofacial.
Uma criança surda até certa idade, não sabe que é surda. Ela vive naturalmente com as outras crianças e com o decorrer do tempo, ela passa a perceber através dos movimentos dos lábios e das expressões que existe uma comunicação, que ela é diferente e não faz uso destes mesmos movimentos para se comunicar. Aos poucos ela nota que a face, ou sejas as expressões é a fonte da comunicação. Então, seus olhos procuram sempre “ouvir” pela expressão como as pessoas estão se comunicando ou se expressando. Como por exemplo, os movimentos dos lábios e as expressões que ela elabora uma leitura, ou seja, "pistas".
Com doze anos Shirley não sabia a existência de aparelho amplificador sonoro, até conhecer um senhor que tinha um e a falou que ele ouvia bem com o aparelho. Shirley pediu então se podia falar para o amigo dele que vendia ir na casa dela. Não sabendo foi compreendida, um certo dia o vendedor chegou à casa da mesma, colocou um aparelho para teste e ela conta que foi uma descoberta incrível apesar do susto, pois conseguiu ouvir os sons antes nunca ouvidos. Assim ficou apenas 15 dias com o aparelho, além de não se adaptar, tinha vergonha, por conta as brincadeiras ofensivas das pessoas. Apesar do pouco tempo conseguiu descobrir o som de muitas coisas.
Com relação aos significados dos sentimentos, das coisas, das pessoas, das palavras e das ações eram muito difíceis para ser entendidos, pois muitos fatos e pouco entendimento do que estava acontecendo tornavam dias de Shirley mais longos. Ela se lembra que o sentimento de felicidade era o mais presente, sempre estava sorrindo e agradecendo as maravilhas que existiam ao seu redor apenas vendo e fazendo a formação do mundo pelos olhos. Depois de um tempo que foi descobrir que os sofrimentos das pessoas chegavam pela audição.
Depois de terminar o ginásio, a autora começou o magistério, fala que sentia vocação para ser professora, em busca do sonho os colegas e professores a ajudavam. Além da ajuda dentro o âmbito escolar, Shirley contava com a ajuda do padrasto que se preocupava muito com ela e a família. Ele a trazia muitos livros e ia explicando cada palavra que a mesma não entendia. Compassar do tempo ela foi lendo melhor, começou a interpretar textos e fazer algumas atividades sozinha.
Além dos aprendizados os conselhos de seu padrasto eram todos escritos e muito otimistas, sempre a mostrava que eu poderia ser alguém que sonhasse ser, que poderia conseguir o que quisesse na vida, e poderia emocionar as pessoas mais tarde com que a almejasse. Em uma viagem a São Paulo, na volta Shirley pensou muito no que viu, mas não contou para ninguém e como tinha aprendido com o padrasto a importância de registrar o que passava, ela registrou algo interessante sobre São Paulo que a mesma compartilhou no livro.
Ao estar na comunidade surda, Shirley precisou renascer, pois aquele medo das pessoas sumiu e os significados das coisas começaram a aparecer. Ficou ainda melhor quando descobriu e teve a compreensão do que o padrasto havia a ensinado sobre encontrar um mundo melhor, procurando ser cada dia melhor e foi isso que ela encontrou na comunidade surda. A Língua de Sinais, possibilitou seu desenvolvimento cognitivo favorecendo o seu acesso a conceitos e conhecimentos que se
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