Heart Of Darkness - Resenha

...

Embora este modo de narrar seja de fato extremamente inovador à época tendo seus pontos fortes, não é perfeito; uma das grandes desvantagens oriundas deste processo de sobreposição de planos e não confiabilidade do discurso, junto a digressões e devaneios dos narradores, é de que isso leva o leitor à confusão dos discursos, principalmente pelo fato de toda narrativa utilizar apenas aspas para demarcar os diálogos. Assim, fica difícil a separação clara de quem está falando, ou seja, se é uma transcrição de um diálogo dentro da desventura africana, a fala de Marlow, a fala de um dos tripulantes ou a do narrador não identificado; esta situação é ainda agravada pelo fato dos parágrafos serem excessivamente longos devido aos devaneios e filosofares de Marlow, retirando a atenção da história em si e deixando o leitor ainda mais deslocado.

Outro feito marcante atribuído ao livro de Conrad é a análise de como o empreendimento colonial na África foi custoso e desvantajoso aos europeus, o que fica claro através da análise minuciosa da história “contada” por Marlow e suas reflexões; que ao chagar no interior da África não vê qualquer esforço para realmente civilizar a população local (totalmente reprimida e submissa) e os gastos de dinheiro, material e pessoas realizados para atingir objetivos fúteis, tendo muitos dos colonizadores morrido, assassinados ou devido a doenças. A crítica não é direta nem explícita, ela exige um esforço do leitor que deve analisar cuidadosamente tudo o que é narrado para que tenha efeito; talvez seja este o reflexo do contexto no qual o livro foi publicado, dado que Conrad o fez durante a vigência do colonialismo europeu sob solo africano, exigindo um tom crítico velado, obtido apenas através da análise atenta de uma personagem rebaixada (marinheiro) inserida numa conversa aparentemente casual com seus companheiros, escondendo o tom crítico dentro de digressões e devaneios sobre desventuras em território “hostil e desconhecido”.