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Carnavalizção: O retrato de um homem ridiculo

Por:   •  27/10/2018  •  3.643 Palavras (15 Páginas)  •  317 Visualizações

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Bakhtin ressignifica a noção de gêneros do discurso, retirando-a do domínio da arte e de uma tradução formal para introduzi-las nos seios das relações sociais, articulando-as às situações de interações sociais das diferentes esferas da comunicação social. Porém, devemos levar em consideração a diferença entre o gênero primário (simples) e o gênero secundário (complexo).

De acordo com Bakhtin (2003, p.282):

A distinção entre gêneros primários e gêneros secundários tem grande importância teórica, sendo esta a razão pela qual a natureza do enunciado deve ser elucidada e definida por uma análise de ambos os gêneros. Só com esta condição a análise se adequaria à natureza complexa e sutil do enunciado e abrangeria seus aspectos essenciais.

Seguindo a premissa de Bakhtin (2003, p.282) que o gênero primário intercala diretamente e indiretamente com o gênero secundário.

Os gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gêneros secundários, transformam-se dentro destes e adquirem uma característica particular: perdem sua relação imediata com a realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios.

O objeto de estudo deste trabalho é analisar um gênero discursivo transmutado, ou seja, ao fazer a análise na obra de Doistoiévski pelo viés de um curta metragem, à luz da teoria bakhtiniana, trabalhando com o gênero primário, que é o texto simples e com o gênero secundário, que já é uma abordagem diferenciada do texto simples como exemplificação disso o produtor, Alexandr Petrov baila com intertextualidade da enunciação de “O sonho de um homem Ridículo” de Doistoiévski, utilizando a plataforma cinematográfica e os recursos que essa disponibiliza, criando um gênero discursivo novo e atraente.

3.2 SATIRA MENIPEIA

Conforme Bakhtin diz em Problemas da Poética de Dostoiévskvi (2010), a antiga sátira menipeia remota a antiguidade, a partir de então, formaram-se e desenvolveram-se vários outros gêneros seguindo a premissa de “discursos socrático”, estes gêneros seguindo um campo da literatura em que os antigos nomearam de sério/cômico.

De acordo com Bakhtin o gênero menipeia é um desdobramento da voz que enuncia, trazendo consigo formas de enunciação diversificadas e diferentes do que é convencional a época. Partindo desse postulado Bakhin (2000, p.118) citado por MEDEIROS, Marcos(2015) em seu artigo Paródia/Carnavalização:

Algumas características das menipéias são: a) Ousadia, na ruptura com o real, na modificação temática dos gêneros considerados sérios. Os heróis da menipéia sobem aos céus, descem ao inferno, transitam por ignorados países fantásticos e são colocados em situações fora do comum. As aventuras se passam nas grandes estradas, bordéis, nas tabernas, nos covis de ladrões, prisões etc. b) também aparece na menipéia toda natureza de insensatez, da dupla personalidade, de paixões limítrofes com a loucura c) A menipéia é repleta de intensas oposições e contrastes. O imperador convertido em escravo, a decadência moral e a purificação, o luxo e a miséria, o bandido nobre etc.

O conceito da sátira menipeia consiste na diferenciação do trágico e do cômico no mundo, ou seja, a menipeia brinca com o paradoxo utópico de sociedade, que apenas é possível no gênero sátira, em que essa dialoga com os opostos ridicularizando as ações da sociedade, sendo assim o gênero sátira utiliza de um tom irônico para tratar de temas como morte e vida, amor e ódio, bem e o mal, hierarquização, sonhos, carnavalização.

Segundo MEDEIROS (2015) “a narrativa menipeica também se liberta da verossimilhança, deixando voar solta a inventividade fantasiosa.” A narração menipeica, fantástica, busca uma realização de verdade, ou seja certos costumes vangloriados pela sociedade e que são colocados como primordiais para a existência humana, sendo que não o são, a sátira menipeica os trazem para a imoralidade do mundo humano com personagens em bordéis, prisões imundas, loucos, etc.

A menipéia não tenta reconciliar os paradoxos, simplesmente faz com que eles brinquem entre si, e que se mostrem plurissignificativos. A menipéia não é tão arcaica, não remonta ao período Clássico, a sátira menipeica é viva e atual e corresponde aos fatos vividos e vivenciado por nós, no contexto em que estamos inseridos. O fato é que, a arte da menipéia não traduz os fatos como eles são, ela parodia os fatos, transmutando-os a outros fatos, ironizando, problematizando ou até mesmo contestando.

De acordo com Bakhtin, podemos perceber essas traços menipeicos nas obras de Doistoiévski.

Em essência, as peculiaridades da menipeia (com as respectivas modificações e complexificações, evidentemente) encontramos em Dostoiévski. Trata-se, efetivamente, do mesmo universo de gênero, observando-se, entretanto, que na menipeia [antiga ou archaica] ele se apresenta na etapa inicial de sua evolução, ao passo que em Dostoiévski atinge o apogeu (BAKHTIN, 2010, p. 138).

4 CARNAVALIZAÇÃO

A teoria da carnavalização foi apresentada pela primeira vez pelo escritor Bakhtin, em Problemas da Poética de Doistoiévski, o autor nos mostra que o processo de carnavalização consiste em trazer as influencias epistemológicas do carnaval juntamente com as variações de suas festividades para a construção de sentido, levando em consideração os papeis sociais invertidos. O carnaval, em seu sentido literal, não é literário. A construção de sentido que é feita, é transmutada para o discurso, quando Bakhtin cria a Teoria da Carnavalização.

Para Bakhtin:

O carnaval é um espetáculo sem ribalta e sem divisão entre os atores e espectadores. No carnaval todos são participantes ativos, todos participam da ação carnavalesca. Não se contempla, e em termos mais rigorosos, nem se representa o carnaval, mas vive-se nele, e vive-se conforme as leis enquanto estas vigoram, ou seja, vive-se uma vida carnavalesca. Esta é uma vida desviada da sua ordem habitual, em certo sentido é uma ‘vida às avessas’ um ‘mundo invertido’. (BAKHTIN, 2005, p. 122-123)

A festa do carnaval, segundo Tales Pinto tem origem na antiguidade, nas civilizações mesopotâmicas, gregas e romanas. A festa consistia na destronação do rei, onde o mesmo perdia seus poderes e era satirizado pelo povo, logo após depois retornava ao trono. Uma variação foi introduzida ao carnaval, a máscara. Sua materialidade é irrelevante, porém

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